Sobre a “manteiga dos sabatistas”

Mencionada aqui: trata-se da manteiga de amendoim. Os adventistas sempre foram os pioneiros em usar a alimentação mais natural possível, evitando o consumo de derivados de animais.

O nosso sistema usando o amendoim era assim: primeiro ele era torrado no forno de onde era tirado o pão de milho, que geralmente era feito aos sábados. O calor residual era suficiente para torrar o amendoim e assar as batatas doces. No dia seguinte o amendoim era limpo e moído duas ou três vezes na máquina manual de moer carne, somente mudando para um crivo mais fino. Em seguida era preparado numa frigideira ou caçarola com açúcar, leite e água até chegar no ponto.

Muito delicioso, podes crer.

V. A. Purim

Sobre o cultivo do feijão

Quanto ao cultivo do feijão preto (mencionado aqui), convém dar algumas explicações para as pessoas não afeitas a essa cultura:

A) Eram feitas duas plantações de feijão por ano, ambas consorciadas com o milho: a primeira na primavera, intercalada nas fileiras do milho, que era colhida em pleno verão quando o milho estava formando espigas; em seguida era plantada a safra da seca, que era colhida antes da colheita do milho já quase no inverno.

B) O feijão a que eles se referem e tinha valor comercial era o preto.

C) O termo “arrancar feijão” podia ser substituído por “colher”, já que era arrancado manualmente segurando-se pela parte bem junto ao solo (parte lenhosa). Quando se formava uma quantidade que a mão da pessoa não mais pudesse abraçar, era feita uma amarração com as próprias raízes, arrematando-se com uma passada das mesmas raízes entre os caules das plantas. Essa porção era chamada de “paveira ”e era neste caso pendurada na própria haste do milho já para terminar de secar.

D) “Bater feijão” era o trabalho de debulhar os grãos à custa de pancadas feitas com um “mangual”, ferramenta composta por duas hastes, uma da grossura (diâmetro) pouco menor da de um cabo de enxada, com dois metros e meio de comprimento, e outra do mesmo comprimento, só que mais fina e de madeira bem pesada, sendo as duas amarradas por uma correia de couro permitindo seu bamboleio.

O trabalho de “bater” era feito em cima de um pano forte de 10 metros de lado, estendido sobre a eira. Chegado o dia, sempre seco, era limpo um pedaço plano da roça onde era feita a eira e estendido este pano. Em seguida eram trazidas em feixes as “paveiras” que eram colocadas em fila, inclinadas em 45 graus primeiro para um lado depois para o outro (respeitando-se uma margem de segurança em toda a volta para que no momento das batidas não saltassem muitos grãos e não se perdessem).

Daí entravam em cena os homens com os “manguais” sempre em certa ordem, começando de um lado até o outro, em seguida outra faixa, até que tudo parecesse completamente plano. Em seguida era feita a viração das “paveiras”, isto é, a parte que estava inclinada para baixo ficava agora para cima e era novamente e sistematicamente batida.

Nesta altura eram retiradas as hastes estraçalhadas e a palha mais grosseira, e o que sobrava eram as vagens retorcidas, folhas cinza esverdeadas completamente esmigalhadas, que de tão moídas mais pareciam um chá mate, e por entre tudo isso milhares de grãos negro-azulados do rico feijão — mas não havia tempo para ficar admirando, pois já precisava entrar nova remessa.

Lá pela tardinha começava a peneiração, que não diferia de qualquer colheita de café. Uma certa quantidade do material era colocada na peneira de taquara ou de arame e sacudido horizontalmente para que os grãos, que são mais pesados, ficassem no fundo. Em seguida era tirada a palha mais grossa e depois era jogada várias vezes para cima, sempre contra o vento, num ângulo de 60 graus, aparando-se mais adiante na mesma peneira. É preciso alguma prática para não perder nenhum grão.

O ruído produzido por diversas pessoas batendo feijão era ouvido a grande distância, devido ao zunido gerado pela vara em movimento circular cortando o ar e abafando-se no colchão de feijão por debulhar. E quanto a reclamação das plantas do feijoeiro se entrelaçarem nas hastes de milho não procede, uma vez que todo mundo sabia que se a terra é boa e o clima favorável essas plantas sobem onde puderem, e era comprovação de uma safra muito boa.

V. A. Purim