Não sabíamos que você era herdeiro do Ludis | Olga Purim a Reynaldo Purim

[Parte final de uma carta escrita no final de abril de 1919]

Ele [NOTA: Provavelmente fala-se de Arturs Leiman] estava muito treinado para dirigir a Escola Dominical e dirigir os cultos de quarta feiras, e também ensinava a cantar. A última lição da Escola Dominical que ele apresentou foi sobre a parábola do semeador. Os hinos que ele ensinou na última quarta-feira foram o 31 e 34 do “Cantor”, que ele deixou como lembrança. Agora a Escola Dominical é dirigida pelo Arnolds Klavin, e os cultos das quartas-feiras pelo Arnolds e pelo Roberts. Os trabalhos dos domingos são dirigidos pelo Leimans e pelo Klavins. A igreja vai mandar 20$000 para os necessitados da Síria e no domingo vai ser feita uma coleta para o seminário.

O pessoal de Rio Novo está passando uma fase grandiosa! Na quinta feira passada, dia 21 de fevereiro, aconteceram as bodas do Oscar Karp. Tão lindas e maravilhosas disseram que nunca houve por aqui. O tempo estava chuvoso, mas não uma simples chuva que chove e para — aquela persistente, que transforma tudo num verdadeiro lamaçal. O casamento foi à uma da tarde, na casa do Karp. Nas estradas lamacentas os convidados iam chapinhando. Os noivos habitualmente vão a cavalo, mas esses Oskar e Lida, como “gente bem”, foram embarcados na velha Dischpischa Ribitka puxada por dois cavalos, tendo o Matiss como cocheiro. O velho Frischembruder ia de pé atrás na carruagem e os noivos cobertos com uma capa preta de montaria. À primeira vista parecia um funeral em direção ao cemitério, mas fixando bem o olhar via-se por baixo do abrigo o par de noivos. Até agora a ninguém tinham sido prestadas tantas honras como para o Oskar. Também nunca alguém por aqui casou com tanta chuvarada e lamaceira. Qualquer outra coisa boa do Rio Novo eu não saberia dizer.

Algumas semanas atrás faleceu a Lídia Grünfeldt. Ela fazia mais de seis meses que estava de cama.

Bem, por hoje chega. Estou proibida de escrever muito, se não a Censura vai pensar “quantos segredos estão nesta grande quantidade de papéis”.

Você diz que fez a assinatura do jornal para nós, mas até agora não chegou nenhum. Os últimos foram os que você mandou. Também não sabíamos que você era herdeiro do Ludis [Ludvig Rose]. Agora que nasceu o herdeiro ele não precisa mais de você. Você sabe o que ele anda fazendo? Está editando aquele jornal em alemão?

Vou aguardar uma longa carta, sua. Desejo a você tudo de bom. Com muitas e amáveis lembranças de todos nós,

Olga

Todos americanos | Arthur Leiman a Reynaldo Purim

[Escrita num misto de português e espanhol, apresentada na grafia original]

Dean Funes, 22 de abril de 1919
Buenos Ayres, Rep. Argentina

Querido Amigo e Hermano em Cristo,

Me acuerdo de que lê escrebi que estaba de propósito a venir á esta Escuela Teologica. Bueno, ahora estoy aqui ja hace casi dos semanas. Pero tiene que desculparme la demora de escribirte más antes, pues creo que usted me entenderias muy bien pues és estudiante tambien se no eres profesor.

Como estudiantes somos 7. Hay algumas que toman sus cursos já el segundo ano, otros más; los que entremos este ano somos 4.

Bueno, jo tiengo que estudiiar ahora tanto como 6 matérias: Antigo y Nuevo Testamento y Historia Romana, Gramatica, Instrucion Biblica, Geografia y mas otras cositas chiquitas.

Estoy morando aqui mesmo em casi tercero piso de esta casa. Tenemos três professores, Sorel, Loren y Quarles, todos Americanos. Quanto á la Ciudad ari que jo todavia poça la conosco ouo diré nada.

Buenos Ayres

La direcion de cartas la seguinte:
Sr Don Arturo Leiman
Dean Funes 652
Buenos Ayres Rep Argentina.

PS – Y este Carlos Salit donde esta?

Comecei a escrever com tinta | Artur Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 21 de abril de 1919

Querido irmãozinho!

Eu te mando muitas lembranças. Até agora não recebi resposta à minha carta, mas já estou escrevendo outra vez. No dia 1º de abril comecei a ir à escola e também comecei a escrever com tinta. Neste mesmo dia o Fritzis Leimans levou o irmão Arturs para a escola lá em Buenos Ayres, então nós dois Arturs começamos a ir à escola no mesmo dia, ele na Argentina e eu aqui.

Agora estamos arrancando amendoim e os pastos já estão limpos. Agora estamos domando os bois para poder usar no carro. Todo dia o Arnolds Karklin vem ensinar.

Ontem estivemos visitando a Marta Klavin e hoje a Mama e a Lucija foram lá. O velho Malvess [pai do Júlio Malvess e sogro do Jahnis Klavin] viajou para São Paulo para morar com o filho. Ele não quis ficar morando aqui.

Chega. Quando chegar carta sua, escrevo mais. Com muitas lembranças,

Arthurs [Otto Roberto Purim, aqui com cerca de 13 anos de idade]

Estou morando na cidade com os Stekert | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 20 abril 1919

Querido Reinolds!!

Saudações! Festa da Páscoa! Cristo ressuscitou! A mensagem da Paz ressoa.

Na semana passada recebi dois pacotinhos de jornais [enviados] no dia 27-3-19, e na segunda-feira 14 de abril recebi tua carta de 27-3-19. Sinceros agradecimentos. As cartas anteriores foram todas recebidas; só não tenho resposta da que escrevi no dia 28 de março, e no mesmo envelope foram cartas da Luzija e do Arthur. Também no dia 8 de abril mandei um cartão postal. Todas foram recebidas?

Nós estamos alegres por sabermos que você está passando bem. Nós podemos dizer com alegria que estamos todos com saúde.

Antes da Páscoa tivemos duas semanas de tempo muito seco: não choveu nada e [fez] muito calor. Então, no sábado da Páscoa, começou a ficar nublado e de noite estava roncando trovoada e muita chuva, mas o Domingo da Páscoa amanheceu com uma manhã radiosa e assim permaneceu.

Pela manhã fomos ao culto na casa dos Leiman no Rodeio do Assucar. Lá no sábado haviam chegado as visitas da Argentina [NOTA: gafanhotos]. Nós todos tivemos a oportunidade de ver uma quantidade imensa desses insetos. Quando passavam provocavam um ronco surdo como uma tempestade, e chegavam a fazer sombra como fazem as nuvens: nem a luz do sol podia ser vista. Eles gostam mais de feijão, mas não deixam de limpar os milharais e a sorte é que estes já estão na fase de maturação.

Para nós no Rio Novo eles não chegaram, e é provável que nem passem por lá e sigam o seu caminho para o outro lado. Na fazenda dos Klavin também desceram, mas lá eles tanto fizeram que conseguiram espantar, batendo e tocando. e não permitiram que fossem completamente devoradas as lavouras.

O Arnolds [Klavin] veio da serra onde mora para as festas da Páscoa, e pretende voltar logo em seguida. O Roberto [Klavin] foi passar as festas lá no “Brasso do Norte” com o Onofre. O Deter ainda não veio; e não sei por que prometeu e não veio, e nem sei quando ele virá. Agora em Orleans tem um Pastor Presbiteriano e durante as festas na igreja de Rio Novo ele fez um sermão em inglês. Ele veio da serra e ficou na casa do pastor Butler.

Você escreve que lá as roupas estão caras, mas não são tão caras quanto aqui, embora aparentemente estejam ficando aos poucos mais baratas. Vamos mandar dinheiro quando precisares de calças e fraques, e você poderá mandar fazer, ou provavelmente comprar roupas prontas. Camisas e ceroulas mandaremos se estiveres precisando.

Agora aqui não estamos conseguindo um tecido bom e próprio para camisas, mas a loja do Pinho garantiu que vai chegar um grande carregamento de bons tecidos. Nós ultimamente não tínhamos comprado tecidos para roupa, pois tínhamos comprado bastante tempo da venda da coperativa, e quando começou ficar mais caro compramos bastante “americano” [NOTA: Tecido de algodão cru muito usado para roupa de cama].

Temos um par de meias de lã prontos, tricotados para mandar para você. Fio de algodão aqui é difícil de conseguir, então você terá que comprar as meias de algodão prontas nas vendas.

Querosene aqui não existe mais, e faz tempo que nos falta. Temos emprestado da Sra. Grüntall algumas garrafas e usado velas, mas estas também estão muito caras: $300 a peça e não duram nada, principalmente quando a gente tem que trabalhar à noite. Quem tinha querosene para uso pessoal vendeu até entre 1$500 a 2$000 a garrafa.

Pelo toucinho estão pagando 12$000 a arroba e é um bom preço, considerando que não estão descontando nem os ossos. Ovos já vendemos duas vezes e eles estão pagando $600 a $700 a dúzia. Estamos com mais de cem galinhas, isso sem contar os pintos.

Brevemente o Diretor Staviarski [da Companha de Colonização] pretende viajar com a filha para o Rio de Janeiro para visitar o seu Victor. Você conhece esse jovem filho do nosso Diretor? Ele deve estar estudando em outra classe. Ele sempre fala da boa ordem do Colégio e o filho está muito bem lá.

A novidade comigo é que agora estou morando na cidade com os Stekert aprendendo costura, e somente aos domingos vou para casa. Escreva bastante porque estando em Orleans posso buscar as cartas facilmente no correio. Ainda muitas sinceras lembranças de todos de casa, que ficam aguardando longa carta sua.

Olga

[Escrito nas laterais:]

Junto a esta carta segue o Aviso de 300$000 que segue através da firma do Pinho e será paga a você pelo Colégio Baptista, assim não tenho que mandar no envelope Valor Declarado, o que espero seja melhor para você.