…mas nós sentimos muito a sua falta e tudo parece triste e sombrio…| De Lucia Purim para Reynaldo Purim – 1926 –

27 de julho de 1926
Querido irmãozinho!
Saudações!

Recebemos as seguintes cartas: a minha que você escreveu em 14 de julho e a do Arthur que você escreveu no dia 23 também de julho. Estas vieram muito rápidas e é raro chegar assim imediatamente. Aquela que veio como resposta ao telegrama ficamos tristes por ter que mandar uma mensagem tão triste. A primeira idéia era de não mandar telegrama nenhum, mas depois acertamos que seria melhor informar já de uma vez, porque de qualquer modo mais cedo ou mais tarde irias receber a carta informando do triste fato, então porque adiar. O telegrama foi mandado dia 10 e demorou muito para chegar lá. Nós também ficamos muito tristes e perturbados, mas tudo aconteceu quando ninguém estava esperando, mas a Palavra de Deus que todos devemos estar preparados por que ninguém sabe o dia que a morte vem e bem aventurado aquele que está preparado.
Nós naquela manhã não imaginávamos que noite nos tínhamos que nos separar da Olga, pois ela não sentia dor nenhuma e somente tinha a respiração difícil. Ela ainda pela manhã falou: Tu ainda queres viajar para o Rio, mas eu vou é para casa… Isso por que nós alguma vez planejávamos ir visitar você isto é enquanto você ainda estivesse ai no Brasil. Isto seria se a gente pudesse e tivesse condições, mas na prática sabíamos que nós não tínhamos as condições, pois a nossa vida aqui não permitia, mas conversar e planejar isto nós podíamos. Nesta última semana ela falava muito sobre você, sobre os tempos passados o que fazíamos e como vivíamos. Dizia ela e agora ele vai para tão longe e certamente eu não vou ter oportunidade de encontrá-lo novamente apesar de eu sempre tentar reanimá-la dizendo que logo que voltares da América virás direto para casa então poderemos viver longo tempo juntos e não deixaremos ir embora tão cedo, como no tempo que você tinha que voltar para a escola. Mas Deus não quis assim e levou-a para o Lar Celestial e quando tornarmos a nós encontrar então, aí, nós não separaremos jamais. Por que aqui não é o nosso lar e somos como estranhos e peregrinos a caminho da Canaã Celestial. Ela está muito bem, mas nós sentimos muito a sua falta e tudo parece vazio, triste e sombrio. Nos últimos tempos ela nada podia fazer, mas pelo menos era uma boa companhia e agora não está mais.

O Arthur mandou a carta em 19 de abril, mas ela já estava escrita dias antes, mas naquela semana começou uma grande chuva e um vento gelado. Começou a chover na terça feira dia 14 e choveu até o sábado. O frio era tão violento que a gente parecia que não poderia agüentar. Nas Serras as montanhas ficaram brancas cobertas de neve por mais de uma semana. Os serranos falavam que a camada de neve era tão grossa que chegava até a barriga das mulas. Esperávamos grandes geadas aqui, mas não aconteceram e quando o tempo melhorou aí também esquentou. É por isso que o Arthur demorou em enviar a carta por que para Orleans ninguém podia ir. Eu também não escrevi por que eu fiquei tão perturbada que não podia escrever nem a noite pensar. Desde há duas semanas antes do falecimento da Olga eu estava tão cansada e perturbada devido à tensão e não sentia vontade de comer, a cabeça doía muito e também as costas e eu cheguei a pensar que não conseguiria superar tantas tristezas, mas o Senhor ajudou e agora estou perfeitamente saudável. Estou somente bastante nervosa e qualquer movimento mais brusco me deixa perturbada. Fora isto estamos todos bem de saúde e ninguém ficou de cama por estes dias. Serviço nós temos demais agora nós estamos colhendo o milho, este ano a colheita será menor por que não cresceram bem e também há muitos ratos. Se alguma espiga foi derrubada no chão por qualquer razão sem dúvida, ela estará roída, mas vai dar para passar o ano. Os porcos estão sendo engordados com mandioca, qual nós temos bastante. A farinha de mandioca já terminamos de fabricar. Rendeu mais de 50 sacas. Os preços da farinha é que não estão bons e às vezes os homens das vendas nem querem comprar. Polvilho também vamos ter bastante, pois os cochos e as barricas estão cheios. Não puderam ser secos por que o clima não tem ajudado. Pois o tempo continua chuvoso.
O Carlos Leiman chegou dia 3 e foi embora para Mãe Luzia no dia 12. Ficou aqui em casa e deu para conversar bastante. Prometeu escrever para você. Dirigiu vários cultos e realizou Batismos no dia 11 de manhã na fazenda dos Frischembruder, por que devido à venda da terra dos Osch onde eram normalmente realizados os batismos foi vendida para um italiano onde ninguém gostaria de ir e é provável que não autorizasse. Na noite de sábado dia 10 foi realizada uma Sessão na Igreja quando foram aceitos os seguintes novos membros: Klara Sahlit, Kornelija Balod, Harri Auras e Willis Leepkaln e os batismos foram realizados na manhã do domingo pelo Pastor Carlos. Os Sermões eu não vou transcrever desta vez, talvez em outra.

Há pouco tempo recebemos carta do Fritz e do Arthur [Frederico e Arthur Leiman da Argentina]. O Arthur escreve que virá para o Natal para vender a terra.. O Fritz diz que esqueceu o teu nome senão ele escreveria para convidando para você ir para Argentina trabalhar. Ele garante que tem muito trabalho e pão macio para comer. Diz que você pode ir sem medo, pois ele precisa muito de trabalhadores.
Quanto àquela compra do terreno dos Leiman, não chegamos a nenhuma conclusão definitiva. Se vender aqui e comprar lá ou senão só comprar lá. O que nós estamos de acordo é que você se não custar muito caro mandar a Procuração e depois a gente poderia decidir com mais vagar. Nós conversamos se pela Bukuvina a gente conseguisse o suficiente que desse para comprar a fazenda dos Leiman tudo bem. Mas completar com mais dinheiro ai não. Tem um agravante, pois não existe nenhum comprador para a Bukuvina quando a gente quer vender. O Arthur [Arthur Purim] ainda tem outras preocupações e acha que no final terá que desistir da terra dos Leiman porque não será possível morar em dois lugares no mesmo tempo e nenhuma das casas não poderão ser deixadas vazias. Aqui no Rio Novo a cozinha é nova e logo abaixo do paiol nós temos uma linda horta tudo nela cresce muito bem. Sabemos que a terra dos Leiman também é boa e bem grande. As raízes lá [Mandioca] crescem muito bem. Se não comprar lá não sabemos onde por o nosso gado, pois aqui o pasto é pouco. Vender o gado é difícil, pois quando a gente quer vender ninguém quer comprar. Por ai você pode ver que não temos nada decidido, mas que concordamos que a Procuração você deve mandar e nós não comprarmos também não venderemos e ai ela ficará sem utilização. Se mandares faça em nome do Arthur, pois ele pode falar e se comunicar melhor que o Paps. Também escrevemos para o Fritz e para o Arthur, pois este assunto tem que ser bem avaliados com muita responsabilidade. Na semana que vem vamos mandar outra carta com os novos croquis do seu terreno e esperamos que este chegue lá.

Vamos mandar também para você meias, luvas, camisa e um xale. É para você ir bonito e elegante para a América. Se você não gostar da camisa, então, você pode vendê-la. Mas eu pensei que pelo tamanho ele vai servir bem. Ela está na moda e todos senhores elegantes usam este modelo. Se as mangas forem muito compridas, você pode arregaçar. O colarinho pode ser virado para o lado de fora. Se tivesses vindo para casa terias ganho um lindo terno de tecido feito de lã [Vadmales] feito no nosso tear.

Bem por hoje chega se eu esqueci alguma coisa escrevo na outra vez.

Amáveis lembranças de todos. Nós estamos bem. E o mesmo desejo para você.
Lúcia

…pois nos estamos passando uma grande tristeza permitida por Deus…| De Arthur Purim para Reynaldo Purim – 1926 –

Rio Novo 15 de Julho de 1926

Querido maninho.
Que a Paz de Deus esteja com você!

Recebi as tuas cartas escritas no dia 18 e 25 e também a carta escrita para a Lúcia no sábado passado acompanhado pela carrada de jornais. Por tudo muito obrigado. Tenho agora bastante coisa para ler, novas notícias dos variados acontecimentos mundiais. Mas… Mas não tenho tempo ler tudo. Também não pense que tenha abandonado o hábito da leitura e não leio mais nada. Eu leio tudo quanto posso tanto à noite e quando sobra tempo em outras oportunidades, mas tudo isso ainda é pouco.

Desta vez apresso-me em escrever esta carta, pois bem você sabe, pois nós estamos passando por grande tristeza permitida por Deus porquê na sexta-feira [ela faleceu na Sexta-feira, dia 9 de julho de 1926] passada às 7 horas da tarde a Olga separou-se deste mundo indo para uma vida melhor, onde os males e as tristezas deste mundo não são conhecidos. Ela se separou sem qualquer mal estar ou dor. Ainda no último dia ela andou, mas em seguida veio uma prostração [Nespehks = Sem forças] e a respiração se tornou muito difícil. Então ela foi deitar e a Lúcia ainda pôs panos quentes sobre o peito para aliviar a respiração, mas foi inútil. Nós outros estávamos morando na casa dos Leiman e somente a Lúcia e a Olga moravam em Rio Novo. Quando a Lúcia percebeu que a situação estava ficando muito difícil ela apanhou a égua e veio a toda nos avisar. Neste mesmo momento a Mamma montou em outro cavalo e voltaram juntas imediatamente para o Rio Novo. Então ela ainda falou alguma coisa e depois de algum tempo ela ficou inteiramente calma e imóvel e após algumas horas separou-se deste mundo. O funeral no cemitério foi no sábado às 4 horas da tarde com a presença de muitas pessoas. O serviço religioso foi dirigido pelo Pastor K. Leiman que no sábado atrasado chegou ao Rio Novo visitar a Igreja e o pessoal daqui. Em casa ele dirigiu um breve culto e depois outro no cemitério. No sábado eu fui a Orleans avisar às autoridades do governo e as demais pessoas e conhecidos e ai que eu passei o telegrama para você. Você recebeu? E quando? Este seria um resumo dos acontecimentos não incluindo a tristeza e a perturbação que você nem pode imaginar a não ser que estivesse aqui.. Você ficou muito perturbado quando recebeu a notícia? Você está muito triste e deprimido? Não precisas ficar triste porquê ela daqui porquê esta foi a vontade do Senhor. Pois Deus atendeu às minhas orações, pois em todas eu mencionava os pedidos de saúde para ela ou se não fosse assim a sua vontade que levasse para o Lar permanente, mas não deixasse nestas circunstâncias. Por tudo isso devemos e tentar entender os desígnios da mente de Deus.

A nossa vida diária vai como sempre, ainda com menos gente. Agora estamos quebrando[Colhendo ] milho, já terminamos a fabricação da farinha de mandioca que rendeu 55 sacas [sacas de 60 kilos ] e estamos avaliando que deverá ainda render uns 12 a 15 sacas de polvilho que ainda não estão seco porquê o tempo está muito chuvoso. Chove todo dia e raro o dia que brilha algum sol. O milho não cresceu tanto como no anterior e os ratos [Ratos do campo ou das roças- Tem a coloração mais avermelhada do que o rato doméstico(?) Também não se falava em hantavírus]tem estragado muito. É possível que dê para passar o ano.

Você me mandou uma longa carta comercial sobre várias alternativas de negócios. Sobre isso muito pouco vou escrever, pois não foi suficientemente discutido e ainda nada foi acordado e não se deve tomar a sopa muito quente para depois não se queixar de erros e precipitações. Também você não mandou o preço da sua terra.. Também a planta do teu terreno não vou mandar desta vez, pois o agrimensor não forneceu o mapa.
Desta vez acho que chega, na semana que vem se tiver tempo vou escrever mais sobre este assunto dos terrenos.
Com saudações. A. Purim.

[Escrito atrás a lápis] Eu gostaria de pedir para você fazer o favor de comprar uma boa navalha para fazer barba, pois aqui em Orleans a gente não consegue de boa qualidade e ainda por cima muito caras. Igual aquela que você usava deverá custar de 15 a 20 m. e tanto eu não quero pagar. O mesmo

Mesmo que nada tenha recebido de você, terei que escrever. |De Lucia Purim para Reynaldo Purim – 1925 –

Rio Novo, 5 de agosto 1925
Querido irmãozinho! Saudações.

Mesmo que nada tenha recebido de você, terei que escrever. O Arthurs este sim recebeu cartas suas escritas no dia 2 de Julho e a Olga um pouco antes também uma. Mas como eles estão um tanto folgados em matéria de responder cartas e também cada um tem as suas tarefas para cumprir então as respostas das cartas vai ficando igual a você que também demora a responder as cartas.

O tempo agora está bom e bastante fresco. Mas na noite da segunda feira passada choveu bastante, mas no outro dia pela manhã o tempo já estava bom. Agora o tempo está predominantemente bom e fazia já várias semanas que não chovia e também começou a soprar o vento que sopra durante as secas como verão passado. Lá onde você está ainda está frio? Algum tempo atrás nós lemos no “Der Compass” que na noite do dia 13 de junho para o dia 14 ai no Rio deu uma grande geada e o gelo foi tanto que foi a 8o.C. negativos e também em outros lugares como São Paulo, Minas, Petrópolis todas atingidas por essa grande onda de frio e grande geada. Realmente aqui nestes dias estava muito frio, mas que deu este frio lá eu tenho lá as minhas dúvidas. Se fosse verdade calcule quantas pessoas teriam morrido de frio.

O milho já terminamos de colher, rendeu 36 carradas, porque agora não usamos mais cavalos para trazer a colheita de milho das roças porque é muito mais difícil. As espigas tinham-se desenvolvido muito bem. As coivaras ainda não começamos a derrubar e nem sei o lugar que vamos derrubar. Na Bukovina este ano não fizemos derrubadas, pois você poderia achar ruim, pois nós tendo tantas capoeiras mais próximas de casa por que ir tão longe na Bukovina. Se ainda conseguíssemos camaradas para trabalhar, seria mais fácil. A fabricação de farinha ainda não terminamos porquê faltou água e também estávamos com muito serviço. Você ainda pode vir ajudar e assim terminaremos antes. Agora a farinha está com bom preço de 18$ a 20$ por saca, Agora tudo aqui está caro, o feijão chegou a 80$ a saca, mas agora baixou um pouco, o toucinho está a 30$ a 36$ a arroba e também as coisas que temos que comprar também estão caras demais. Alguns dizem que Nova Odessa mudou-se para cá porque tudo é caro como lá. – O tempo está muito seco e há pessoas que estão arando a terra para as plantas crescerem melhor – Em Rio Novo um italiano abriu uma venda e também os Karps abriram uma venda na casa nova onde vendem de tudo com exceção de tecidos que ainda não chegaram. e ainda compram todos produtos da lavoura. O Oskar e o Eduard abriram uma companhia e como se houve por ai vai muito bem e que conseguem girar 2.1/2 mil por semana.
Esta semana voltou do Serviço militar o Alex Klavin. Você lembra bem quando ele foi, apesar de serem feitos pedidos de dispensa, quais não deram em nada. Pois teve que ir de qualquer jeito. E quando depois foi a Curitiba onde o Butler é amigo dos grandes homens que tranqüilamente conseguiu a dispensa para ele vir para casa. Ainda não sei se a vinda dele é definitiva ou é uma licença temporária. No meu caso foi mais fácil porque eu não tive que ir porque conversei com o Cascais e consegui a minha liberação. Aproveitei explicar melhor, apesar de já ter escrito uma vez que eu fui sorteada para serviço militar no exército [Os computadores da época consideraram a Lúcia como do sexo masculino], mas acho que aquela carta onde escrevi foi aquela que se extraviou, é uma pena que nesta carta também eu e a Olga escrevemos sobre o Pintcher, o Schimit e o Stroberg e como este povo vive e como agora pouco daquilo eu lembro, em oportunidade que nós nos encontrarmos eu vou te contar.

O Stroberg ainda está na escola e escreve que já consegue conversar em português e que por duas vezes visitou a Igreja de Rio Branco e está muito mais gordo. Os Rio-novenses o liberaram por um ano para aprender a língua e agora todo domingo pedem dinheiro para o seu sustento. Veja como é quando o Stroberg veio à primeira vez o Zeeberg não podia nem ver e agora e o seu melhor amigo. A Igreja melhorou porque não existem tantas rusgas como antes. A Escola Dominical está mais ou menos bem. A classe dos jovens e das jovens ainda existem. Quando o Stroberg estava aqui ele é quem dirigia a Classe das Jovens e quando ele foi embora então a Senhora Beker se prontificou a continuar, mas agora ela não mais dirige porquê ela teve a desavença com a senhora Frischembruder por problemas do Coro e agora não vem mais para a Igreja. Isto acontece às pessoas que procuram a sua própria honra e sempre querem ser mais que a outra.

Ainda muitas e amáveis lembranças do pessoal de Larangeiras. Eles esperam quando voltares não deixar de programar uma demorada visita a todos eles, porquê de você eles não conseguem esquecer.
Bem agora eu vou terminar nem sei se você quer que eu escreva, e se tiver preocupado com aquele aniversário, não preciso pensar mais nisso porquê estes retratos eu perdi. Você poderá me mandar as que você tiver que eu ficarei realmente muito satisfeita.
Você está me devendo a resposta daquela que mandei junto com a carta do Arthur e ainda reitero que realmente não espero suas fotografias e somente os votos de feliz aniversário porquê eu nunca esqueço e eu tenho certeza que também você não me esquece. É pena que a Olga mencionou esta história de fotografias.

Logo no dia 30 vai ser festejada a Festa da Colheita que é em ação de Graças pelas boas colheitas. Você está convidado para participar. Poderá aproveitar que no dia 29 a Ema Slengmamm vai casar com o Adolfo Burmeister. Ela depois de um longo tempo conseguiu pegar um.

Esta semana nós fizemos açúcar, rendeu 4 fornadas, e há pouco tempo o Venis Grichk também fez 4 tachos e o Auge Felberg fez 2 tachos. Então tivemos bastante garapa para tomar.

Porquê não mandas mais nenhuma revista nem jornal?

Ainda muitas lembranças de todos. Lúcia
[escrito nas laterais]
[A minha caligrafia não é lá estas coisas e não sei se você vai conseguir decifrar, e é porque eu não tenho os dedos grã-finos como os teus.].
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O dia do enterro dele, lembrou o dia do casamento dele… | De Olga Purim para Reynaldo Purim – 1921

Rio Novo 5-9-21
Querido Reynold!

Saúde! Recebi a tua carta escrita no dia 14-8-21 no 26 de agosto. Muito obrigada. Você sempre pede que eu escreva bastante e hoje até que teria, mas tem um grilo que está me atrapalhando a escrita com o seu irritante e insistente canto e se escutar melhor também as rãs estão com o coaxar prevendo chuva.

Semana passada choveu muito, quase demais e fez muito frio. Mas agora está quente outra vez.. Este ano excepcionalmente a primavera chegou bem mais cedo, pois todo mês de agosto já estava quente e mesmo abafado e a última geada foi em 20 de julho. O pessoal está capinando e queimando as roças e está tudo coberto de tanta fumaça como em outros anos acontecia bem mais tarde no mês seguinte. Aqui nas roças estamos terminando de colher o milho e já em seguida estamos a plantar novamente.

Aqui no Rio Novo no mês de agosto foi época de Festas. No dia 17 de agosto uma quarta feira, à noite, foi a Festa da Colheita [Festa de Ação de Graças pela safra colhida]. O tempo estava bom e somente nublado, mas um pouco antes deu uma forte chuva que como foi rápida não chegou a fazer lama nas estradas pois a terra absorveu. Não podia chover mesmo, pois dias antes tinham chegado as grandes e esperadas visitas da grande cidade, o Dr. Luppers e outros não menos importantes como o José Casscão [Cascão] de Paranaguá e o Antônio Ernesto da Silva de São Paulo. Estes tinham estado em Curitiba nas Conferências e o Luppers tinha conseguido que eles viessem junto. Eles fazem tempo que queriam conhecer o Rio Novo. O Onofre que sabia de tudo, também viajou e veio para acompanhar, pois ele sabia quando eles viriam, mas o Antônio Ernesto não ficou muitos dias aqui, isto é somente nas Festas e logo desceu de volta para Orleans e lá organizou diversos cultos e reuniões, todas as noites e no sábado foi embora no sábado, porque não tinha planejado ficar tanto tempo fora de casa e vir tão longe.. O Dr. Lupper e seu companheiro ficaram até o domingo pela manhã, mas a noite já estava em Orleans e ai nós também fomos. Nas noites anteriores nós não fomos, mas os músicos e o coro foram quase todas as noites. Estas reuniões foram muito concorridas tanto é que o sacerdote católico determinou missas extraordinárias e tocava o sino alertando ao povo que não fosse, mas pouco adiantou pois na última reunião tinha mais de 400 pessoas. As reuniões eram feitas no prédio onde era o antigo cinema. O prédio está vazio e parece que faz tempo que não tinha sido usado. Dentro somente as poltronas pois faz tempo que não são feitas apresentações de filmes.

Também tivemos a oportunidade de ouvir o tão afamado solista acompanhado do harmônio, mas não agradou tanto quanto era esperado e é provável que nossos ouvidos não sejam acostumados com apresentações tão artísticas. Na primeira noite o Onofre trouxe ele [o Lupers] aqui em casa e ai ele contou para o Pappa que te conhece da cabeça aos pés e que sabes falar francês, alemão, inglês tanto quanto ele e ainda outras coisas como álgebra etc.

Bem os tempos passaram e depois de uma semana ele viajou até a casa do Onofre e dai para Imbituba.[O Onofre morava na localidade de Braço do Norte também chamada de Barra do Norte, uma Estação da Estrada de Ferro que ia pra Tubarão- Não confundir com a cidade de Braço do Norte hoje que naquele tempo chamava-se Quadro do Norte]

Há pessoas que dizem que depois de muita alegria e festas também vem a tristeza e funerais e agora isso aqui no Rio Novo aconteceu. Eu não gosto nada de escrever sobre funerais, porque as minhas cartas trazendo notícias tristes podem deixar você perturbado.

Bem agora isto aconteceu depois de festas, o funeral. O Oscar Karp voltando da cidade montado em seu cavalo chamou-nos da porteira e informou que noutro dia depois do almoço seria o enterro do Willis Paegle. Que ele tinha morrido às 3 horas da tarde… Parecia incrível, pois ninguém sabia que ele estava doente ou se foi um acidente.

Somente outro dia no cemitério ficamos sabendo que dias antes que ao levantar um peso excessivo de ter havido rompimento nalgum órgão interno. Chamaram o médico, mas este disse que não havia mais esperança e ele não viveria mais. Agora os Auras e os Paegles estão numa tristeza profunda, pois o que a Erna vai fazer com um filho com 2 anos somente, já sozinha.

Nos derradeiros momentos estavam juntos todos os parentes e ele pediu que ninguém chorasse, mas sim que levassem uma vida tal, que permitisse que no céu voltassem a se encontrar.

O dia do enterro dele lembrou o dia do casamento dele que também foi numa tarde de sábado que foi um lindo dia, também após uma semana de chuva. Agora chega, pois o papel acabou. Com saudações Olga
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Os dedos começam a congelar | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 21 de junho de 1918

Querido Reinold,

Primeiramente envio muitas lembranças. Há muito tempo estamos esperando alguma carta sua, mas como não vem, o que se há de fazer. A última recebi no dia 9 de maio e em seguida preparei uma longa carta em resposta; junto mandei um pacotinho e sei que você a recebeu pelas anotações nos jornais. Mas a resposta não recebi nem junto com os jornais nem avulsa. Às vezes penso que tenha sido extraviado ou que alguém tenha tirado e não entregue. Os Boletins temos recebido regularmente.

Desta vez não tenho muito o que escrever. Nós vamos bem. Estamos com saúde, apesar da tosse estar na moda. Isso porquê o tempo é muito irregular. Até agora [os dias] eram sempre quentes, mesmo quando chovia ou quando o sol brilhava. Esta semana teve chuva, mas a temperatura em geral esteve muito quente; porém começou soprar um vento frio e logo limpou o tempo e em seguida, ontem pela manhã, deu a primeira geada do ano.

A geada chegou até a nossa casa, mas não era das grandes. Neste ano ainda não tinham ocorrido geadas em nenhum lugar por aqui. Ontem pela manhã, com a geada, o tempo estava limpo, mas com o passar do dia começou a ficar nublado e continuou muito frio. À noitinha começou uma chuva muito fria, mas hoje já não está tão frio.

As chuvas são tão frequentes que nos impedem de bater o feijão, apesar de não ser tanto que ainda falta. Estão arrancadas já há bastante tempo, e a colheita também levou muito tempo por causa do tempo chuvoso. Este ano não fizemos a eira na roça devido à umidade. Batemos o feijão no terreiro. Atrelamos o Bosi e vamos buscar na roça perto do mato ou aquela perto do cedro, carregamos de feijão por bater e trazemos para casa. Se o tempo ajudasse já teríamos terminado. No ano passado, antes do São João, o paiol estava quase cheio de milho, mas este ano o tempo não deixa.

[Leia sobre o cultivo do feijão]

[NOTA: O cedro mencionado era um pé de Cedrela brasiliensis – Cedro branco. Havia outras variedades de cedro: Cedrela fissilis – Cedro vermelho; Cedrela sp — Cedro rosa. O menos nobre era o cedro batata, que por ser muito macio e tenaz, era usado para fazer as “cantadeiras”, que eram os mancais dos eixos dos carros de bois. Já os próprios eixos eram feitos de madeira bem dura como a peroba ou o pau jacaré (Laplacea semiserrata) que é uma árvore espinhenta, mas depois de seca se torna dura e resistente]

Fizemos uma cerca nova na parte baixa do pasto, na divisa com o terreno da igreja, pois a velha estava muito podre. O Augus [Augustin] não saiu da zeladoria da Igreja; parece que o Peteris não tinha amigos em quantidade suficiente para votar nele. Outra razão: como ele não ia plantar nada, a comunidade teria que sustentá-lo.

Não faz muito tempo faleceu o velho Rebeins e, pouco tempo depois, a esposa. Logo em seguida Emilio e o Rodolfinho casaram, não sei se com brasileiras ou italianas.

Ainda uma novidade: no dia 6 de junho, logo depois do meio dia, do lado do morro do Grikis, começaram vir gafanhotos, mas numa quantidade imensa como nunca tinha visto antes. Perto da nossa casa eles não pousaram; todos seguiram em direção do morro do Leepkaln.

Era uma nuvem tão densa que escureceu o sol e um ruído com fosse um prenúncio de uma tempestade. Começaram a surgir às 13h30 e terminaram de passar às 15h00; tivessem pousado seria uma camada muito grossa. Na nossa Bukovina eles pousaram, mas o prejuízo foi pequeno, pois comeram as folhas e baraços das abóboras e o milho estava a salvo, porque já estava seco. Por isso eles não ficaram e seguiram em frente. Esses gafanhotos eram diferentes, porque aí para frente só pousavam para se alimentar e iam embora.

Bem, agora chega os dedos começam a congelar e amanhã terei que ir à cidade. Quando receber alguma carta, sua, vou escrever mais. Escreva bastante, pois semana que vem você deverá estar em férias.

Os chapéus não ficaram grandes demais? O que você fez na Festa do Verão? [NOTA: Festa da ascensão do Senhor — no hemisfério norte era verão]. Aqui esse dia foi realmente de verão: quente e seco. Neste dia o Robert [Klavin] e o Arnolds [Klavin] foram para as Serras.

Ainda muitas lembranças do Papae, Mamae, Lusija, Arthur e

Olga

Um barulho imenso e uma nuvem de poeira | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 19 de agosto

Querido Reini,

A tua carta escrita em 1º de agosto recebi ontem. Obrigado. Você escreve que dias atrás nos mandou outras cartas, mas essas ainda não chegaram. Pode ser que ainda cheguem, ou então foram extraviadas. Ainda não tenho resposta de uma carta que mandei há mais de três semanas.

Aqui estamos passando bem. O tempo está bom e ainda bastante frio, e hoje pela manhã houve geada. Algumas semanas atrás estava enfumaçado e tão quente como fosse verão, então começou a roncar trovoada e deu uma grande chuva. Essa chuva passou (fazia já uns dois meses que não tinha havido trovoadas), mas sábado passado à noite começou novamente a chover — e choveu praticamente dois dias e duas noites sem parar. Domingo passado quase ninguém foi à igreja, por causa da chuva muito forte e porque soprava um vento frio, mas na segunda-feira estava um céu azul e o vento tinha levado todas as nuvens embora.

Fizemos açúcar e deu dois tachos. Não foi muito. Este ano a “festa” do açúcar não foi essas coisas como nos outros anos. As canas novas foram apanhadas pelas geadas e ficaram para crescer mais um ano. Este ano não tivemos de fazer mutirão; a cana e a lenha trouxemos com o [boi] Bosi, e as moendas também foram movidas por ele.

Agora deixe-me contar uns fatos que aconteceram durante a “assucrada”. O Bosi estava acostumado com o carretão de duas rodas com o qual trazíamos toras do mato e da coi-
vara, e com ele trouxemos grandes toras. Mas cana não dá para trazer desse modo, e como nos não temos carro de boi colocamos o Bosi na carroça da [égua] Marsa e fomos lá no morro perto da peroba grande [da encruzilhada do Rio Carlota para o lado do Grüntal]. Carregamos a carroça de cana, mas ele não estava acostumado e apesar de eu ir na frente, saiu em disparada morro abaixo [Nota de VAP: Quando um animal disparava sem razão aparente dizia-se “deu a botuca” ou “pegou a botuca”, referindo-se à mosca botuca, que dava picadas muito dolorosas nos bois e cavalos, fazendo com que ficassem totalmente descontrolados.]. O Bosi me derrubou e ainda uma roda passou por cima do meu pé esquerdo e do tornozelo do direito, mas sem muita gravidade.

Quando me levantei e me recompus o Bosi já estava parado lá em baixo perto da cerca e da porteira. A carga estava virada, mas nada havia quebrado. Levantamos a carroça e a carga, mas quando chegou na estrada grande o bicho começou a correr novamente. Começou um barulho imenso e uma nuvem de poeira. como fosse um trem, e só conseguimos pegá-lo quando ele parou na porteira sem nada — a canga, os canzís, as rodas quebradas: tudo espalhado pela estrada.

Mas não deixamos o Bosi desse jeito. Colocamos no carretão e fomos buscar mais toras no mato, e lá ele foi muito bem. No outro dia fomos buscar cana na roça, de novo com a carroça, mais dessa vez colocamos freio nela. Como ele tinha de fazer força para puxar, aí ele veio bem e não pôde mais inventar nenhuma corrida — e nunca mais a voltou fazer aquelas corridas malucas.

Na moenda ele também foi muito bem; num dia ele moeu uma fornada e no outro outra. Colocávamos pouca cana na moenda pra não ficar pesado para ele.

Naquele dia em que você estava escrevendo a carta nós estávamos tomando garapa; pena que o dia estava frio e a garapa nem pareceu tão gostosa.

(falta a parte final)

Um mar de fogo | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 26 de julho de 1917

Querido Reini,

A tua carta escrita em 10 de julho recebi ontem a noite, quando fomos ao culto lá na casa dos Leimann, e foi o Jurka quem me entregou. Muito obrigado. Você escreve que aguarda resposta de duas cartas. Há duas semanas mandei um rolo com as cartas e na semana passada, mandei escrevi outra aproveitando os dias livres, e como podes ver as cartas vão e vem muito devagar.

Nós estamos passando bem, estamos todos com saúde. O tempo está bom e quente e parece um ar de primavera. Ontem e hoje está soprando um vente quente, do lado da serra parece que está se aprontando para chuva: estão aparecendo nuvenzinhas planas e está ficando tudo enfumaçado, por que na serra a queima dos campos está medonha. Ontem a noite quando voltávamos dos Leimann [trajeto Rodeio do Assucar – Rio Carlota – Rio Novo] podíamos ver no alto da Serra um mar de fogo. Até o Limors quis ver como é linda uma queimada e pôs fogo na samambaia seca no lado de baixo da estrada; esta queimou com tanta violência que o assustou. Ele teve que gritar chamando os vizinhos para ajudar a apagar, pois estava queimando demais.

Se o verão for tão seco como agora vai queimar demais, pois a vegetação está toda morta por causa das geadas. Hoje começamos a cortar a cana de açúcar. As canas novas cresceram pouco e
têm poucas folhas novas; as canas velhas estão bem ressequidas e por isso não vão dar grande coisa. A arroba do açúcar está valendo 10$000 mil réis.

Sobre [a igreja d]o Rio Novo vai diferente e nem por isso muito bem. A mocidade tem uma apresentação mensal de temas livres, onde todos participam, e que é feita numa das noites. Fazem também uma caixinha de perguntas, mas dizem que são tantas as asneiras perguntadas que se se fizesse uma revisão pouca coisa restaria. Dizem que os grandes desta área são o Emils e o Blukis.

Até o Arnolds Klavin tem para lá corrido, para ouvir desta sabedoria. Pode ser que ele te escreva mais do que eu saiba.

Do Oscar nada foi anunciado do púlpito, porque ainda não foi tão longe. A senhora Frischembruder, depois de muita luta, conseguiu levar o Osvaldo, até a declaração oficial e pública. Por isso o Oscar foi para o Rio. A mãe dele queria afastá-lo da Lida; a intenção do coração dele não era esta, mas o menino não é tão bobo que possa esquecer tão rápido.

O Oscar conta que no Rio não tem nada de bom e que quando você não tem dinheiro ninguém te liga. Em relação aos estudos, não poderia ir em frente, pois todos os exames são comprados a dinheiro e se não o tiver você não passa; os professores não gostam de pobres e os bons lugares são só reservados para os ricos.Todos aguardam tuas cartas, mas nem todos têm facilidade para escrever. Que o dinheiro domina o mundo. Diz ele que se dará por feliz quando conseguiu sair fora deste pesadelo.

O Ludi [Ludvig] te escreve? Temos escrito várias cartas mas não obtemos dele nenhuma resposta. Nesta última mandei a fotografia do Fater e, como não tenho resposta, não sei se recebeu ou não. Pode ser que ele tenha escrito e a resposta tenha caído na mão dalguns rionovenses que você sabe…

Bem por hoje chega. Muitas lembranças de todos, todos aguardam tuas cartas, mas nem todos têm facilidade para escrever.

Viva com saúde.

Olga [Purens]

[Nas laterais da carta] Nesta carta coloquei um papelzinho verde. Fio de lã preta não temos mais, quanto nós tínhamos você levou; será que lá não tem para comprar? E os buracos maiores podes remendar com tecido.