Tradução da última carta escrita por Olga Purim para Reynaldo Purim – 1926 –

[Última carta escrita pela Olga numa data muito próxima ao seu falecimento]

Rio Novo 11 de junho de 1926
Querido Reini:
Saudações!!
A tua carta recebi na última sexta-feira e hoje já estou começando a escrever a resposta e talvez ache que seja rápido demais. Pela carta muito obrigada!
Se bem que esta carta realmente não me deixou satisfeita, mas você pouco vai se importar por que eu não gostei que você fosse embora para a América e a sensação que eu tenho que nunca mais vais voltar e eu nunca mais vou te ver por que lá e realmente muito distante.
Isto aconteceu um dia antes do recebimento das cartas. A Lúcia esteve com o Augusto Klavim pedindo que trouxesse a correspondência, pois nesta semana ninguém de nós foi à cidade. Naquela noite eu sonhei que tu tinhas chegado e trazido muitas coisas [“Mántinhas” Difícil tradução, pois “Mant” quer dizer riqueza, mercadoria, então como está no diminutivo poderia ser traduzido como” Coisinhas ricas”] lindas e disse que tão logo não iria embora. No sonho nós andávamos pelas roças lá perto da mata no alto do morro e eu ainda era forte e podia andar tão rápido como quando você ainda morava aqui e tudo era tão maravilhoso. De manhã quando acordei pensei e tinha certeza que o Augge iria trazer cartas suas e como realmente trouxe, mas com notícias todas ao contrário do que eu estava esperando, pois você quer ir para mais longe ainda. Eu e o Arthur tivemos combinando escrever para que agora que já os estudos estão terminados, você poderia tirar neste inverno umas férias mais prolongadas ou uma licença de 5 ou 6 meses para tornar a viver um pouco entre nós e é possível que os filhos do Leiman venham passar uns tempos entre nós. O Fritz escreveu que quer vender o terreno lá do Rodeio do Assucar. A Lúcia já te escreveu, mas parece que está foi extraviada. Se você tiver bastante dinheiro poderá vir aqui para comprar. Se o Arthur tivesse dinheiro ele compraria, pois ele gosta muito mais de lá do que aqui. Ele não pensa de estudar na América. Eu também gosto mais de lá, pois lá é bem melhor que aqui em Rio Novo, pois a topografia não é tão montanhosa, bastantes terras aráveis, a mandioca se desenvolve muito nos dois anos com raízes duas vezes maiores que aquelas aqui do Rio Novo e quando a farinha tem preço é muito mais fácil de fazer a farinha do que cultivar e colher feijão que é um trabalho muito mais penoso e também a mandioca pode ser usada para engorda de porcos economizando milho e assim não há tanta necessidade de plantar tanto milho. Eu de lá também gosto é do pasto. Nós agora necessitamos muito de pastagens, pois temos 20 animais entre bois e vacas e mais 8 cavalos entre os grandes e pequenos. Também lá não tem aquele maldito “matbaste” [“Matbaste” é a pronúncia e escrita incorreta de “Mata-pasto” a popular guanxuma] que infesta as pastagens aqui do Rio Novo. A renda proporcionada pelas vacas no verão é compensadora. O quilo da manteiga foi a 4 mil e se o Leiman vender o terreno para outros então nós também teremos vender as vacas por que aqui no Rio Novo não teríamos espaço no e qualidade da grama no pasto apesar do “matbaste” ter sido cortado com alfanje, mas a terra aqui é mais seca e então teremos plantar grama em outras áreas e capinar seguidamente senão o mato toma conta de tudo e a grama não sobrevive. O Arthur sugere que você venda o terreno da Bukuvina e compre lá o terreno dos Leimann. Lá não tem as tremendas grotas da Bukuvina que fizeram abalar inteiramente a minha saúde. Os Italianos correm como loucos atrás de terrenos com mata e capoeiras para comprar, mas não sei se algum deles vai levar.

A novidade é que nós logo vamos ter um vizinho novo, pois o Butler vai vender o terreno dele para o Attis [Otto Slengmann]. Ele tem terreno e mora no Rio Larangera, mas está muito deslocado em relação à comunidade leta. Então ele vai vender lá e comprar junto, pertinho da própria Igreja. Eu vou te escrever contando tudo depois dele mudar.

Agora eu vou ter que dar uma bronca. Você mesmo não poderia tirar um tempo, uma semana só para visitar os nossos parentes de São Paulo. O Paps faz tempo que pediu para pressionar você. Se nós tivéssemos condições então já há tempo alguém de nós teríamos ido visitá-los. Nós somos tão poucos e ainda por cima se eu não estivesse tão doente então a Lúcia teria ido. Mas para você é realmente muito mais fácil. Numa semana sem avisar ninguém chegar lá e ver como vivem por lá. Sempre achei que eles não estivessem passando muito bem e terem que trabalhar muito. E também a alimentação deve ser muito difícil. Nós aqui a carne, o leite e os adoçantes (Açúcar e mel) nunca a gente consegue gastar tudo, mas lá tudo é tão caro. O Willis Ochs quando mudou para lá levou banha e carne e quando estes terminaram ele gastou um dia inteiro a procura de banha e não encontrou. Depois conseguiu um quilo de toucinho e por ele teve que pagar 8$000. E como comer então?

Agora alguma coisa sobre a minha enfermidade. Quando escrevi outra vez, eu estava em Orleans tomando injeções. Mas não aquelas que você mandou, pois o farmacêutico disse que aquelas não serviriam e que ficaria pior, mas umas outras que ele receitou. Então comprei uma dúzia e ele aplicou, mas não adiantou nada e ainda fiquei pior. Então depois o Stroberg também precisou aplicar umas injeções e o malandro do farmacêutico também disse que aquelas trazidas por ele de Varpa não serviriam. Mas ele enfrentou com braço forte e sangue nas veias; então ele aceitou aplicar as injeções prescritas pelo pessoal de São Paulo e que serviram em outras ocasiões e agora foram válidas outra vez. O farmacêutico ficou envergonhado, depois da melhora do Stroberg.. Agora não tenho forças para ir, a Orleans e estou me tratando com água [Hidroterapia] e chás. Estive consultando o doutor que vem todas as semanas das Minas [Lauro Müller] para Orleans e ele falou que o meu mal é de água [Não sei o vem ser mal da água – Será Hidropisia?] e o sangue envenenado [Asinis sagifetas] e com a circulação em contrário. Queria que fosse lá para as Minas para retirar a água com uma bomba e morar lá no hospital onde receitaria a medicação e onde ele diariamente poderia acompanhar e senão fosse procurar um hospital em outro lugar, idéias que realmente não me agradaram. A Mama trouxe do Zeeberg um livro em alemão com ilustrações onde existem figuras associando o problema do coração com o mal da água, mas bem certo o meu problema não aparece descrito nos desenhos. Comer, eu gosto de comer, mas não todas coisas que antes eu gostava. Dormir antes eu dormia bem, mas agora quando eu deito começa uma tosse então o sono não vem. O peito e o esôfago [Pakrutis] estão inchados e sensíveis e quando tento andar rapidamente, fico exausta e dá uma grave falta de ar. Forças não tenho nenhuma, somente posso ficar sentada então somente consigo tricotar ou costurar e o mais difícil é que eu sinto um frio terrível. Principalmente nas mãos e nos pés que já estão doentes. Quando está frio os lábios ficam roxos e pelas manhãs os olhos e a face amanhecem inchados e às vezes a cabeça dói um pouco. Também não suo. Nem no pleno verão quando os outros estão completamente suados eu sinto calor, mas não suo. Também no tratamento quando tenho me envolver em um lençol quente e ficar inteiramente coberta o suor não aparece. Estou escrevendo isto tudo, pois poderás ter um conselho e poderias fazer o favor de escrever. Quando às vezes eu penso que antes eu podia andar e trabalhar parece um sonho distante e impossível que nunca aconteceu.
Bem agora chega de escrever. Você sempre escreve cartas curtas. Esta saiu uma longa carta.. A Lúcia já começou e é provável que já tenha terminado. O Arthur na vez passada escreveu, mas agora ele diz que não tem tempo para escrever, pois ele está comprometido com a fabricação da farinha de mandioca. Você escreve que lá está tudo caro e aqui está tudo muito barato. A Farinha a 5$000, o toucinho a 15$ – 16$000 a @, mas aquelas coisas que a gente tem que comprar nunca podem estar baratas.—
Agora vou esperar uma longa carta sua. Escreva quem vai pagar a tua passagem e quando vais viajar e se terás o dinheiro suficiente. Onde você vai guardar as tuas coisas ou vai levar tudo junto?
Aqui o tempo está frio, mas as grandes geadas ainda não chegaram, mas vai esfriar demais, pois, sopra um vento gelado.
No domingo passado houve o funeral do Reinold, criança de 6 meses filho do João Leepkaln..
Ainda muitas e amáveis lembranças da Olga.

Bem por hoje chega. Sobre as demais coisas a Lucia já escreveu. | de Olga Purim para Reynaldo Purim – 1926 –

A CÓPIA ORIGINAL DESTA CARTA FOI PUBLICADA NO GRUPO 23 -FOTOGRAFIAS

Querido Reini:
Saudações!
Recebi a tua carta na semana passada. Obrigada! Você tem mesmo ficado muito egoísta e nestas cartas que com um só tiro quer matar dois coelhos tem ficado minúsculas. Se comparar com as antigas de anos anteriores que nos temos todas guardadas. Naquelas você descrevia tudo, o que você fazia e tudo o que acontecia etc.. Você diz que não conhecemos o seu modo de vida, então não vale à pena escrever. Mas você escrevendo e descrevendo nos acabaríamos nos familiarizando com e quem sabe pudéssemos ser mais atualizados e conhecer um pouco da vida de sua cidade.
Agora vou passar uma série de perguntas então favor responder. Onde moras agora? Onde fazes as refeições? Quem lava e passa a tua roupa? Neste período quantos são os alunos na escola? Existem letos na escola ou não? Tens encontrado algum destes? Este ano vais mandar os “Sellmallas Seedi” ? Quero saber sobre tudo isso e você pode se esforçar um pouco e escrever sobre tudo isso. O Arthur [Arthur o irmão mais novo da família] disse que você deve uma carta e agora deverá pagar com a percentagem devida. Também disse que não vai escrever mais porquê não tem tempo, nos dias de semana tem que trabalhar e aos domingos tem que ir a Igreja. Aos domingos à tarde quando o Venis [Deve ser o Werner Feldsberg] morava ai perto ele sempre ia passear lá agora ele vai à casa do vizinho Augge [Augusto Feldsberg, vizinho] conversar com os outros meninos. Nas noites dos Domingos ele tem que ir aos ensaios do grande coro onde ele canta o baixo e no coro de Jovens ele é tenor. Nas noites dos dias de semana ele tem que ler livros e assim o tem vai. O Venis durante a Páscoa desceu da Serra [Veio de Urubici] e contou que estava muito bem e que lá o clima é parecido com o da Europa. [Deste ponto em diante a carta passa a ser escrita a lápis talvez por falta de tinta, pois ela não estava em casa e sim morando em Orleans devido à enfermidade] Então sobre outras coisas vou escrever. Os remédios chegaram, mas não serviram. Terei que vender para outra pessoa. Agora o farmacêutico receitou outros remédios que diz serem bons para purificação do sangue. Vou aguardar os resultados e sobre o tratamento com água não possível efetivar e por que eu escrevo depois. Agora não consigo mais trabalhar. Qualquer esforço por menor que seja me canso rapidamente demais. Se houvesse um bom médico, (doutor) então, eu iria consultar. Mas aquele doutor que eu fui consultar no ano passado em Tubarão, ele queria só operar sem mesmo saber o havia por operar. Ele falou que tinha úlceras [Ou tumores] no fígado e se fosse assim depois de tanto tempo, teriam aumentado o que não aconteceu. Eu sinto o peito (esôfago) [Pakrutis] sensível, mas não sempre e não dói também. Se doesse, tivesse aumentado, então, teria autorizado a cortar.
Bem por hoje chega, sobre as demais coisas daqui a Luzija já escreveu. Quando você responder, eu escrevo outra vez.
Com lembranças da Olga