Igual à de um colono qualquer | Fritz Jankowski a Reynaldo Purim

Rio Branco, 27 de julho de 1920

Querido amigo Reinold:

Recebi de você duas cartas, uma já há tempo, logo que cheguei de Rio Novo, e uma uns cinco dias atrás. Muito grato por tudo: notícias, conselhos e inquirições. Nesta carta quero no mais possível transmitir minhas emoções de coração aberto.

Você pergunta qual o motivo da minha tristeza e depressão. Agora quero te asseverar que nenhum mortal exceto você tem ouvido de mim tantas lamentações e tão grande falta de esperança.

O principal motivo que deixou o meu coração tão desesperançado e sombrio que deixou rastros negros na carta que naquele momento dramático te escrevi — você, sendo meu amigo; sendo que nossos pensamentos e opiniões sempre coincidiam como com nenhuma outra pessoa, você em quem eu via os hábitos e sentimentos muito mais completos, maduros e fortalecidos do que os meus, — é que eu tinha a sensação de ter cometido um erro irreparável em ter abandonado a escola [o Seminário].

Por quê? Por causa de insignificantes e infundados motivos. Falando mais claramente, por enganos traiçoeiros [glhenvilibas]! As palavras escritas em Jó 5:2 eram para a minha alma, amarradas como uma pedra que me arrastava para as profundezas insondáveis e aniquilava minha vontade de viver nesta triste condição.

A isso se juntaram desagradáveis situações na vida de minha família, que ameaçavam roubar as minhas últimas oportunidades de seguir o caminho que tinha escolhido, isto é, o de continuar os meus estudos.

O que aconteceu foi que minha irmã se enamorou secretamente de um jovem alemão, Albert Richter, um sabatista. Quando isso veio ao conhecimento público aquela notícia levantou-nos outros grandes descontentamentos e contrariedades.

Depois de uma longa série de argumentações e conselhos ela cedeu e deixou este rapaz — porém não convencida de que estivesse fazendo algo de errado ou de mau, e sim para obedecer a vontade do pai e dos demais parentes.

Mas não muito tempo depois algo ocorreu através de uma jovem luterana muito alegre e comunicativa que passou a frequentar os nossos cultos: uma cantora de primeira classe e colaboradora da União dos Jovens da Igreja, mas pelos meus pensamentos toda essa atividade era como toucinho na ratoeira para pegar os ratos.

Minha irmã ficou enamorada do irmão desta moça, Karlos Ignowski, e contra este novo relacionamento não há contrariedades.

Esses acontecimentos para nós são amargos, mas sem nenhuma saída, pois daqui há poucas semanas minha irmã Emília com o mencionado jovem vão se comprometer através do enlace matrimonial.

No cartão estavam anotadas as alternativas nas quais durante a viagem mais uma vez recapitulei, e que são as seguintes:

Se nós aqui quisermos restabelecer a nossa vida, eu e meu pai, tenho que assumir e não há meio de fugir da direção das atividades, pois o pai não quer mais, impedido também pela doença.

A outra alternativa seria vender. Poderia vender e voltar para a escola, mas de onde veria o sustento? E onde ficaria o meu pai? Tentamos arrendar a nossa propriedade, mas não apareceu nenhum interessado.

Então meu pai disse:

— Agora meu filho, tu tens que se preocupar pela nossa casa e pela nossa vida diária. Faça tudo como melhor te aprouver, pois destas preocupações quero ficar livre e sob sua responsabilidade viver os meus dias até a velhice. Espero que este fardo não seja pesado demais por minha causa.

Considerando como santa a responsabilidade em atender o desejo do meu velho pai, ainda assim procurei alguma alternativa para conseguir resolver este problema. No fundo mesmo, queria ficar livre desta responsabilidade e dessas preocupações.

Também reconheço que Deus providencia nossa vida em todas as circunstâncias e tudo isso quero aceitar com gratidão, como vindas diretamente de Suas Santas Mãos.

Sob o outro aspecto da vida diária, com alegria posso dizer que eu estou indo muito bem. Minha atividade diária é igual à de um colono qualquer: derrubo matas e capoeiras, arranco tocos para facilitar o preparo da terra, planto árvores frutíferas, negocio o meu arroz etc.

Na igreja ocupo o cargo de Superintendente da Escola Dominical e Secretário Geral da igreja. Damos graças a Deus por nos ter maravilhosamente guiado e pelo período de paz que reina em nossa igreja, pois no passado houve um período um tanto difícil.

Também hoje a harmonia não está completa, pois uma parte da igreja tem por lema trabalhar por missões e a outra tem por lema descansar. Mas na maioria com tranqüilidade concordam, esforçando-se para arrastar todos juntos ao cumprimento do desígnio de uma igreja cristã, que é proclamar Cristo através de missões.

A Escola Dominical vai até de certo modo muito bem, mas o que preocupa é a falta de um obreiro qualificado para cuidar dos alunos que receberam os ensinos e correm o risco de se perder. A Convenção das Igrejas Batistas do Paraná e Sta. Catarina estão convidando para o próximo ano o irmão Carlos Leimann, e estão oferecendo para escolher como centro de atividades os seguintes lugares: Laguna, Itajay e Joinville. Nós estamos torcendo que ele escolha Joinville, pois para nossa igreja seria muito bom.

Sobre a Convenção, uma vista geral e completa pode ser acompanhada lendo “O Baptista”.

Gostaria de saber: que mudanças houve no Colégio e no Seminário? Você ainda trabalha na igreja de Pilares? Como vai a nova Escola Dominical que começaste no ano passado?

Peço que me desculpe pela curiosidade e pela tão longa carta.

Com muitas lembranças, seu amigo

Fritz Jankowski

Meus pais não podem me ajudar como fazem os seus | Roberto Klavin a Reynaldo Purim

Invernada, 27 – 7 – 1920

Querido amigo!

Agradeço pela carta cuja escrevestes no dia 23-06-1920, a qual recebi dias atrás.

Foram embora do Rio Novo o irmão Butler e sua esposa para Curytiba. Eles viajaram na semana passada, dia 22. Na noite do último domingo houve as despedidas. Ele, ao se despedir, entre outras coisas disse que voltará para cá somente caso tenha problemas com a voz; se a voz se adaptar ao novo clima ele para cá não mais voltaria.

Quanto a mim e a minha possibilidade de ir estudar, eu muito tenho pensado e planejado, mas o que no fim vai dar isso tudo só Deus sabe. Para o primeiro ano eu teria dinheiro para passar o ano tranquilamente e sem preocupações maiores, mas para o segundo ano não teria condições, uma vez que meus pais não podem me ajudar como fazem os seus. Eles estão bastante sem forças e principalmente a minha mãe, que está sempre doente e muito fraca, em condições tais que às vezes não consegue cumprir com as obrigações da administração do lar — e aí outras pessoas tem que ajudá-la. Ainda com irmãos e irmãs menores, que terão que cumprir a escola básica, não se é possível esperar nenhuma ajuda substancial.

E como eu já tinha mencionado: não tenho certeza de que devo dar este passo. Sem que esteja seguro que poderia atravessar este período, com estas condições extremamente críticas, esta é uma questão da qual não posso fugir.

No mesmo tempo estou convicto que se eu ir estudar é a vontade de Deus ele fará acontecer conforme a sua santa vontade. Fico no aguardo dos acontecimentos.

Outra alternativa seria a proposta pelo Butlers, que quer que eu vá para Curytiba trabalhar e estudar à noite e depois do básico ir adiante.

Este mês está muito chuvoso e o tempo muito ruim. As estradas também estão muito ruins e eu tive que me cuidar muito para não me resfriar, porque estou com dor em um dente. Muitas noites não tenho dormido direito e passado sem sono, por causa desta dor que é muito desagradável.

Já há diversos domingos que não tenho ido a Rio Larangeiras e hoje deu uma chuva forte com trovoadas e granizo. Agora também estou vários dias em casa, mas logo terei que ir para o trabalho.

Terminando, receba mui afetuosas lembranças dos meus e também minhas.

Teu amigo,

Roberto Klavin

Será porque eu também não escrevo | Artur Leimann a Reynaldo Purim

Buenos Aires
Argentina
Ecuador 952

Júlio, 24 de 1920

Querido Reini no Brasil,

Eu já faz um bom tempo que não tenho escrito nada para você. O último livro que você enviou já recebi faz bastante tempo, mas fazer o quê. Enquanto estou dependurado por uma forte gripe estou me aprontando para os exames, e atravessando este fogo de provação o tempo passou despercebido.

Teria muito o que escrever contando as novidades e os planos para o futuro, mas é uma pena que o tempo não permite. No que se refere aos exames, eu passei muito bem até agora. Agora estou aprontando material para outro.

Você está também amargando este forte e desagradável inverno? Tem dias que não tem outro jeito a não ser ficar embaixo das cobertas e enfrentar os livros.

Por exemplo, no dia 13 deste mês teve uma razoável tempestade de neve e o dia inteiro soprava um forte vento de mais de 50 klm por hora (desculpe el borrón) [havia um borrão de tinta na palavra “klm”] e com isso empurrou todas correntes do Plata para dentro do oceano. Toda a cidade ficou sem iluminação e os bondes ficaram todos parados, enfileirados e aos montes. No porto os navios ficaram no raso e tombavam e é uma pena que por causa da gripe e dos exames eu não pude ir ver. Preferi ficar com as minhas lições e meus exames do que sair e deixar o dever pela metade. Não faz mal.

Não sei o que tem acontecido no Rio Novo porque ninguém me escreve. Será porque eu também não escrevo?

Bem, no começo eu queria voltar para o Brasil mas aqui também há necessidades e muito trabalho. Acho que não vou voltar não. Aqui também há grande necessidade de obreiros.

Não me lembro o que você tinha me perguntado na sua última carta e sobre o que querias que eu escrevesse, mas espero de qualquer modo satisfazer a sua grande curiosidade com que escrevo, se realmente tens tanto interesse por nós aqui.

Receba lembranças do teu companheiro e camarada nas lutas,

Arturo Leimann

Argentina

Buenos are, tani Bohblé

Nota: Cuando escribes mi dirección, ponga simplesmente
SÑR i no Illmº. – pues todos me tomam en farra. Please?

Capinar é uma vida de ouro | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 22 de julho de 1920

Querido Reinold!

Primeiramente mui amáveis lembranças de todos de casa. A tua carta escrita no 22-6-20 recebi no dia 20 de julho — se bem que o navio veio para Laguna logo depois da carta ser despachada, assim mesmo ela demorou demais. Fazia tempo que estávamos esperando aquela carta que recebemos dia 23 de junho e para a qual mandei resposta no dia 4 de julho. Recebemos um pacote, mas neles não havia nada escrito.

Fico muito aborrecida que as minhas cartas não tenham chegado. Então parece que são duas as minhas cartas que estão perdidas: aquela que escrevi pela ocasião da Festa de Pentecostes [em leto “Festa do verão”] com muitas notícias sobre a Convenção e as conferências e muitas outras coisas, e mais a carta da Luzija.

Nós estamos passando bem. O tempo está muito instável: uma hora está bom e logo em seguida pode estar chovendo. Duas semanas atrás deu uma geada bastante grande até aqui em casa. A roça da mandioca perto da ponte a geada matou, mas em outros lugares permanecem verdes. Noutra manhã já choveu. Semana passada estava realmente tudo encharcado e ainda por cima muito frio.

As estradas tinham sido consertadas pela comunidade, mas logo em seguida, com esta aguaceira toda, começaram a chamar nossa linda estrada de Kuilhu kalna/o morro dos porcos, diante de tanta lama que tinha aqui na nossa frente.

Agora esta semana já enxugou bastante. O milho ainda não está todo colhido. Logo vamos começar a fazer o açúcar. A geada não afetou a cana mas os bichos [graxains, cachorros do mato e outros] estão estragando muito e por isso vamos cortar.

Sobre o Rio Novo não tenho nada alegre para contar-te. Domingo passado foi o último domingo em que o Butler dirigiu os trabalhos. À noite foi a despedida oficial, e apesar da chuva e de estar tudo molhado, a igreja estava literalmente tomada de gente.

O Butler deu bons conselhos e orientações sobre como proceder e apresentou vários planos como alternativas que são plenamente viáveis; é só ter vontade de executá-los. Disse ainda que tem aprendido não olhar nem se influenciar por pessoas negativas que acham que nada vai dar certo e que tudo que é apresentado é ruim. Ainda bem que são poucas estas pessoas e que é para olhar para frente e trabalhar.

Também bem disse que em Rio Novo existem pessoas que se preocupam mais com o crescimento e bem estar de seus cavalos, com seus porcos do que com os seus filhos. O que eles vão ser quando crescerem? Pessoas irresponsáveis que serão a desgraça para a comunidade.

O Butler disse que voltaria [para o Rio Novo] no momento em que não pudesse mais falar. O médico que o está tratando tem dito que capinar ervas daninhas numa colônia como Rio Novo é uma vida de ouro. O Butler vai verificar como a saúde dele vai se comportar em Kuritiba, e se por acaso piorar dentro de um ano é possível que esteja de volta.

Para cuidar do velho ele deixou a Anlise, porque a Kate não vem mais. O milho deixou colhido, as cercas em ordem e o gado ficou todo.

Na quarta-feira, dia 21 de junho, o Butler foi a Orleans e na quinta-feira embarcou para Imbituba, onde se o navio demorar vai realizar diversos cultos. Quando os mensageiros da convenção ficaram retidos lá depois de partirem daqui, todas as noites realizaram cultos.

Os trabalhos da igreja aqui serão dirigidos pelo comitê. As sessões regulares serão dirigidas pelo W. Slengmann. Domingos à noite, pelos jovens. Os grandes e bons planos feitos por ocasião da Convenção foram esquecidos pelos que eram contra, mas não por todos.

Domingo que vem vai haver sessão de negócios e vamos ver o que será resolvido o assunto da Grande Campanha. O Comitê é inteiramente favorável ao pagamento das cotas de contribuição combinadas, mas não sei se vai agradar a todos.

Sobre a Convenção já escrevi bastante e agora já não tenho o que escrever. Tive a oportunidade de ver estas pessoas realmente importantes que se mostraram tão simples quanto nós. Tínhamos a imagem de pessoas orgulhosas e inacessíveis, mas estávamos errados.

O Watson gosta de contar experiências e fatos. Falando sobre os doze espias de Israel que foram avaliar a terra de Canaã, disse que foram interrompidos no momento que atravessavam o Rio Novo lá na barra. O Butler mandou eles lavarem os pés, pois estavam entrando em Terra Santa.

Na Convenção todos falavam em brasileiro. O Butler traduzia o que era mais importante. Pode ser que tenhas lido “O Baptista”, lá está impresso tudo que foi resolvido aqui. O Antonio Cordeiro não veio.

Por hoje chega. Aguardo longas cartas tuas sobre o que você fez nas férias. O que você conversou com Karlos?

Os jornais falavam de grandes eventos programados para estas férias. Gostaria que você escrevesse se deu tudo como estava previsto. O Arthurs não levou em conta a pressa em responder àquelas muitas perguntas e questões que você passou para ele.

Fico aguardando uma longa carta sua.

Olga

Sciente | Onofre Regis a Reynaldo Purim

[Original em português, apresentado na grafia original]

Estação de Braço do Norte, 13 de julho de 1920

Ilhno Sr Reynaldo Purim
Rio de Janeiro

Prezado irmão em Crhisto.

Saudações

Com muito prazer acuzo o recebimento de sua prezada carta de 11 de Maio p.p. de cujo conteúdo estou sciente.

Como deve saber, em Maio p.p., tivemos a nossa 2ª Convenção na nosso Egreja em Rio Novo, onde passamos ali uns dias bem espiritual reunidos aos convencionistas e irmãos etc.

Depois disto, já fui alli para tratar de assumptos de alta importância com relação ao Missionario para essa zona, que, ao meu ver Deus está chamando sem perca de tempo.

Nosso Pastor o Dr. Butler, vai nos deichar retirando-se para Curytiba em vistas disto estamos insistindo com o Irmão Deter, mandar-nos o Irmão Manoel Virginio.

Domigo p.p. esteve aqui o Irmão Butler, que veio despedir-se e também pregar os seus esclarecimentos da Palavra de Deus, tereiá muita gente se o tempo não fosse tão chuvoso como foi, acompanhado de uma grande friagem, enfim Deus nos dará melhor opportunidade.

Em vista da sua informação com relação a sola, já mandamos por intermédio da casa Hoepcke de Florianopolis, um rolo com 20 metros como amostra para ver se convem mandar mais ou continuar a mandar. No entanto ficamo-lhe agradecido pela sua boa vontade.

Terminando desejamo-lhe muitas bençam de Deus para que lhe dê boa saúde e muita sabedoria nas cousas boas para que as anuncie, e aceite lembranças de todos desta casa e receba um saudoso abraço do

Seu irmão em Jesus

Onofre de Paula Regis

Enfrentou a noite enluarada | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 30 de junho de 1920

Querido Reini!

Primeiramente receba muitas lembranças de todos de casa. Recebi a tua carta escrita no dia 3 de junho no dia 23 de junho. Obrigada! Já há tempo esperávamos cartas suas, fazia mais de um mês que não tínhamos recebido noticias.

Você ainda não recebeu a carta que mandei no dia 30 de abril? No mesmo envelope seguiram as cartas dos estudantes [Lúcia e Artur], e isso realmente é um grande prejuízo. Mandei no dia 25 de maio a resposta à tua escrita em 6 de maio, e ainda em 18 de junho uma longa carta com muitas notícias dos últimos acontecimentos daqui.

Agora as cartas tem ido e vindo muito devagar, talvez seja porque está chovendo pouco e deve ter pouca água no mar, talvez esteja vazio. Hoje está chovendo um pouco; se vai aumentar o nível eu não sei, porque chuva de verdade faz tempo que não tem havido. Às vezes chuvisca um pouquinho só para fazer lama, mas aumentar o nível dos rios, isso não acontece faz tempo. Quem também reclama da falta de água é o tafoneiro, que não tem água para moer o milho por falta de água.

Geadas tem havido algumas fortes, lá para baixo perto de Orleans, que atingiram bananeiras, canas de açúcar e mesmo as capoeiras. Mas aqui em casa a geada não matou nada: só duas manhãs amanheceram com alguma geada nas baixadas. A semana passada e esta também está bastante quente, como se fosse verão. Vamos ver quanto tempo isto vai continuar.

Agora estamos colhendo milho e despejando no paiol.

Hoje é o último dia de aula para os estudantes. No mês que vem parece que não vai haver aula, pois ainda não se sabe quem vai ser o novo professor. O Butler no mês que vem vai para Curityba e agora está tomando todas as providências para a sua saída e a viagem. Está mandando arrumar todas as cercas porque quando chegar a Kate, que vai morar na casa dele, naturalmente não vai cuidar disso.

Este cuidado é para que o gado dele não fuja e vá estragar as plantações dos vizinhos. Os animais ele não pretende vender ainda, porque depois de um ano ele pretende voltar.

Agora a igreja de Rio Novo vai ficar novamente sem pastor. Quem virá para o lugar dele? Domingo atrasado o Onofre esteve em Rio Novo e apresentou uma proposta ao comitê de sucessão pastoral: que escrevessem para o missionário Deter dizendo que, uma vez que o Butler está indo para Curitiba, ele mandasse o pastor Manoel Verginio para morar em Laguna e dar atendimento a todas igrejas da região. O Comitê inicialmente aprovou de pronto essa ideia, mas para infelicidade de alguns. Aqueles da corrente contrária já começaram reclamar, pois a igreja naturalmente terá que colaborar com o seu sustento e outras despesas. Essa corrente começou a fazer barulho, mesmo sem ter chovido nada.

Durante a convenção alguns já tinham ouvido reclamações pelos cantos e beiras de estrada, mas agora esses começaram a gritar e reclamar, dizendo que quem concordou com os acordos e as novas normas que os cumpram. Dizem que o Butler quando traduzia [as conferências e deliberações] para a língua leta teria omitido partes, mas a realidade é que aqui tem gente que só entende o que interessa e aquilo com que concordam.

Quem maior barulho faz e mais reclama é o velho Karklin, que disse que se tudo não for traduzido para o leto ele e outras pessoas de idade não entenderam nada. Esse sabichão, que lê todos jornais do país e conhece de cor e salteado todas as leis, para nós foi longe demais.

Na sessão regular do domingo passado houve uma tentativa de homologação das resoluções havidas durante a convenção. Tinha chegado “O Baptista” de Curitiba com as atas e novos estatutos decididos nesta última convenção, e o comitê queria aproveitar ainda a estada do Butler para normatizar todos estes assuntos.

O primeiro assunto foi a “Grande Campanha”, cujo alvo é 22$500 por ano, que acharam demais. O Karklin concordou com o dízimo, pois quem ganha mais, mais terá que dar. Ele disse que os outros dão o dízimo, mas a igreja manda para qualquer Sociedade Missionária que ninguém conhece e nem dá satisfação. Ele estava bastante descontrolado. Disse que ele alguns anos dá mais que o dízimo, que é 10%; ele teria dado 14% e até 15%, e insistiu que sabia calcular muito bem.

O Butler reconduziu a ordem e explicou que o dinheiro não vai faltar desde que não se gaste com supérfluos e assemelhados. Se os rionovenses fizerem tudo o que é preciso, não haverá problema nem de falta de dinheiro. O [jornal] Baptista deverá vir de graça, mas é solicitada uma coleta para ajudar na sua divulgação, e se a coleta for muito pequena será enviada uma oferta do caixa da igreja.

Será também feita uma coleta para a Sociedade Missionária da Letônia e depois enviada para o Deter, que providenciará seu envio para o seu destino. Isto irritou ainda mais o Karklin, pois assim ele não foi reconhecido como grande defensor da pátria de nascimento. Ele não tem razão, porque daquelas coletas anteriores ninguém viu comprovante de que o dinheiro tenha chegado lá. Também aquela campanha para os refugiados de guerra, ninguém sabe onde o dinheiro ficou. O Karklin, em vez de mandar direto para a Letônia, mandou para França e eles de lá mandariam para a Letônia. Mas o caso é que, se realmente mandaram, foi para o governo da Letônia, assim os refugiados não viram a cor do dinheiro.

O Lamberts do “Drauga Balsis” [“A voz do amigo”, jornal da denominação batista na Letônia] recomendava que todas doações para os necessitados fossem mandadas para as igrejas de lá, ou endereços pessoais de gente conhecida, senão o governo de lá fica com tudo.

Mas não foi desta vez que chegaram a acertar tudo, e parte ficou para outra vez.

Algumas damas que cantam no coro faz quase um mês que não puderam se apresentar no “palco”, pois estão com os tímpanos partidos; o Watsons tinha falado tão alto que parecia que estivesse falando para uma platéia de surdos, e também na orquestra os rapazes tinham tocado muito alto. Parece que elas não sabem dos inúmeros elogios que os componentes da orquestra receberam dos pastores por terem apresentado músicas maravilhosas de hinos usados na América do Norte e na Inglaterra.

Bem, quem ainda não estava com os tímpanos partidos deve ter ficado na noite do domingo passado quando, por ocasião daquele trabalho especial dos jovens, a orquestra tocou o hino 400 do Cantor: “Igreja, alerta”. Eles ouviram este hino pela primeira vez apresentado pelos mensageiros da Convenção e em seguida o Butler ensinou a cantar, e agora os rapazes da orquestra já tocaram com a maior vibração. Se o Deter estivesse aqui e tivesse ouvido, teria ficado muito satisfeito que o pessoal gostou da música que eles cantaram.

Há uma pequena parte da igreja que nada contra a corrente e diz que não vai quebrar a língua aos pedaços para cantar em brasileiro. Algumas dessas pessoas em outros tempos já tinham cantado em brasileiro, mas agora a roda girou para trás.

O Roberto [Klavin] conseguiu por sorte terminar o trabalho e voltar para casa para as conferências, e colaborou intensamente para o sucesso dos trabalhos. Agora ele está construindo uma fábrica de farinha de mandioca no Rio Larangeiras e o Arnoldo Karklim estava trabalhando para ele como ajudante, mas logo no início trabalhou com tanto entusiasmo que fez um corte no pé e com isso parece que bastou.

Por que o [Fritz] Jankowiski não voltou para o seminário este ano? Aqui, apesar de inquirido, ele não deu uma resposta clara. Já na primeira noite o Leimans quis saber por que e qual a razão pela qual ele não voltou a estudar este ano. Ele respondeu que este ano as circunstâncias não tinham sido favoráveis, mas que no próximo se as coisas mudarem ele irá de novo.

O que ele tem escrito para você sobre o Rio Novo, dizendo que encontrou tudo bem diferente do que imaginava, e que as pessoas que ele conhecia por nome e informações também não eram bem assim. O Karlis Ignausku, que tinha estado em Rio Novo, tinha contado que os Karklis eram pessoas muito enérgicas, mas ele não pôde observar essa
energia, embora o velho seja realmente um tipo enérgico.

Você poderia transcrever as impressões de viagem dele sobre o Rio Novo e o que ele viu de bom ou diferente. Esta semana o Arthur recebeu uma longa carta dele escrita no dia 5 de junho. Ele tinha conseguido chegar em casa no dia 4 de junho. Tinha saído daqui de Orleans no dia 26 e no dia 30 pegaram o “Max” de Laguna até Desterro [Florianópolis] e na segunda-feira a noite pegaram o “Anna” até Itajay. De lá o Looks foi a pé, beirando o mar até em casa.

Mas ele [Fritz Jankowiski] ainda queria conhecer Blumenau e então pegou um naviozinho até lá. De lá ele iria pegar uma carroça para ir até em casa, mas não deu certo encontrar as ditas carroças, então enfrentou a noite enluarada com a mala e bagagem nas costas, como se fosse um mascate, e depois de doze horas de marcha chegou a Rio Branco.

Parou primeiro na casa dos pais e da irmã, que encontrou quieta e vazia. Já na casa dele encontrou cheia de gente. Tinha chegado o Waltauris de seu Castelo da Felicidade que é Porto União. Aqui ele já tinha falado da possibilidade de quando ele voltasse este estivesse lá pela casa dele. O pai dele não estava em casa porque ficou doente no dia 31 de maio e viajou de trem para Rio Negro para se tratar com médico.

Os outros que saíram da Convenção ficaram retidos cinco dias em Imbituba esperando navio.

Bem, hoje chega. Vou esperar uma longa carta sua. Como se passaram os seus dias livres? Foi algum outro leto para a “Chautauqua”? Os, jornais, vais continuar nos mandar? Nós só recebemos um pacote e faz muito tempo. Este ano eles voltarão de mandar de cortesia o “Drauga Balss”?

Muitas lembranças de todos nós aqui.

Olga

A luz da lamparina tão fraca | Roberto Klavin a Reynaldo Purim

12 de junho de 1920, Invernada

Querido amigo!

A tua carta escrita no Rio de Janeiro recebi quando voltei para casa de Mãe Luzia no fim de abril. Fiquei só dois dias em casa, pois fui trabalhar em outro serviço no Rio Larangeiras. Lá pensei que tivesse oportunidade de responder para você, mas com tanto serviço e tantas complicações e a luz da lamparina tão fraca não é nada de prático — não é possível fazer, e o que pode resultar disso é prejudicar a visão.

Ah! Como gostaria de estar em casa para estudar com boa luz as lições da Escola Dominical, ler os jornais e aprontar-me para a Convenção e as Conferências que estavam chegando bem perto.

O período que passei em Mãe Luzia foi mais de três meses, e aproveitei para conhecer o povo leto de lá e seus costumes. Porém nada importante existe por lá. Os “homens espirituais” [pentecostais] continuam a sua atividade por lá e sempre indo em frente.. Eu não fui ver nenhuma vez.

Descobri também que os rapazes letos, malandros, têm feito muita molecagem [com os pentecostais], por exemplo: aberto furos no forro da casa onde eles se reúnem, trancado as portas por fora e aberto as portas quase arrancando das dobradiças. Numa oportunidade em que os “fiéis” estavam em grande êxtase e pulando descontroladamente, esses meninos entraram jogando pimenta moída no pilão, acertando em diversas pessoas e na esposa do Karlos Amdermann. Jogaram direto na boca, e aí pode imaginar o que aconteceu…

Em outra ocasião os brasileiros e italianos começaram a apedrejar a casa do Anderman, quebrando muitas telhas. Se os letos não tivessem dado o mau exemplo esses outros provavelmente não teriam tido também este mau comportamento.

O Emilio Andermann, no começo de maio, viajou para Nova Odessa para morar com o André Leeknin, e logo depois da Convenção o João Klava foi para lá também.

Os participantes da Convenção do Paraná ficaram aqui muito pouco tempo, pois chegaram na segunda-feira e no sábado foram embora. Os de Rio Branco ficaram mais uma semana e também foram embora.

As Conferências se desenrolaram muito bem. Para nós no Rio Novo está começando um tempo muito triste, pois o nosso pastor vai deixar daqui um mês o Rio Novo e vai embora para Curityba. Como vai ser depois que ele for embora somente o futuro poderá mostrar.

Desta vez só tenho notícias tristes e nenhuma alegre. Terminando, receba muitas lembranças de seu amigo

Roberto Klavin