Essa doença universal chegou até a nossa casa | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 8 de janeiro de 1919

Querido Reinhold!!

Esta noite te escrevo esta carta e faz tempo que não recebemos notícias suas. – A última carta recebi no dia 14 de dezembro, e tinha sido escrita em 28 de novembro. Neste mesmo dia eu mandei um Cartão Postal. E no dia 19 de dezembro mandei longas cartas do Arthur, da Luzija e minha, todas juntas num só envelope. Você as recebeu? Antes não mandamos nada, pois não sabíamos onde irias passar as férias. Amanhã vou a cavalo até a cidade ver se chegou alguma coisa.

Desta vez não tenho nada de bom para te escrever. Nós estaríamos passando bem se não fosse essa epidemia [de gripe espanhola], essa doença universal, que chegou até a nossa casa. Pode ser que você já tenha esquecido dessa doença, mas foi só agora que ela chegou até aqui.

Faz tempo que esta epidemia estava em Orleans e aqui no Rio Novo também, mas aqui em casa começou com uma dor de cabeça e um cansaço, moleza do corpo. Como o dia estava muito quente, pensei que fosse por causa disso. No outro dia não tinha mais nada, somente um pouco de tosse, e assim a minha doença cedeu com um bom sono. A Luzija teve que ficar deitada no dia do Ano Velho. O Arthur e a Mamma depois do Ano Novo. Nós quase não ficamos acamados, mas somente com muita tosse. Mas com o Papus [“papai”, Jahnis Purens] que sempre aguentou firme enquanto os outros estavam doentes, começou no domingo e ele foi para cama mesmo — e está mais tempo do que nós todo mundo juntos. Hoje parece que está um pouco melhor.

Aqui parece que não teve nenhuma casa onde não houvesse alguém doente. Agora os Klavim e os Leiman estão doentes. Aqui nas colônias não é tão forte, mas lá em Orleans diversos brasileiros já vieram a falecer devido a essa doença; também muitos, depois de passar um bocado difícil, vieram a se recuperar.

Em Orleans foram improvisados dois “hospitais”: um no cinema e outro na casa do Jurk Jakboson. Alguns letos que foram visitar estes lugares disseram que num lugar destes é muito provável que os doentes só possam piorar e dificilmente possam sarar, por não haver a mínima ventilação: as janelas são mantidas todas completamente fechadas e devido a esse fato lá dentro faz mais calor que uma sauna.

Agora aqui o tempo está quente e seco e tudo está secando. Faz mais de uma semana que não chove nada, e antes desta [última] chuva já houvera um período de duas semanas sem chuvas. Aquela chuva molhou até que bem, mais veio um vento forte e levou a chuva embora, bem como toda umidade, e agora está um céu limpo sem sequer a mínima nuvenzinha em qualquer dos lados do horizonte. O vento quente continua castigando e o milho que está começando a pendoar (florescer) está bem amarelado.

Bem, mas preciso descrever as festas. Essas foram muito boas. O tempo estava seco e as estradas boas.

Na Primeira Festa pela manhã teve culto nos Paegles e eu e a Luzija estávamos desde a manhã, pois tínhamos descido até lá a cavalo. Logo depois do almoço chegaram o Roberts, o Augusts e o Wilis Klavim, mais a Isolina, e continuamos a cavalo até o Rio Larangeiras para festejar o Natal com pinheirinho. O pinheirinho foi cortado na propriedade dos Paegles; o Roberto saiu na frente levando a árvore e nós logo atrás, só faltando os alunos da Escola Dominical para parecer uma procissão de Natal.

Quando lá chegamos o sol ainda estava alto, então decoramos o pinheirinho com enfeites e velas. Não era grande. Era menor do que os outros anos, mas depois de enfeitado ficou mais bonito do que os dos outros anos.

O programa foi bastante longo. Todos os hinos, poesias e apresentações eu não teria condições de descrever. Só o Roberts cantou três solos acompanhados de violão: o primeiro com a letra do hino 32 do Cantor Cristão mas a música do hino 24 do “Musu Dsiesma Gramata [Hinário leto] – Seção Ceribas Auseklis”; o segundo foi com a letra do hino 51 mas com a música do “Bernu Kokle” [Hinário leto infantil] e o terceiro foi o de número 303 com uma melodia para mim desconhecida…

[NOTA: Observa-se um esforço para se cantar em linguagem compreensível, mas sem deixar de lado as conhecidas melodias dos hinários letos]

A Isolina e a Margrida fizeram um dueto cantando o hino 193 e se saíram muito bem. Outros hinos que a congregação cantou em conjunto foram os hinos: 210, 60, 448, 438, 323 e depois ainda o clássico “Noite de Paz”com a letra que veio no Jornal Batista no ano passado — se tiver tempo você pode conferir.

Em matéria de música eles lá vão muito melhor [do que antes], pois agora cantam com acompanhamento de instrumentos ou sem eles também. Já estão equilibrados e se sustentam com suas próprias pernas. No Caixa desta Escola Dominical tinha 40$000; quanto foi gasto não foi informado direito. Visitantes não havia tantos quanto os outros anos; uma explicação é que devido à epidemia da gripe diversas pessoas tem evitado ajuntamentos, a outra é que o sacerdote católico está assustando as pessoas que frequentam os cultos e outros trabalhos batistas com a excomunhão.

A volta para casa foi boa; chegamos lá pela uma hora da madrugada.

Agora chega. Outra vez eu escrevo mais. Ainda muitas lembranças no Magrida da Silva e Domingas de Medeiros [frase em português no original] e mui amáveis lembranças do pessoal de casa.

Olga

[Escrito na lateral:]
9-1-19 – Hoje recebi os jornais de 14-12-18. Carta, nenhuma. Vou ter que esperar mais. Sinceras lembranças da Olga.