Para a Argentina | Arthur Leimann a Reynaldo Purim

[carta em português, apresentada na grafia original]

Rodeio do Assucar, 30/1=18

Caro amigo Reynaldo! Saudações. Recebi o seu postal. Agradecido. Queixa-te que eu não escrevo e que os outros também não escrevem. Quanto a mim que sou nem mais nem menos amigo ou inimigo do que era. E quanto á nossa correspondência, tenho escrito sempre. Pois por ultimo não tenho recebido bendizer nada de ti motivo por que as vezes escrevi com gosto. Penses como quiser. Posso comunicarte que estou já na mala. Irei para a Argentina. Talvez que, se me agradar bem ficarei uns tempos pó la. Hontem cheguei em casa de viagem que fiz a serra, estive em casa do irmão Guedes. Minha viagem foi interessante, Viajando distribui tratados novos testamentos ect. E mesmo fallando com os que viajava junto acerca de salvação que Jesus offerece gratuitamente a todos. Ainda que fui sósinho, mas a viagem parecia ser curta demais. Pois o motivo que escrevo mal e devido a canceira. Os seus pais bem gozando saúde e todas coisas boas. Abraço do teu conservo e amigo Arthur Leimann

O serviço nunca acaba | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 24 de janeiro de 1918

Querido Reini,

Primeiramente mando muitas lembranças. No domingo passado recebi a sua carta escrita em brasileiro do dia 7 de janeiro, e também um Cartão Postal. Obrigado. Você me pede que eu escreva cartas em brasileiro, mas isso para mim não é nada fácil. Ler e entender até que posso, e em leto é outra coisa. Você pode escrever em leto ou em brasileiro, tanto faz, porque ler é uma coisa e escrever é muito mais difícil.

Você pergunta se todas as suas cartas nós recebemos. Sim, recebemos tanto as escritas em leto quanto as escritas em brasileiro, e também os Cartões Postais. As escritas em leto foram abertas; como sei que vão abrir até não me importo, contanto que cheguem ao seu destino.

Semanas atrás mandei longas cartas enroladas no jornal “Baptist Standart”; gostaria saber se você recebeu. Se não será uma pena, pois nestas cartas foram longos relatos das últimas notícias e descrição das festas [de fim de ano], etc.

Nós estamos passando bem. Já há alguns dias está fazendo tempo bom. No último dia do ano e no dia do Ano Novo foram dias muito quentes, mas logo depois houve uma temporada de chuvas. Agora mesmo tem sempre mais chuvas que tempo limpo. No domingo passado, logo depois do almoço, deu um temporal de chuva quase igual àquele da enchente do janeiro passado, mas assim mesmo os riachos se encheram d’água.

Ainda bem que as lavouras estão se desenvolvendo bem. Agora estamos capinando as roças de milho. Logo teremos todas as roças de milho já no limpo. Logo teremos que começar a plantar o feijão (das águas) e, como sabes, o serviço nunca acaba. Estamos com as uvas maduras, que estamos comendo todos os dias. Também os pepinos crescem rápido e temos demais. Gostaria de saber se aí também tem uvas, pepinos e melancias. O que vocês comem no dia a dia? Aqui para o Karlis faltou algum mantimento devido aos preços exorbitantes, que aí talvez sejam ainda mais altos.

Desta vez não tenho muitas novidades. No dia 12 de janeiro o Wilis Paegle casou com a Erna Auras. O Arthur Paegle já tinha casado no dia 17 de novembro último. Entre os rionovenses casar está na moda. O casamento do Oskar Karp dizem que vai ser em breve. Os Salits estão morando na casa nova, então haverá espaço na casa da Lídia Karp. Dizem que ela não está nada satisfeita com a nova “patroa” que logo vai entrar na casa dela.

Bem, por hoje chega. Vou aguardar longas cartas tuas. Como é a Escola Dominical que tu frequentas? Tu conheces a Alice Reno? Como ela se parece? Os outros professores são brasileiros? Ou são estrangeiros?

Esta semana esteve nos visitando a senhora Leimann e mandou muitas lembranças. Ela não sabe escrever em brasileiro e em leto, talvez a carta nunca chegue, então ela só manda lembranças a todos daí. Se puder ela vai pedir para a Wallija para que escreva em brasileiro.

Quando receberes esta é possível que o Arthurs Leimann já não esteja mais aqui, pois está com as malas prontas para ir para a Argentina.

Muitas lembranças de todos, principalmente do Papai, da Mamãe, do Artur e da Lusija [Lúcia].

Olga

Se você tivesse vindo | Lúcia Purim a Reynaldo Purim

[sem data, mas é de 1918; deve ser início de janeiro]

Querido irmão,

Envio-te as mais calorosas saudações. Eu indo bem e com saúde. Este ano ficar doente não esteve na moda.

Fazia uma semana que não chovia e [os últimos] três dias foram por demais quentes: tão quente neste verão ainda não havia sido. Hoje à tarde o tempo fechou e à noitinha começou a chover. A chuva agora se faz muito necessária, pois só assim as lavouras poderão crescer melhor.

Este ano, se você tivesse vindo, pouca coisa teria de bom. Noutros anos já em dezembro está tudo verde, mas este ano ainda não. Melancias e pepinos este ano crescem muito devagar, e quanto às melancias nem sei se vai dar alguma coisa. Os pepinos, com um pouco mais de chuva esperamos bastante. Hoje colhemos e comemos os primeiros.

Quanto aos pêssegos, este ano a seca e a ventania derrubaram muitos, e os que restaram são pequenos e muito cheios de bichos. As uvas sim, estão muito bonitas com cachos muito grandes.

Tiramos mel e rendeu seis latas. Todo mundo diz que tivemos sorte e que deu muito mel, pois os Klavin tiraram somente uma lata e meia e os Leiman duas latas. A cera rendeu 13 quilos, que vendemos para o Ingo por 2$300 o quilo.

O Natal foi muito bom, o tempo estava ótimo, as noites claras. No dia 24 dezembro fomos para o Rio Laranjeiras, pois eles também fizeram pinheirinho. Eu fui montada na “Zebra”. Lá tudo saiu muito bem. No dia 25 fomos passear na casa dos Leimann, onde também apareceu a Marta [Klavin] para uma visita. No dia 26 estivemos de passeio na casa dos Klavin e à noite tivemos o programa de Natal com pinheirinho. Todos os programas transcorreram muito bem, mesmo porque não estava muito quente e por isso não deu sono como no ano passado.

O que você fez durante as festas? Também fazem pinheirinhos por lá? Que fazem Walija e a Lawise? O Karlitis da Alida já está grande? Será que elas lembram de nós? Envio, a todas elas, muitas lembranças.

Vou aguardar de você uma longa carta.

Com saudações,

Luzija

PS. Recebi aquele jornal onde tem aquele retrato dos seminaristas e imediatamente reconheci você na foto. É verdade que estás bem mais gordo? O dinheiro foi suficiente para pagar a escola e as outras despesas? Realmente você vai ter que tirar um meio dia de folga para ler todas estas cartas.