Geada em novembro | Lizete Rose Purim a Reynaldo Purim

11 de novembro
[NOTA: Não se pôde determinar ao certo o ano desta carta. Pela proximidade do casamento do Oskar Karp parece ser 1918, mas pelas notícias da guerra parece 1917]

Querido filho!

Muitas e sinceras lembranças de nós todos. A tua carta escrita em 23 de outubro recebemos ontem, e a carta escrita em 19 de outubro recebemos hoje pela manhã, pois já há tempo estávamos esperando. Como você não virá para casa, mais uma vez, já nos estamos acostumando com essa ideia. Possivelmente seja melhor que seja assim, que fique longe… Eu pessoalmente de boa vontade gostaria que você viesse, pois teríamos assunto para conversar uma semana sem parar. Mas não devemos desesperar pois, se for a vontade de Deus, um dia ainda vamos nos encontrar.

Os rionovenses [NOTA: Membros da igreja batista de Rio Novo] te esperam por aqui; porquê, eu não sei. Principalmente os Bruder Matchs e outros. Sempre que encontram algum de nós, querem saber quando é que você vem para casa.

O Inkis não vem mais. Acharam muito petulante, pois ele estava pedindo muito dinheiro para a viagem. Pediu 500$000, pois viria de primeira classe e junto com a esposa. Escreveram para que ele viesse com o dinheiro dele e fizesse o trabalho, e aí iriam ver quanto cada um poderia dar…

Se você tivesse planejado vir, poderia assistir às bodas do Oskar [Karp] que estão previstas para dia 13 de dezembro. A senhora Karp chora aos prantos, mesmo lá na igreja, por causa do filho pouco inteligente. Mas o que fazer; o casamento já deveria ter sido realizado mas a senhora Bruder esteve muito doente, para morte mesmo; ainda não está boa, mas está bem melhor, parece que é um pouco manhosa. Tudo isso foi agravado porquê o velho brigou com o Pinho e este imediatamente mandou as contas atrasadas, para que pague toda dívida, que passa de 600$000 — isso só no Pinho, fora as dívidas em outras vendas, e isso leva a velha ficar bem descontrolada.

Estamos enviando 200$000 em dinheiro e esse ano não espere mais; ano que vem eu não sei como será. As preocupações com dinheiro sempre me atormentam, como fosse uma ideia fixa. Bem, não se preocupe demais, sempre quando tivermos dinheiro vamos mandar, mas se esse for suficiente, isso gostaria de saber.

Aqui se fala que o Brasil declarou guerra com a Alemanha. Dizem que estão perseguindo os alemães que moram nas grandes cidades, mas se isso é verdade eu não sei. Não acredito, pois sei que junto de vocês também têm alemães e você até agora não escreveu nada.

A senhora [Eva] Leiman está aconselhando que se por acaso a coisa venha a piorar você deve ir ao encontro do Karlis [Carlos Leiman] — diz que ele sempre te espera. Ele tem te escrito sobre isso?

Estamos passando bem e todos com saúde. Somente as plantações não querem crescer, por causa da seca e completa falta de chuvas. O tempo está ainda bastante frio. A última chuva foi no dia 16 de outubro, e ainda ontem deu geada nas baixadas. O vento seco e frio sopra o dia inteiro, e se por acaso ainda cheguem os gafanhotos, aí será a fome.

Agora chega. Com muitas e sinceras lembranças,

Mamma [Lizete Rose Purim]

Não serão acesas as velinhas da árvore de Natal | Arnold Klavin a Reynaldo Purim

Invernada, 10-11-1918

Querido amigo!

Não sei como estás passando. Eu estava planejando, quando viajar para São Paulo, dar um pulo para te visitar no Rio, mas a passagem até lá é muito mais cara do que daqui até Santos. A minha mala com toda herança já estava pronta para a viagem, mas como ouvi dizer dos problemas de viagens e a influenza que grassa por toda parte, achei melhor ficar mais um tempo por aí.

Aqui na Igreja do Rodeio do Assucar a Escola Dominical resolveu que não serão acesas as velinhas da árvore de Natal, por não haver uma paz nem uma harmonia compatíveis com a festa de Natal.

Agora, a Escola Dominical de Rio Laranjeiras está se aprontando a todo vapor para as festas. Eu, se tudo correr bem e não viajar para outro lugar, devo dar um pulo lá nas serras.

Este setembro se apresenta muito chuvoso; muita gente que tem coivaras para queimar não consegue, e elas estão ficando verdes outra vez. O Gludinhs também foi para Nova Odessa. O Juris (Jurka) contratou a limpeza e a colheita do algodoal do sr. W. Leeknim.

Você sabe, se dentre os seminaristas tem alguém doente com a influenza? Estão falando que ela já está em Tubarão, e quanto eu sei não chegou a Orleans. Onde você passou as férias? O Guedes morreu no dia 6 de outubro.

Com muitas lembranças,
Arnold [Klavin]

Um choque | Arthur Leiman a Reynaldo Purim

Rodeio do Assucar, 9 de nov. de 1918

Querido Reinhold! O Senhor esteja convosco. Não sei se esta carta irá encontrá-lo lá. Ontem eu trouxe uma carta para o teu pai em que tu também me dirigiste algumas linhas. Obrigado. Hoje pela manhã o Arnolds trouxe aquela carta que escreveste para nós em geral. Agradecido.

Mesmo que não queira me queixar, não posso realmente dizer que vou bem. Semana passada recebi um choque, como que fosse de tempestade ou de um raio que me tivesse caído na cabeça, que me deixou tonto e quase desorientado. Não me considero culpado em hipótese alguma, mas alguns me acham assim.

As reuniões das quintas-feiras à noite, com muita tristeza, terminaram. Pode ser que depois do Ano Novo possamos recomeçar. Os cultos das quartas-feiras continuam, mas quando um dirige desagrada outro e às vezes, quando é outro, aí desagrada o terceiro. Outros não gostam do presidente, pois acham-no muito tolerante, sendo que deixa as coisas correrem com nada estivesse acontecendo.

Você pode se preocupar, quase se matar de trabalhar e a recompensa é esta. Até agora tenho trabalhado até os limites das minhas forças e dos meus conhecimentos nas Escolas Dominicais, distribuído literatura, dirigindo cultos, ensinado a cantar e música tanto em leto como em brasileiro. O grupo de brasileiros é de aproximadamente 38 pessoas, e dos letos um pouco menor. Mas o que se pode fazer?

Não queria sair para o bem da igreja, mas agora sinto do alto uma sensação como que alguém me determinasse a ir embora e mudar-me daqui porque minha missão já teria sido cumprida aqui, e uma pessoa com vontade não pode ficar entre aquelas que nada fazem e nada querem.

Este ano está havendo guerra. Vou esperar passar o Ano Novo e depois, aconteça o que acontecer, vou tomar a minha decisão. Também não pergunte a ninguém os motivos, pois o estrago pode ser maior.

Os gafanhotos que pousaram estão pondo ovos e nascendo aos milhares, como pequenos demônios.

A Escola Dominical está se aprontando para as Festas e, como sabes, tenho mais trabalho do que forças para dar conta.

O tempo está seco e eu estou cuidando de arar a terra, mas esta está muito dura. O arado vai trepidando, e à noite o corpo da gente está todo estropiado. Durante a hora do almoço tenho de mexer e cuidar das abelhas, e ontem sem mais nem menos uma me ferrou embaixo do queixo — mas mel, que é bom, este ano parece que vai ser pouco.

O que fazer? Teria ainda muito o que contar, mas estou a caminho para visitar o Onofre. Que tudo te vá bem –

Lembranças do teu Arthurs [Leimans]

Vens ou não | Victor Eggers a Reynaldo Purim

[Cartão postal em português, apresentado na grafia original]

São Paulo, 6. 11. 18

Prezado Reynaldo! O seu tio escreveu-lhe há tempo, a uma indagação de sua parte, que podias vir passar as suas ferias em casa d’elle. Até hoje, porém, não veio sua resposta, e o seu tio imcumbiu-me de perguntar-te si vens ou não. Esperando sua breve resposta, que desejo ser affirmativa,
saúdo-o
M amig
Victor Eggers

Lá foi até a meia-noite | Robert Klavin a Reynaldo Purim

Invernada, 04-11-18

Querido amigo,

A tua carta escrita no dia 13 de outubro recebi na semana passada. Muito obrigado. Agora vou escrever contando da nossa viagem para Mãe Luzia no mês passado, ou melhor, no dia 9, com a finalidade de juntos festejarmos o Jubileu de 25 anos de organização da Igreja Batista lá. Nós do Rio Novo éramos quatro: o professor, Franzis, eu e o August. No começo da viagem apanhamos uma grande chuva, mas que não nos deteve. Dormimos em Urussanga e no outro dia chegamos ao nosso destino. O pessoal de lá ficou com olhos arregalados com a nossa chegada, com um tempo tão fechado e sombrio. No outro dia fomos direto para J. Klawa para a festa. Chegaram todos que puderam. Ali foram apresentados saudações, hinos, coro de guitarras com suas apresentações musicais e assim a festa transcorreu muito agradável. A noite foi nos Andermann, e lá foi até a meia-noite. E na quinta-feira de noite também foi nos Akaldamenn, tão longa outra vez… Nesta mesma quinta-feira fui convidado para cavalgar até os Napalhem, e no domingo estes últimos me convidaram para dirigir o culto de domingo. Foi um grande culto que vou descrever em outra oportunidade. Nós no Rio Laranjeiras estamos nos aprontando para as festas. Agora do Arthur nada sei. O Theodoro está morando em Nova Odessa e ele vai muito bem. Muitas lembranças dos meus e minhas próprias. Teu Roberto Klavin.