Rio Novo, 21 de março de 1920
Querido Reinold!
A sua primeira carta do Rio recebemos no dia 18 de março, e o Cartão Postal de Laguna recebemos duas semanas depois de sua partida. Quem sabe demorou por causa da grande distância de Laguna até aqui. O Cartão Postal de Itajay demorou só uma semana, e até agora todas as cartas e cartões foram recebidos; esperamos que continue assim e será muito bom. Eu mandei uma carta escrita no dia 7 de março e espero que já a tenha recebido e lido.
Ficamos felizes que a sua viagem foi rápida e você chegou logo lá no Rio. Nós graças a Deus estamos passando bem e todos com saúde. Aqui nada de importante aconteceu.
O tempo está relativamente bom, já não chove tanto e alguns dias está parecendo realmente que o outono chegou. Mesmo os passarinhos não estão cantando mais como nas manhãs da primavera.
Você pergunta o que os rionovenses estão fazendo e qual é o assunto predominante em suas conversas. Como podem conversar alguma coisa com alguma classe, se a grande maioria não sabe nada do que acontece no mundo?
Toda a comunidade trabalhou cinco dias para a manutenção do templo: refizeram os muros dos alicerces do templo, consertaram as cercas, caiaram a parte externa e a interna e agora está com um aspecto bem mais agradável.
No dia 20 de março houve a Festa de Aniversário da Igreja. Na semana que precedeu a festa fez tempo bom até a noite que antecedeu: aí começou a chover forte. O outro dia amanheceu encharcado e lamacento, por isso não teve tanta gente como se esperava. Se o tempo tivesse estado bom teria aparecido muito mais gente.
De Mãe Luzia vieram algumas pessoas, mas o Roberto [Klavin] não veio porque não queria atrasar o serviço — e quando é para ganhar dinheiro ele deixa as festas onde elas estão, que ele não está nem aí. Ele até agora não voltou para casa.
Sobre a festa não houve nada que realmente tenha se sobressaído, que merecesse ser escrito. O Arnolds Klavim mandou uma carta de felicitações de Nova Odessa, SP, e da Igreja de lá veio um telegrama. Até o Oscar Karp foi falar em nome da União de Mocidade para felicitar a Igreja. Parece que ele queria fazer uma alocução, mas não se saiu muito bem. Estava com um Novo Testamento na mão, o qual folheava sem parecer achar o que procurava. Depois disse que a igreja devia ter mais paciência, compreensão e espírito de amor e tudo suportar, como Jó. Isto foi tudo que conseguiu uma pessoa que passou um ano acocorado em um banco de escola superior do Rio de Janeiro! Bem, assim foi.
O pobre rapaz foi complementado pelo Butlers, que explicou detalhadamente e com toda clareza que realmente devemos ter paciência e espírito de perdão, todas as vezes que alguém eventualmente ofende a outrem e acontecem mal entendidos. Porém quando uma pessoa está em pecado e deliberadamente fala mal ou prejudica diretamente outras pessoas, nem a igreja nem qualquer de seus membros precisa ter a paciência de um Jó. Deve-se usar toda firmeza e educação para explicar que ela vai ser afastada pelo comportamento inadequado, e isso nada tem a ver com paciência ou compreensão.
O Butlers esperava tempo bom e com isso visitas importantes e autoridades de Orleans, por isso ensinou para os alunos da Escola Anexa o Hino Nacional e o Hino à Bandeira, mas como eles não vieram as crianças cantaram assim mesmo, para que os adultos saibam que eles são bons para aprender. Outros disseram que nem em sete anos teriam apreendido um hino tão complicado, e as crianças aprenderam em apenas sete semanas.
Agora nas quartas-feiras e nos domingos à noite são cantados hinos em brasileiro. Espera-se que até a Convenção que vai se realizar aqui se aprendam muitos novos hinos em brasileiro. Aqueles hinários você conseguiu comprar? O Augusto Klavin acha que a edição está esgotada. Quando você tiver oportunidade de sair gostaria que comprasse papel de desenho de cor azul [Nota: talvez refira-se a papel-carbono]. Você pode embrulhar naqueles pacotes de jornais e me mandar.
Faz pouco tempo chegou uma pequena carta do Shepard em resposta àquela que você escreveu daqui. Ele garante o trabalho para o ano inteiro. Também chegou uma carta do Artur Leiman de Argentina, e estou mandando junto também esta beleza. O moço todas as línguas que aprende ele usa na mesma carta. Quando fores responder mande a carta para o endereço do Fritz Leiman, porque a Escola em que o Artur está vai mudar o endereço para fora de Buenos Ayres.
Aquele livro ainda está conosco e faça o que achar melhor. Você poderia conseguir aqueles prospectos do Seminário, pois o Arthur Leimann quer saber do Inkis e nesse prospecto tem inclusive a fotografia dele, assim [seria o caso de] mandar para ele. Aqui falam que o Deter vai abrir uma Escola em Curitiba e aí o Emilio Andermann e o Jahnis Klawa irão para essa escola, que será totalmente de graça.
[Nota de V. A. Purim. Emilio Andermann morou sempre em Urubici. Pessoa extremamente inteligente e agradável, mas com algumas idéias polêmicas.]
Agora chega. O que agora andas fazendo? O Fritz [Janowoski] também já chegou? E onde você pôs aquela gentil dama? Ou ela logo estará logo de volta ao Rio Novo?
Então lembranças de nós todos aqui e que tudo te vá bem. Viva feliz e com saúde.
Com sincera saudação da
Olga