Muito serviço | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 20 de setembro de 1917

Querido irmão,

Estou escrevendo novamente uma carta, sem de você ter recebido nenhuma e tão somente os jornais. Os jornais tem chegado regularmente, então podes aproveitar e colocar uma carta mais longa dentro dos jornais, que possivelmente chegará mais segura.

Aguardo cartas suas todos os dias; aquela primeira faz quatro semanas que mandei. A outra faz três semanas e foi registrada e com 100$000 dentro; na semana passada mandei um pacotinho com um par de meias e dois lenços de bolso, mais uma carta da Mamma e 10$000 em dinheiro. Tens recebido todas estas cartas? Se não me escreva que vou reclamar nos Correios para que eles procurem.

Nós estamos todos bem e todos com saúde. O tempo está nublado e chove um pouco. No domingo passado sim, choveu muito, começou sábado a noite e foi até segunda de manhã. Ninguém pôde sair para ir à igreja no domingo. Agora tudo está começando a ficar verde. A primavera está chegando.

Estamos agora com muito serviço: temos que plantar, capinar, etc. Milho nós plantamos quatro quartas (um alqueire); [também plantamos] 1.500 canas de açúcar, 400 canas para o gado, 400 mandiocas grandes e ainda batatas-doces e carás. Quanto às plantações estão indo muito bem, lembro que ano passado nesta época não tínhamos plantado nada.

Daqui de casa não tenho nada mais para escrever. Você pede que eu escreva longas cartas, com novas notícias, mas você sabe que notícias novas são poucas; não recebo telegramas de outros lugares e o que os outros falam por aí não sei se é verdade.

O casamento da Mile teve muita chuva no dia anterior e estradas estavam muito lamacentas. O casamento começou lá pelas 13 horas; o sol estava a um bom pedacinho no céu e o pessoal já ia embora. Tinha pouca gente. Até o Arnolds, Jurka e o Arthurs foram convidados para a segunda festa na casa do Frischembruder, para a qual só foram convidados parentes e amigos muito íntimos.

O Frischembruder não pôde fazer uma grande festa de casamento, porque as coisas estão muito caras e está com dívidas até as orelhas. O João Frischembruder tomou, por conta de uma dívida de 100$000, um instrumento de sopro dos músicos de Orleans. O João diz que tem um casaco para inverno que custou 120$000, com a gola de seda e os botões de diamantes…

O Kirils Karkle está de volta em casa. No Rio Novo um velhaco a mais… O Karlis Salit te escreve? Os rionovenses estão dizendo que ele está preso na cadeia. Dizem que ambos, ele e o Peteris, foram convocados para a guerra; o Pedro [Peteris] teria ido, mas o Karlis, rapaz pilantra e sem-vergonha, teria enfrentado e desacatado os superiores e por causa disso sido posto na prisão. Os rionovenses estão felizes porque ele estaria na pior.

Bem, por hoje chega. Pode ser que eu receba logo sua carta e daí te escrevo de novo. Aqui em Orleans e em Tubarão o povo sofre com uma epidemia de varicela, mas como já tivemos acho que aqui não vai atrapalhar.

Com muitas saudades, lembranças de todos nós,

Olga [Purens]

A Olga está me ensinando | Artur Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 16/09/17

Querido maninho,

Hoje escrevo esta cartinha porque está chovendo muito o dia inteiro e não fui a Escola Dominical por causa dos grandes lamaçais. A chuva começou na terça-feira passada e praticamente não parou. A terra está totalmente encharcada.

Não recebi resposta da minha última carta. Nós aqui estamos passando bem e trabalhando nas roças. Semana passada plantamos três litros de amendoim, um meu, um da Olga e um da Lúcia, vamos ver qual vai crescer mais bonito. Também plantamos melancias, e os pepinos já estão bastante desenvolvidos. Quando no Natal vieres para casa vai haver muitos pepinos e melancias para você comer.

As coivaras ainda não queimamos, mas logo que melhorar o tempo e secar vamos tacar fogo. Dê uma olhada para o nosso lado para ver se você não enxerga alguma fumaça… Na terça-feira da semana atrasada os Klavin queimaram uma grande coivara de mata virgem e mesmo daqui de casa, por cima do morro dos Leepkaln, podíamos ver a fumaça e um grande clarão.

Agora já aprendi carregar cartuchos e ontem mesmo carreguei cinco. Atirar ainda não sei bem direito, mas a Olga está me ensinando. Atirei três vezes nas rabilongas que vem comer as abelhas junto às colméias, e matei duas.

Chega. Vou esperar uma longa carta tua.

Com lembranças,

Arturs [Purim]

[Logo abaixo, com letra de outra pessoa:]
Será que uma desta handschrift [caligrafia] você vai conseguir ler?

Com exceção de Português | Reynaldo Purim a Lizete Purim

[Rascunho de carta, em bloco de papel, que parece não ter sido enviada.]

Rio, 15 setembro 1917

Querida Mamma!

Envio a você e a todos os familiares as mais sinceras lembranças. Na segunda-feira desta semana recebi a carta que a Olga escreveu no dia 13 de agosto e mais três dos Klavin; hoje recebi a carta da Olga escrita no dia 28 de agosto, na qual também vieram os 100$000 que a senhora mandou e a navalha que a senhora e Pappa me mandaram de presente. Por tudo isso agradeço de todo coração. Por essa demonstração de amor e carinho e pela grande preocupação, peço que aceitem o meu maior e mais profundo agradecimento.

Pretendo honestamente, com todas as forças, ser digno e diligente a minha vida toda, não aceitando [essas coisas] como dádivas para mim, e sim que [nelas] meus queridos pais estejam, através de mim, glorificando a Deus.

Estou passando bem e com saúde. Doente mesmo aqui nunca fiquei. Alguma vez aparece alguma tosse, mas em poucos dias desaparece. Quanto aos estudos, vou mais ou menos bem. No mês de agosto eu me saí melhor, e junto desta estou enviando o “boletim cor-de-rosa”. Nos exames me sai razoavelmente bem, com exceção do de português, no qual só tirei 78. Com as outras matérias me saí muito melhor.

Vocês já receberam aquela carta que mandei dia 20 de julho em nome dos Klavin? Naquele envelope tinha uma longa carta para a senhora, e também para os demais. Vou ficar muito aborrecido se souber que minhas cartas se extraviaram ou caíram nas mãos dos rionovenses. Eu ainda mandei registrada!

Vocês pedem que eu relate o que havia escrito naquelas cartas. Eu de bom grado o faria se lembrasse, mas devido ao muito trabalho não é possível, e cópias das mesmas não tenho. É muito difícil lembrar [de coisas assim] depois de um dia árduo de trabalho. Foi algo sobre as minhas férias, mas não havia nada de central ou importante, e sendo assim o assunto predominante não lembro.

Na sua carta você insiste que eu vá passear em casa. Bem que eu gostaria de passar as férias em casa, mas uma viagem longa sairia muito cara. O Ludis [Ludvig Rose] também me escreve convidando para passar as férias na casa dele em São Paulo. Já naquela vez em que estive lá ele insistiu para eu que eu passasse uns tempos na casa dele, e prometi passar uma semana com eles.

O que quero realmente é me exercitar na pregação do evangelho, dirigir cultos, etc. Reservar também algum tempo para estudar, porque o ano que vem promete ser bastante difícil, e assim não consigo o boletim cor-de-rosa. Quanto à minha permanência com o Ludis, vocês não precisam se preocupar com despesas etc., pois ele promete cuidar de tudo isso.

Bem, ainda não dei a palavra final, e aguardo o seu conselho. Em Orleans eu poderia ainda ter algum problema com as obrigações militares, não sei se vale a pena arriscar. Se for convocado aqui, terei que me apresentar algumas vezes por semana para alguns exercícios e aulas específicas. Além disso aqui há professores que tem muita força no Governo Federal; se necessário mudar alguma coisa, será mais fácil aqui do que lá. Outros já falaram sobre esse assunto e a conclusão é que é realmente possível. Dependeria mais do convocado do que deles. Talvez eu nem seja convocado, quem sabe.

Como vocês estão passando? Muitas lembranças para o Pappa e para você do seu querido

Reynhold

Principalmente as moças | Reynaldo Purim a Olga Purim

[Rascunho de carta, em bloco de papel, que parece não ter sido enviada.]

Rio, 15 de setembro [de 1917]

Querida Olga,

As tuas cartas de 19 e de 28 de agosto recebi esta semana. Obrigado. Ambas chegaram quase juntas. Alegro-me em saber que vocês todos estão passando bem.

Eu também, graças a Deus, estou passando bem. Aprontei-me muito para os exames e acho que me saí muito bem. Na prova de Língua Portuguesa foi que tive alguma dificuldade. Nas outras matérias cheguei perto do 100. Em Aritmética [Arithmetica] tive a maior nota da classe: 98. Na nossa classe uns dez levaram pau e não conseguiram passar. Se continuar assim esses não vão passar para o 2º ano e vão ter de estudar tudo novamente. Em Inglês só um além de mim tirou 99. Em Geografia só um tirou 99, e nessa prova escrevemos 1 ½ hora sem parar. O professor deu quatro questões tão amplas que teria o que escrever o dia inteiro. Os alunos não ficam com a cópia da prova, que são entregues para o arquivo do Watson, como histórico escolar do aluno.

Há pouco tempo a Igreja Batista de São Christovão comemorou o seu aniversário. O coro do nosso seminário cantou um hino com a música do número 123 do Hinário Skanhas Ruota, e foi o próprio dirigente que escreveu a letra em português. Os baixos eram três: eu, o (b) e o (rv). O hino nós aprendemos de cor de acordo com os costumes dos corais brasileiros.

Aqui nas festas não é hábito dos homens e mulheres se apresentarem com números especiais como no Rio Novo. A maior parte do tempo entre a abertura e o orador oficial é preenchida com hinos e breves saudações de outras igrejas e outras associações.

Agora recentemente teve uma grande reunião no Salão Nobre e sobre isto já deves ter lido no Jornal; essa foi maravilhosa e muito bem organizada. Aqui o público da cidade é gente fina. Você deve estar pensando que as pessoas são muito bonitas. Mas [mesmo com] essa elegância toda, não acho nada bonito e beleza mesmo não há nenhuma. Principalmente as moças, não parecem
pessoas normais ou naturais: as roupas parecem esticadas no corpo e justas como o sapato no pé; outras usam penteados de mil coques, etc. Aqui na cidade consigo encontrar pessoas vestidas exatamente como naquelas “Folhas da Moda”. Todos inventam modas mil.

Perguntei na carta ao Ludi [Ludvig] se ele recebeu a carta que você mandou para ele. Ele respondeu que tinha recebido e disse mais: “Sim, agora que você sabe que ele recebeu pode ter a certeza que ele vai escrever respondendo”.

Eu por aqui não sei mais o que escrever. O tempo está quente. Ainda sobre o tempo na Rússia…

Meu alvo era ajudar as pessoas | Carlos Leiman a Reynaldo Purim

Cachoeiro do Itapemirim, 12-9-17

Querido Reinhold!

Saudações! Recebi tua enorme carta. Obrigado. Não sei o que devo lhe escrever, pois de grandioso nada há por aqui, e porque sobre o meu trabalho já sabes tudo.

A escola começa as 7 da manhã e vai até as 9 da noite, com todas aquelas matérias. Também na área de evangelismo toda responsabilidade recai sobre os meus ombros. Os recursos financeiros são muito escassos e o trabalho muito extenso. Com este ritmo tenho sentido estar perdendo a qualidade da saúde, e nessas condições não é nada alegre escrever sobre isso.

O Onofre me escreve perguntando se eu estou pronto para voltar a trabalhar em Laguna. Respondi que sim, mas no momento voltar atrás não seria possível, porque estou comprometido com o trabalho aqui. A escola cresce cada vez mais e tenho que lutar muito mesmo aqui.

Quanto ao trabalho aqui na igreja, não tem se desenvolvido muito. Surgiu aqui um “Stekert” [Nota de V. A. Purim: Nunca soube de alguém da família Stekert que tivesse ido para Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo. Mais parece um exemplo de voluntários que, por falta de persistência ou determinação, terminam não conseguindo atingir os seu objetivos.] que queria fazer qualquer coisa, mas caiu através do fundo e ficou como nada tivesse sido feito. Nas igrejas ao redor, aí sim, o trabalho é feito, com novas conversões — e ali está a minha maior alegria, mas a dificuldade é estar com eles, por falta de tempo e também de dinheiro.

São muitas as dificuldades, e quando a pessoa para de lutar e começa a enumerar todas essas tristezas e se envolve nelas, aí chegam a falta de entusiasmo, a preguiça e a indiferença. E quem é o culpado por tudo isso? Eu mesmo. Mesmo nesta escola não vejo grandes esperanças, se quando eu sair não vierem outras pessoas com o mesmo propósito e a mesma determinação. Por isso quanto maiores forem as lutas e as dificuldades, no seu tempo virão as vitórias equivalentes.

Esta falta de energia, esse comportamento morno, é facilmente explicável. Quando estava ainda lá em casa no interior eu achava que tudo seria mais fácil. Meu alvo era ajudar as pessoas, e que lugar seria melhor do que uma escola, para se ajudar mais pessoas ao mesmo tempo?

Mas não importam as dificuldades; a seu tempo, aqui na escola tem gente com muito mais capacidades do que eu, e isso digo com toda convicção. Em certas áreas sou um mero aprendiz, e nestes campos onde estou carente eu me apego com todo ardor.

Sempre comparo as minhas dificuldades com o trabalho de um ferreiro, pois quando quer um aço mais duro e tenaz ele aquece a peça que elaborou até o rubro e em seguida mergulha rapidamente na água fria; quanto mais fria a água, mais duro e tenaz será este aço. [Nota de VAP: Como já trabalhei nessa profissão, não concordo inteiramente com o seu processo de têmpera, mas como comparação o exemplo continua válido.]

Aprender é umas das necessidades inatas do ser humano, tanto que poderíamos chamar de necessidades sagradas. É como a necessidade de comer. [Nota de VAP: Esse anseio por estudos e conhecimentos marcou profundamente também toda a minha juventude e se mantém até hoje, talvez devido ao longo período em que ficamos distantes das facilidades das fontes de informações. Opinião pessoal nossa.] Mas comer e não mastigar é morte na certa. Por isso, para fugir destes obstáculos, é preciso procurar algo para fazer — então vais sarar, então vais queimar/encontrar o equilíbrio. Essa falta de objetividade e de determinação tenho encontrado em muitas pessoas, mas quanto a mim acho que sou tão ativo que chego a incomodar os outros. O caminho do centro será um caminho muito abençoado.

Neste momento devo terminar solicitando uma longa carta sua. Que o nosso Deus, o Pai, te abençoe e te auxilie.

Seu
Carlos Leiman

Doze quartas de batata inglesa | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 10 de setembro de 1917

Querido Reini,

Primeiramente mando sinceras lembranças. Não tenho recebido nenhuma carta sua. Estou escrevendo esta porque estamos mandando meias, e esta minha carta vai junto.

Estou aguardando resposta de duas cartas; faz mais de três semanas que não recebemos resposta. Naquela última colocamos 100$000 em dinheiro. Tu recebestes? Se não, vou ao correio aqui, para que eles corram atrás e achem.

Aqui estamos todos bem e todos com saúde. O tempo ontem e hoje está limpo e quente, e parece que geadas não teremos mais. Na semana passada choveu e soprou um forte vento do lado da serra. Em alguns lugares foi tão forte que derrubou casas e ranchos de diversas pessoas. Aqui derrubou muitas flores de laranjeiras, pois elas estão em plena florada, e alguns frutos pequenos daquelas que floresceram antes. Nossas laranjeiras estão cheias de flores, mas as dos vizinhos a geada matou completamente, e fez com que caíssem até as frutas do ano passado. Por causa dessas geadas fortes as laranjeiras [deles] parecem velhos mendigos.

Quanto aos trabalhos na lavoura, estão indo relativamente bem. Na semana passada plantamos doze quartas de batata inglesa (kartupelhus) e uma quarta de arroz. O arroz plantamos perto da “Grande Peroba” e as batatas na “Bukuvina”. [Nota de V. A. Purim: “Liela peroba” era o lugar bem em cima do morro, perto do banhado do Grüntal, que fica na parte mais alta do início do vale do Rio Novo. Não deve ser confundida com o lugar chamado “Kanels” (a Canela) que era a própria encruzilhada — de onde à direita vai-se para o Rio Carlota, Rodeio do Assucar, Rodeio das Antas, Invernada e para a serra (via Serra do Grão-Pará), e à esquerda para o Alto Rio Carlota, Rio Laranjeiras, Coxia Seca, Rio Molha, Brusque e para a serra (via Serra do Imaruí). Voltando a Grande Peroba (Aspidasperma peroba), esta tinha sido deixada para trás nas derrubadas; ficando isolada, era uma atração para os raios nas tempestades de verão. Ainda lembro como era quando criança, aquele imenso tronco semi-queimado, apontando majestoso para o céu, como um herói que se nega a dar-se por vencido.]

O Papai, o Doka e o Puisse [“Rapaz”, referindo-se a Arthur Purim] roçaram numa semana aquele lugar onde foi a coivara do ano passado, depois pusemos fogo e ficou tudo limpo. Queimou bem porque tinha muita cana de milho e muito capim morto pelas geadas; isso facilita muito as queimadas, e agora temos muita terra limpa para plantar. [Nota de VAP: Doca era um dos camaradas, empregados temporários. Esse Doca era irmão do Emílio Pereira, mais conhecido como “Pachola”, muito conhecido da nossa família e nosso arrendatário ou agregado (isto é, aquele que mora e trabalha na terra de outro pagando a “terça” — a terça parte de todas as colheitas por ele plantadas e colhidas).]

Só tivemos que tomar um cuidado muito grande para não deixar o fogo entrar no mato ou em outro lugar que não fosse para queimar, pois apesar de mostrar sinais de verde, no pasto está tudo muito seco. Até há pouco tempo os animais não tinham nada para comer e tudo tinha que ser trazido para eles.

A água ainda vem muito pouco, a nossa calha mal e mal escorre porque as chuvas ainda são poucas. [Nota de VAP: No original, “mal e mal escorre” aparece simplesmente como “tchurkst” — onomatopéia para o ruído de pouquinha água caindo. Também pode ser um termo aproximado ou derivado de “tchurat”, que em leto é urinar. A calha era feita de troncos de palmito jussara (Euterpe edulis) partidos ao meio, escavados com enxó goiva e colocados sobre forquilhas para trazer água da nascente até os cochos de madeira escavada onde era apanhada a água para o uso doméstico e lavação de roupas.]. Uma chuvarada como ocorreu no fim de março não mais se repetiu e apesar dalgumas chuvas os riozinhos ainda não tomaram conhecimento.

Na quinta-feira desta semana vai ser o casamento da Mille Frischembruder. Vai haver “hoyseites” (?) e na igreja toda pompa, mas na recepção só será oferecido café com acompanhamento simples (pãezinhos). Não vai haver as abóboras em conserva como no casamento da Leene. Como é que um grande fazendeiro e patrão pode fazer um casamento destes não sei. Diretamente convidados não fomos, e nem mesmo fizeram cartões-convite. Na Igreja disseram que quem quisesse poderia ir.

A Festa da Colheita lá [na igreja] no Rio Novo parece que foi muito fraca e nem café foi oferecido. Lá pelas 9 horas da noite passaram subindo para suas casas, conversando ruidosamente.

Desta vez chega, fico aguardando cartas suas. Por agora nada mais de novo tem acontecido.

Ainda lembranças do Papai, Mamãe, Lúcia e Artur.

Olga

Quando lembrava | Ludvig Rose a Reynaldo Purim

[Cartão Postal]

São Paulo 7 de setembro de 1917

Querido Reinold,

Desculpe não ter cumprido a promessa de escrever, o que agora tardiamente faço. Quando lembrava não tinha tempo, e quando tinha tempo esquecia… Com a autorização que enviei em anexo você poderá retirar na estação uma caixinha contendo uma coberta. Aquela fotografia na qual você também aparece, guarde uma até que meu cunhado Alfredo vá buscá-la — quando peço o favor de entregar a ele. Nós todos estamos passando bem.

Ludvigs [Rose]