Griego | Artur Leimann a Reynaldo Purim e Fritz Janowski

Buenos Ayers
952 Ecuador 952
Argentina

Marzo 31 de 1920
Buenos Ayres

Queridos Reini e Fritz Janowski,

Que vocês estejam passando bem. Estou aqui desde segunda-feira ao meio-dia. Agora já estou instalado em meu palácio, tenho o meu próprio quarto. Apesar de não ser grande é bastante confortável, e posso respirar ar puro, pois ele é bem alto.

As aulas vão reiniciar amanhã. Este ano temos um diretor muito bom, mas também muito exigente, que é o Sr. J. S. Hart.

As minhas matérias serão: Inglês, Griego, Matematica, Gramatica, Antigo e Nuevo Testamento, Historia de la Iglesia Primitiva, etc.

Teria muito o que escrever mas é melhor que não escreva tudo de uma vez, pois estudantes como vocês bem sabem que temos pouco tempo para ler.

Com sinceras saudações,

Tuyo no Señor,

Arturo Leimann

O excesso de humildade | Artur Leiman a Reynaldo Purim

Ramirez, Entre Rios

24 de março de 1920

Querido Reini!

A tua carta escrita em Rio Novo recebi algumas semanas atrás, mas como meu irmão Willis [Leimann] estava aqui e fazia tão longo tempo que não nos víamos, ficamos contando as alegrias e as tristezas um ao outro enquanto tomávamos o gostoso chimarrão; o tempo passou rápido e despercebido e assim não deu para escrever antes. Agora o meu irmão deverá já estar em casa e eu também no próximo domingo estarei viajando para a grande Babel [Buenos Aires] — a escola onde as aulas deverão começar no dia 1º de abril.

Agora estou passando bem, ainda que com os platinos é como dizem os alemães: “Es macht und kocht und gelit doch caputs” — e não pense que eles levam você em conta ou dão muita importância.

Se você tiver algum tempo escreva contanto sobre a fantástica Rio Novo e como você passou ou se deu bem por lá. De Buenos Aires devo te mandar algumas fotografias e alguns cartões postais e aí você vai pode me ver um pouco.

Você diz que ninguém vai te mandar embora [do Rio Novo] como um cavalo vadio, mas isso não iria mesmo acontecer, pois você nunca foi assim. Não sei o que poderia ser dito de mim.

Então chega por hoje.

Considere-se saudado pelo teu amigo

Artur Leimann

[Escrito nas laterais]
Saúde também o Fritz Janovski e que ele passe bem. Que não perca o entusiasmo e a coragem: o excesso de humildade pode ser prejudicial. Quando algum obstáculo é transposto e vencido cresce a alegria interior. Que Deus os abençoe.

O endereço para correspondência é:
Sñr Don Arturo Leiman
Ecuador, 952
Buenos Aires
Argentina

Mas assim mesmo é grande escritor | F. J. Janowoski a Reynaldo Purim

Rio Branco, 23 de março de 1920
[NOTA: Rio Branco era uma colônia leta entre Massaranduba e Bananal — atual Guaramirim]

Querido amigo Reinold!

Que a paz do Senhor esteja com você! Desejo em mais este ano de estudos todo sucesso, diligência e energia.

A tua carta recebi no dia 6 de março. Obrigado por tudo que me compartilhastes. É pena que as tuas esperanças para um breve reencontro não se concretizaram. Quanto à escola, ficaram dúvidas sobre a minha possibilidade de voltar, mas como um mistério indecifrável, os meus pensamentos e a vontade de voltar se desvaneceram com uma escura nuvem persistente que se abateu sobre a nossa família, que em outros tempos era um céu maravilhoso. Estou com coração e alma abatidos, e não sei como sair.

O pastor Karlis Leimanis declinou o convite para vir trabalhar aqui na igreja, e entendo porquê. O convite definitivo, como também a promessa do dinheiro para a viagem (300$000), que dependiam de diversas fontes, demorou muito para ser conseguido. Não bastou para que o Karlos pudesse deixar os seus compromissos já assumidos no ano passado junto a outras pessoas e tivesse certeza do cargo aqui na igreja. Agora que a igreja tem quase certeza que o Karlos Leimann não vem mais, está estudando a possibilidade de convidar o E. Akschembirse, mas continuam as dúvidas sobre a sua capacidade no trabalho nas missões.

Para a Convenção Batista de Paraná/Sta. Catarina, a ser realizada em Rio Novo, a igreja aqui elegeu como mensageiros a mim e o E. Looks, que deveremos às nossas custas ir até lá. Portanto temos que nos aprontar, para que lá pelo dia 15 de maio estejamos por lá em Rio Novo.

Agora mesmo, no dia 21 de março, a nossa associação “Sociedade Patriótica Leta” comemorou uma belíssima festa cívica a fim angariar fundos para ajuda dos refugiados letos da Grande Guerra. O resultado do evento foi de 400$000 ( quatrocentos mil réis).

Agora quem está hospedado aqui em casa é o seu avô [Jekabs/Jacó] Rose, que ao vir do lugar em que mora em Timbó, se perdeu e ficou vagando duas semanas até que conseguiu chegar até aqui. Aqui ele procurou trabalho para conseguir dinheiro para visitar o filho em São Paulo [Ludvig Rose]. Ele visitou todas as pessoas da comunidade leta, mas infelizmente nada conseguiu e agora está se aprontando para voltar para Timbó. É uma pena que uma pessoa com essa idade tenha tantas dificuldades.

Junto com esta estou enviando em teu nome a quantia de 22$000 para que seja aplicada na construção do templo da igreja batista de Pilares, que foi arrecadada pela nossa igreja. Junto eu mando do meu bolso 2$000 para as tuas despesas de viagem. Também envio uma fotografia onde quem aparece sentado junto comigo é o jovem R. Loks, rapaz de caráter firme, confiável, determinado em suas tarefas e obrigações e que nunca esteve um dia só em qualquer escola, mas assim mesmo é grande escritor e sonha com uma oportunidade para se aperfeiçoar em seus conhecimentos.

Como está o Seminário? Têm aparecido novos estudantes?

Com amável saudação e desejando tudo de bom,

Seu amigo

F. J. Janowoski

Nada do que acontece no mundo | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 21 de março de 1920

Querido Reinold!

A sua primeira carta do Rio recebemos no dia 18 de março, e o Cartão Postal de Laguna recebemos duas semanas depois de sua partida. Quem sabe demorou por causa da grande distância de Laguna até aqui. O Cartão Postal de Itajay demorou só uma semana, e até agora todas as cartas e cartões foram recebidos; esperamos que continue assim e será muito bom. Eu mandei uma carta escrita no dia 7 de março e espero que já a tenha recebido e lido.

Ficamos felizes que a sua viagem foi rápida e você chegou logo lá no Rio. Nós graças a Deus estamos passando bem e todos com saúde. Aqui nada de importante aconteceu.

O tempo está relativamente bom, já não chove tanto e alguns dias está parecendo realmente que o outono chegou. Mesmo os passarinhos não estão cantando mais como nas manhãs da primavera.

Você pergunta o que os rionovenses estão fazendo e qual é o assunto predominante em suas conversas. Como podem conversar alguma coisa com alguma classe, se a grande maioria não sabe nada do que acontece no mundo?

Toda a comunidade trabalhou cinco dias para a manutenção do templo: refizeram os muros dos alicerces do templo, consertaram as cercas, caiaram a parte externa e a interna e agora está com um aspecto bem mais agradável.

No dia 20 de março houve a Festa de Aniversário da Igreja. Na semana que precedeu a festa fez tempo bom até a noite que antecedeu: aí começou a chover forte. O outro dia amanheceu encharcado e lamacento, por isso não teve tanta gente como se esperava. Se o tempo tivesse estado bom teria aparecido muito mais gente.

De Mãe Luzia vieram algumas pessoas, mas o Roberto [Klavin] não veio porque não queria atrasar o serviço — e quando é para ganhar dinheiro ele deixa as festas onde elas estão, que ele não está nem aí. Ele até agora não voltou para casa.

Sobre a festa não houve nada que realmente tenha se sobressaído, que merecesse ser escrito. O Arnolds Klavim mandou uma carta de felicitações de Nova Odessa, SP, e da Igreja de lá veio um telegrama. Até o Oscar Karp foi falar em nome da União de Mocidade para felicitar a Igreja. Parece que ele queria fazer uma alocução, mas não se saiu muito bem. Estava com um Novo Testamento na mão, o qual folheava sem parecer achar o que procurava. Depois disse que a igreja devia ter mais paciência, compreensão e espírito de amor e tudo suportar, como Jó. Isto foi tudo que conseguiu uma pessoa que passou um ano acocorado em um banco de escola superior do Rio de Janeiro! Bem, assim foi.

O pobre rapaz foi complementado pelo Butlers, que explicou detalhadamente e com toda clareza que realmente devemos ter paciência e espírito de perdão, todas as vezes que alguém eventualmente ofende a outrem e acontecem mal entendidos. Porém quando uma pessoa está em pecado e deliberadamente fala mal ou prejudica diretamente outras pessoas, nem a igreja nem qualquer de seus membros precisa ter a paciência de um Jó. Deve-se usar toda firmeza e educação para explicar que ela vai ser afastada pelo comportamento inadequado, e isso nada tem a ver com paciência ou compreensão.

O Butlers esperava tempo bom e com isso visitas importantes e autoridades de Orleans, por isso ensinou para os alunos da Escola Anexa o Hino Nacional e o Hino à Bandeira, mas como eles não vieram as crianças cantaram assim mesmo, para que os adultos saibam que eles são bons para aprender. Outros disseram que nem em sete anos teriam apreendido um hino tão complicado, e as crianças aprenderam em apenas sete semanas.

Agora nas quartas-feiras e nos domingos à noite são cantados hinos em brasileiro. Espera-se que até a Convenção que vai se realizar aqui se aprendam muitos novos hinos em brasileiro. Aqueles hinários você conseguiu comprar? O Augusto Klavin acha que a edição está esgotada. Quando você tiver oportunidade de sair gostaria que comprasse papel de desenho de cor azul [Nota: talvez refira-se a papel-carbono]. Você pode embrulhar naqueles pacotes de jornais e me mandar.

Faz pouco tempo chegou uma pequena carta do Shepard em resposta àquela que você escreveu daqui. Ele garante o trabalho para o ano inteiro. Também chegou uma carta do Artur Leiman de Argentina, e estou mandando junto também esta beleza. O moço todas as línguas que aprende ele usa na mesma carta. Quando fores responder mande a carta para o endereço do Fritz Leiman, porque a Escola em que o Artur está vai mudar o endereço para fora de Buenos Ayres.

Aquele livro ainda está conosco e faça o que achar melhor. Você poderia conseguir aqueles prospectos do Seminário, pois o Arthur Leimann quer saber do Inkis e nesse prospecto tem inclusive a fotografia dele, assim [seria o caso de] mandar para ele. Aqui falam que o Deter vai abrir uma Escola em Curitiba e aí o Emilio Andermann e o Jahnis Klawa irão para essa escola, que será totalmente de graça.

[Nota de V. A. Purim. Emilio Andermann morou sempre em Urubici. Pessoa extremamente inteligente e agradável, mas com algumas idéias polêmicas.]

Agora chega. O que agora andas fazendo? O Fritz [Janowoski] também já chegou? E onde você pôs aquela gentil dama? Ou ela logo estará logo de volta ao Rio Novo?

Então lembranças de nós todos aqui e que tudo te vá bem. Viva feliz e com saúde.

Com sincera saudação da

Olga

A série de conferências que você fez aqui | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 7 de março de 1920

Querido Reynold!

Primeiramente envio amáveis lembranças. Recebemos o teu cartão postal enviado de Itajay na sexta feira dia 5 de março e ficamos alegres que até aí fez boa viagem.

Desta vez a comilança de bananas deu certo? O cartão que você diz ter mandado de Laguna ainda não foi visto por aqui, mas pode ser que esteja em Orleans no correio. Quando o Paulinho voltou de Laguna ele disse que no domingo o navio iria partir. Você conseguiu no navio comprar uma passagem direta até o Rio? Quanto custou? E o Victor [Staviarski] viajou de primeira classe? E como foi a Selma [Klavim] , sabes se ela logo voltará para casa? Aqui certas “pessoas” dizem que você não convidou a Selma para viajar junto, mas quando chegaram no Victor terias dito com boa vontade que ela poderia viajar junto porque és um bom rapaz.

Sobre a série de conferências que você fez aqui, existe também um bando de invejosos que teriam dito que, soubessem antes [que você seria o preletor], não teriam dado um vintém sequer. E que 50$000 é um grande dinheiro. E que se macacos tivessem a mesma chance de frequentar escolas superiores e assimilar conhecimento com uma concha, teria sido o mesmo resultado. É pena que não sei quem falou isso.

Quanto tempo você viajou? Na noite de sexta feira você já estava [na sua igreja] em Pilares? Este ano vieram mais alunos [para o seminário]? Também o número de estudantes letos aumentou? E o Fritzis [Leimann ou Janauskas], também já chegou?

Você já esteve na Casa Publicadora para comprar os cantores [hinários] em português? Se você conseguir, mande bastante. O Butlers falou que todos que sabem ler devem comprar um, pois agora nos cultos das quartas-feiras à noite também serão cantados hinos em português do Cantor Christão, e a Marta [Anderman Butler, esposa do Wilis Butler] vai ensinar novos hinos, porque neste cantor existem lindos hinos que aqui ninguém conhece. Quem fornecia era o Augusto Klavim, mas ele não tem mais tempo para encomendar e revender.

Nós graças a Deus estamos bem todos com saúde. Na semana passada o tempo estava razoavelmente bom e choveu pouco, mas hoje não nem estava quente nem nuvens grandes, mas no começo da tarde começou uma chuva fina. Mais tarde começou um vento do lado do morro do Leepkaln [norte] e em seguida desandou uma chuva cada vez mais grossa, e finalmente parecia que estivessem despejando com baldes e também bem um pouco de granizo.

Na nossa nova coivara o milho foi todo derrubado e não sei como foi na coivara da mata virgem e nem o que aconteceu na Bukovina: em ambos lugares os milharais estavam pendoando.

Você pergunta se eu fui na igreja domingo passado; sim, eu fui. E depois na sessão regular, que também foi muito tranquila porque o Grünfeldt não veio. O encrenqueiro não estava e então foi decidido excluí-lo, pois o Butlers estabeleceu a condição para ficar e não ter que aguentar um fofoqueiro e intrigante.

Hoje os homens da igreja estão dando um dia de trabalho para a manutenção e limpeza do templo, da escola, do jardim e do cemitério. Ninguém quer pagar os 3$000 que é o preço da diária para pagar um substituto; na semana que vem serão mais dois dias.

Neste mês na escola são 21 alunos e a nossa Lucija também vai. O Karklin e o Seeberg fizeram uma campanha e conseguiram 1.600$000 para os refugiados de guerra dos países bálticos, principalmente os da Letônia, importância que foi mandada para o Comitê Central de Ajuda na França, o qual encaminhará para o destino final.

Desta vez chega, pois não tenho nada de novo para escrever, Quando receber alguma carta escreveremos mais. Amanhã o Suts Grikis levará esta para o Correio. Ainda lembranças do Papa, Mamma, Lucija e Arthur e também minhas.

Olga

Casamento de Werner Grikis e Elza Sanerip, cerca de 1920

Casamento de Werner Grikis e Elza Sanerip (Zanerip), no terceiro templo da Igreja Batista de Rio Novo. Cerca de 1920. Para ver identificadas algumas das pessoas na foto, clique na imagem abaixo.



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