…Nos profetas de plantão que falavam… | de Lucija Purim para Reynaldo Purim – 1928

Rio Novo 21 de agosto de 1928

Querido irmão Reinaldo!!

Há pouco tempo atrás recebi a tua carta escrita em 19 de junho e por ela muito obrigado. E também já foi recebida aquela carta para o Arthur com as fotografias. Muito obrigado também.

O que eu não pensava que nesta boa América ficasse tão velho e tão magro realmente parece um “padre” e se tivesse óculos poderia ser um “doctor”, mas deixa pra lá.

Nós graças a Deus estamos todo bem de saúde e trabalhamos tanto quanto podemos. Teríamos mais o que fazer, mas o tempo está chuvoso demais. Este ano foi um ano de temporais fora da conta. Diversas vezes houve grandes enchentes e agora semanas atrás começou a chover no dia 10 de manha e parou somente no dia 15. Isso mesmo que foi chuva. Foi um temporal qual eu nunca havia visto na minha vida chover os 6 dias sem parar. O sol não conseguia aparecer e a chuva era bastante fria e este tempo foi muito prejudicial para os animais que não tinham onde de abrigar. Muitos cavalos de propriedade dos italianos morreram congelados e os nossos animais todos tinham abrigo eram alimentados ficaram um tanto enrijecidos imagine aqueles que não tinham nenhum telhado para se abrigar.

Quando o tempo começou a melhorar tudo ficou mais alegre, pois quase nós estávamos começando a acreditar nos profetas de plantão que falavam que este ano a América do Sul iria afundar no mar e também havia profetas que diziam que uma guerra iria começar no dia 28 de maio. E o mês de maio passou e guerra nenhuma começou e assim todas estas previsões são de pessoas que falam e é só Deus que faz.
Este inverno não foi forte, várias vez deu geadas maiores, mas estas não prejudicaram tanto quanto em outros anos. Agora que a primavera está chegando temos que começar a plantar. Agora nos estamos derrubando o capoeirão perto do “Kanels” [a encruzilhada no alto Rio Novo era assim chamada devido a um colossal tronco desta madeira] onde está bastante crescido, pois desde que você foi embora nós não plantamos mais nada ai e por isso ele está infestado de cipoal e espinheiros que torna a derrubada muito difícil, eu estou com as mãos doendo. Fazia tempo que eu não trabalhava em derrubadas e agora tive que voltar. Nós também estamos contratando camaradas para trabalhar, mas está muito difícil conseguir boas pessoas, pois todo mundo está ocupado. A melhor opção seria contratar uma mocinha para ajudar em casa para todo mês, pois uma garota tanto em casa com na roça faz tanto quanto um empregado homem. Alguns anos atrás tínhamos a Maria do Maneco, mas no ano passado ele voltou a morar com a sua família e agora eu falei para ela voltar e ela disse que iria pensar. Ela era muito operosa e sabia fazer todos os serviços. Não bebia nem fumava como outras manecas (manekenes) costumam fazer.

O milho já faz tempo que terminamos de colher. Deu 37 carradas inda porque tínhamos plantado menos que noutros anos, mas este ano as espigas foram realmente maiores e bem regulares. Está até difícil achar as espigas pequenas (restolhos) destinados à alimentação dos animais que até agora no inverno era necessário. [não é possível dar espigas grandes para as vacas por que elas têm o hábito de engolir sem mastigar e ai ficam engasgadas ou afogadas]
Agora nós não estamos plantando tanto com antigamente, pois agora plantamos somente 5 quartas [4 Quartas dá um alqueire e 2 Alqueires dão 1 saco de 60 quilos] e nós antigamente plantávamos 15 quartas e hoje plantamos menos e colhemos a mesma quantidade e é claro que a capinação e os cuidados são sempre maiores, mas agora realmente as colheitas são bem melhores.

Agora está morando conosco a Lídia Klavim Que está indo à aula aqui na Igreja de Rio Novo, porque eles moram muito longe quase na Invernada e para ela vir para a aula fica difícil e por isso eles estão pagando pensão pra ela aqui. Ela gosta muito de conversar e fica falando o dia inteiro. Ela pediu para escrever que o irmão dela não escreve pra você porque é muito preguiçoso. Ele só pensa em sair e construir atafonas e engenhos. Ai ele ganha 10 mil réis por dia e mais a comida e lugar para dormir. Mas quando não tem serviço ele fica em casa. Aquela fotografia do Coro que eu mandei ele não aparece porque ele estava fora. A Senhora Klavim esteve muito doente e saia sangue pela boca e muita gente achou que ela iria morrer, agora sarou de tudo e está bem mais gorda [Ser gordo naquela época era sinal de saúde]. Agora ela vai à Igreja e faz visitas pelas vizinhanças. Ela manda muitas lembranças para você.

No próximo primeiro domingo de mês que vem haverá batismos Aqui na Igreja incluindo os filhos da Maria Thomaz do Rio Larangeiras e as noras dela. Também haverá batismos em Laguna onde 8 candidatos estão à espera. O trabalho lá é pequeno, mas está indo pra frente graças também ao trabalho do Pastor Stroberg que periodicamente viaja pra lá e também para Mãe Luzia. Aqui na Igreja apareceram algumas desavenças e existem pessoas que não podem passar sem elas. Não entendem que a proclamação do Evangelho e a salvação de almas deve ser a missão principal da Igreja. Acham que o Pastor viaja muito.

O Rio Novo está ficando cada dia mais vazio. O povo não quer mais morar aqui. Agora são os Match que estão indo embora para a Argentina, A Milda casou com um senhor argentino muito rico e que tem uma casa muito grande e outras casas e terrenos sem fim. Aqui os velhos sozinhos e cada vez mais velhos seria muito difícil sobreviver. Vão pra Argentina cuidar do Elias o filhinho da Milda e exercer a função de Vovô e de Vovó. Quem garante que quando crescer também não vire um profeta…

Os Matchis venderam a sua propriedade com casa [Na sala desta casa em 1940 eu tive o primeiro encontro com letras e números, pois ali foi a minha primeira sala de aula com a professora a Dª Matilde Tezza, mas isto já é outra história], moveis tudo de porteira fechada para o Eduardo Karp por 10 contos de réis. Agora ele tem onde ir morar. E é provável que ainda este ano eu também possa ir morar lá. O lugar é muito bonito . Um dos lugares mais lindos por ai. É provável que Deus tenha providenciado este lugar para mim.

Bem por hoje chega, já escrevi esta longa carta. E agora está batendo meia noite. Hoje à noite eu fui ao trabalho da Igreja e ai comecei a escrever. Quem começa tem que terminar. Os demais estão há muito dormindo. Eu também estou com sono. Como faz tempo que não recebemos noticias suas espero receber amanha quando for à cidade. Lembranças do Onofre Regis e família.

Muitas lembranças de Mamãe, Papae e minhas.
Lucija

Eu naquela vez não consegui escrever e assim ficou para outra semana …| de Lucija Purim para Reynaldo Purim – 1927 –

Rio Novo 01 de setembro de 1927

Eu naquela vez não consegui escrever e assim ficou para outra semana e então ficou “até agora”.

Nós tínhamos que fazer a mudança aqui para o Rio Novo, então serviço tinha demais até trazer tudo para cá então agora ficou somente o milho lá no paiol e a mandioca nas roças que depois nós teremos que ir buscar, mas agora todos estão morando aqui e assim mesmo temos serviço demais. Já roçamos um pedaço do pasto que depois de queimar, vamos arar e depois plantar milho e grama. Então não fique tão admirado por que eu estou atrasada com a escrita de cartas por que durante o dia a gente tem que trabalhar na lavoura e a noite vem um sono tão forte então quando a gente cai na cama e pela manhã acorda ainda com sono e se tivesse alguém que comprasse o excesso de sono teria para vender.

Na noite de ontem eu fui a Igreja para o ensaio dos hinos para a Festa da Mocidade [O aniversário da União da Mocidade era no dia 16 de Outubro] então recebi uma carta a mim endereçada com a caligrafia totalmente desconhecida. Quando abri vi que era do Rio de uma moça ou dona quem escreveu. Eu não a conheço, mas ela diz que me conhece por fotografias. Ela quer saber quando é o teu aniversário e ela quer que escreva rápido o mês e o dia e é isso tudo que ela queria de mim. O nome dela é Aruclia de Oliveira – Rua Antonio Vargas 23 Estação de Cascadura – Rio- O que ela quer com o seu aniversário eu não sei. Se ela é de Pilares você deve conhecê-la. Eu não vou escrever a data do seu aniversário, mas vou dar o teu endereço para que ela peça direto para você. Ela também queria saber se eu sou mais nova que ela.

Você pergunta sobre a minha ida para escola. Estou sentindo que não vai dar. Eu tenho pensado e avaliado sob todos os aspectos. O pessoal de casa não quer que eu vá para a cidade grande. Se eu for quem, vai pagar os custos? Você promete pagar a metade. Será que eu poderia arranjar o dinheiro para pagar ou quem sabe nem dinheiro para poder voltar. Agora a Escola está muito cara 120$ por mês quem poderá pagar? Quando você foi embora nós ficamos trabalhando para mandar dinheiro para você pagar os seus estudos, mas agora não pode ser mais assim. O Paps e a Mamma estão ficando mais velhos e não conseguem o mesmo o que eles faziam naquele tempo. O Artur sozinho apesar de muito trabalhador não vai conseguir. A época que eu deveria ter ido está longe para traz. Quando aqui tinha aulas na escola eu não era autorizada a ir assistir as aulas por que tinha que ir para a roça plantar, colher, vender para mandar dinheiro para você e estes anos estão longe atrás.

Se alguma vez você trouxe com você o “gaspazu” [Un gadiuma ja tu atvedi sev gaspazu lidz….] então eu não ganhei nada. Aqui faz tempo que o povo fala que no Rio de Janeiro você não conseguiu nenhum e então por isso você teve que embarcar para a América. Você nada escreve nada sobre você mesmo e não é como nós que escrevemos e contamos tudo. [ Devido a dificuldade da tradução desta palavra “ gazpazu “ esta frase ficou completamente prejudicada. Palavra não foi encontrada nos meus dicionários]
O Arturs não diz nada, ele sempre está de acordo comigo e com o que eu faço, mas a Mamma não quer que eu vá para a Escola porque alguma tem morrido e que adianta ir para escola e depois morrer, mas eu não ligo para isso, mas o Paps disse que as moças é suficiente saber cozinhar sopa [Putru] eu sei que não é bem assim, é bom que saiba de tudo, mas quando não é possível então resta se contentar com que a gente sabe e tentar aprender o possível em casa. Ainda aquele caso com Eduardo [Namoro] não está terminado e quem sabe nem termine, pois o nosso pessoal aqui não tem nada contra e eu tenho começado a conhecê-lo melhor, ele é uma boa pessoa e todo pessoal dele é favorável e espera em paz que eu aceite e vá para lá. Ele prometeu te escrever, quando ele escrever então me escreva contando a tua opinião sobre ele, pois você sempre foi sabido e que conheces as pessoas até pela letra.
Por hoje chega outra vez eu escrevo mais.
Ainda mais lembranças de todos. Lúcia.
(Escrito na lateral)
O Romão Fernandes não mora mais aqui, ele faz tempo que mudou para Araranguá para morar lá. O Arturs mandou aquela carta, mas se ele recebeu eu não sei. Ainda muitas lembranças e saudações do Onofre Regis e esposa.

[Nesta carta quando traduzi me deparei com um termo em leto “gazpazu” e assim a frase não dava sentido algum.
Mas a minha sorte é ter amigos que entendem o idioma muito mais que eu que nunca tive uma aula desta língua e tudo que aprendi foi com a minha avó Lizete Rose Purim e este meu amigo João Gretzitz mandou a Pedra de Roseta e tudo ficou claro.
Este termo “gazpazu ” acentuado de modo diferente quer dizer esposa. A irmã da carta não viu a esposa, Se ele levou a esposa para a América.-Para deixar mais claro o assunto vou colar a mensagem do meu super amigo Gretzitz: “Novo comentário ao seu artigo “Eu naquela vez não consegui escrever e assim ficou para outra semana …| de Lucija Purim para Reynaldo Purim – 1927 -”
Autor: João Gretzitz (IP: 189.46.167.207 , 189-46-167-207.dsl.telesp.net.br)
Email : gretzitz@gmail.com
URL : http://www.facebook.com/j.gretzitz
Whois : http://whois.arin.net/rest/ip/189.46.167.207
Comentário:
Prezado amigo, com relação ao texto onde aparece à frase: “…un gadiuma ja tu atvedi sev gaspazu lidz….” , peço desculpas para sugerir que, onde se lê “gaspazu” possa ser na verdade a palavra “gaspažu”, o mesmo que “kundze”, em português: “senhora”. Gosto muito de ler aquelas histórias relatadas na cartas publicadas e que tanto nos mostram da história de lutas e sacrifícios daquelas famílias, algo comum a todos os demais imigrantes letos que chegaram no Brasil, naquela época… Espero ter podido contribuir e deixo aqui meu muito obrigado e um grande abraço.

Pode visualizar todos os comentários a este artigo aqui:

Eu naquela vez não consegui escrever e assim ficou para outra semana …| de Lucija Purim para Reynaldo Purim – 1927 –

Por tudo muito obrigado
V.A.Purim
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A Festa do Aniversário da Igreja foi um sucesso. | De Lucija Purim para Reynaldo Purim – 1927 –

Rodeio do Assucar 23-3-27

Querido maninho! Saudações!!

A tua carta escrita em 31 de janeiro eu recebi no dia 19 de março pela qual o meu muito obrigada. Esta carta realmente demorou muito para chegar. Ela foi postada em Louisville e não sei se não ficou parada muito tempo no correio de lá.

Agora nós estamos bem e todos com saúde. O tempo está assim quente e chuvoso. Semana passada sim choveu demais e todos os riachos estão urrando de tanta água. Esta semana apareceu algum sol pela manhã e chove também à tarde. Agora estamos cortando arroz que este ano não está estas coisas. Durante duas semanas justo na floração fez uma seca e calor que prejudicou muito. Os italianos estão dizendo que não vale a pena colher, mas o nosso não está tão ruim assim. Vamos ter suficiente para fazer belas sopas. Este ano as demais culturas estão vindo muito bem. O milho está com espigas bonitas e as ventanias pouco derrubaram. Somente no Rio Novo um pouco. Este ano houve diversas tormentas que destruíram muitas roças pelas vizinhanças, mas as nossas roças ficaram intactas.

Agora o Stroberg [Pastor Karlos Stroberg] está de volta, chegou dia 24 de fevereiro agora acompanhado de sua esposa. Na outra noite teve a festa de Recepção que apresentou um programa muito bonito. Teve hinos, poesias, sermões, etc. Quem dirigiu foi o Zeeberg. Após esta parte teve café pão e bolos. O Stroberg não vai voltar mais a Escola, pois já acabou o Curso e agora é tempo de trabalhar. Ele foi a Mãe Luzia e na volta parou em Tubarão onde foi organizado um culto em brasileiro, aliás, muito concorrido. Todos homens do Governo e da Justiça estiveram presentes e ouviram com muito respeito e ainda pediram que voltassem breve.

O Oscar de Oliveira deixou as suas transações com a Igreja Católica e trabalha firmemente contra ela e ainda quer participar de nossa Igreja aqui. E só o Stroberg querer ir trabalhar que oportunidades não vão faltar, pois existe um grande campo em toda redondeza onde deve ser pregado o Evangelho.

A Festa de Aniversário da Igreja no domingo passado também foi um sucesso. O tempo estava bom pela manhã e logo depois da Escola Dominical começou o programa. O templo da Igreja estava cheio, Brasileiros, italianos, grandes personalidades de Orleans. Vieram três automóveis de Orleans que antes nunca tínhamos visto. O programa foi longo e foi dirigido pelo Stroberg que falou em leto e em brasileiro. O café com pães e bolos também foi delicioso, pois foi feito pelo Zeeberg e pelo Jekabs Karkle.

Para mim pareceu que você ficou assustado com as notícias da minha última carta. Bem eu faço questão que você escreva e dê a sua opinião sobre este assunto, pois fico satisfeita e alegre que uma pessoa mais experiente que eu, pois eu não quero tomar nenhuma atitude sem consultas e consenso. Não concordo com a premissa que o Eduardo [ Eduardo Karp o pretendente] seja ruim, quanto eu conheço e que os outros dizem ele é uma pessoa muito inteligente. Você afirma que ele não pertence à Igreja e sobre isso eu também tenho pensado, mas quando você tivesse a oportunidade de conhecer os outros jovens que são da Igreja então você diria que eles nem sabem o que é uma Igreja. Falam mal, e ainda comportam-se pior que muitos de fora. É claro que não são todos como, por exemplo, alguns filhos do Karklim se eu tivesse que procurar alguém deles melhor nenhum.
Obrigada pela promessa de ajudar-me, agora estou com o pensamento de esquecer tudo isso e ir para a Escola, pois até agora nunca tivera oportunidade e não sabia que poderias me ajudar. Ainda não tenho nada definitivamente decidido, mas na próxima carta eu escrevo mais e assim poderemos definir as alternativas por isso não quero que fique preocupado, pois tudo vai dar certo, pois eu não sou uma sonhadora deslumbrada que não pensa no futuro.

Ainda muitas lembranças de todos nós aqui. Luzija.

[ Parece que o Reynaldo para tirar a irmã da jogada acenou com a possibilidade dela ir estudar]
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Aqui no Rio Novo a estrada todos anos fica melhor…. | De Arthur Purim Para Reynaldo Purim- 1926 –

[Página de uma carta do Artur sem data, sem o começo e sem o final onde ele desabafa e mostra a injustiça que o irmão faz do comportamento dele].

…Aqui em Rio Novo a estrada todos os anos está ficando melhor e o governo está prometendo logo fazer a estrada para automóveis até aqui no Rio Novo então uma bicicleta seria ótima para ser usada e por que estás proibindo a compra, eu não sei. Se fosse para não comprar por que não houvesse dinheiro então “paciência”, mas, temos dinheiro para comprar meia dúzia destas bicicletas…
Lendo as tuas cartas entre outras coisas assim “O Artur parece que não gosta de ir para a escola nem estudar, parece ser melhor ficar na roça para trabalhar na terra”. Estás fazendo uma avaliação incorreta por que se eu tivesse a mesma oportunidade que tu tivesses então em casa não teria ficado, se eu tivesse um “mocurongo” e um forte pai que ficassem em casa como foi na hora que tu foste embora então há muito tempo estaria longe.
Então eu sou obrigado a ficar em casa e é possível que seja à vontade do Senhor que eu tenha que viver aqui, e se é à vontade do Senhor então eu quero trabalhar para o Senhor conforme as minhas forças. Quando leres esta carta não fique imaginando que estou me esforçando para ter uma bicicleta para que em qualquer dia de ócio saia por aqui para quebrar a cabeça nalguma grota ou barranco por ai. A minha intenção poderia ser resumida na frase assim: “eu e a minha bicicleta serviremos ao Senhor”. O Paps fala que é para esperar quando as coisas ficarão mais baratas então sim comprar. Mas aqui no Brasil esperar por tempos de coisas baratas quando todos os dias todos os produtos industriais sobem todo dia. Para ficar esperando por preços razoáveis logo estarei com os cabelos grisalhos e os ossos rígidos então nestas circunstâncias não vale a pena esperar. Esperar por bicicletas fabricadas no Brasil seria uma possibilidade de ser mais baratas, mas hoje todas as coisas ainda são fabricadas no exterior…..
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…mas nós sentimos muito a sua falta e tudo parece triste e sombrio…| De Lucia Purim para Reynaldo Purim – 1926 –

27 de julho de 1926
Querido irmãozinho!
Saudações!

Recebemos as seguintes cartas: a minha que você escreveu em 14 de julho e a do Arthur que você escreveu no dia 23 também de julho. Estas vieram muito rápidas e é raro chegar assim imediatamente. Aquela que veio como resposta ao telegrama ficamos tristes por ter que mandar uma mensagem tão triste. A primeira idéia era de não mandar telegrama nenhum, mas depois acertamos que seria melhor informar já de uma vez, porque de qualquer modo mais cedo ou mais tarde irias receber a carta informando do triste fato, então porque adiar. O telegrama foi mandado dia 10 e demorou muito para chegar lá. Nós também ficamos muito tristes e perturbados, mas tudo aconteceu quando ninguém estava esperando, mas a Palavra de Deus que todos devemos estar preparados por que ninguém sabe o dia que a morte vem e bem aventurado aquele que está preparado.
Nós naquela manhã não imaginávamos que noite nos tínhamos que nos separar da Olga, pois ela não sentia dor nenhuma e somente tinha a respiração difícil. Ela ainda pela manhã falou: Tu ainda queres viajar para o Rio, mas eu vou é para casa… Isso por que nós alguma vez planejávamos ir visitar você isto é enquanto você ainda estivesse ai no Brasil. Isto seria se a gente pudesse e tivesse condições, mas na prática sabíamos que nós não tínhamos as condições, pois a nossa vida aqui não permitia, mas conversar e planejar isto nós podíamos. Nesta última semana ela falava muito sobre você, sobre os tempos passados o que fazíamos e como vivíamos. Dizia ela e agora ele vai para tão longe e certamente eu não vou ter oportunidade de encontrá-lo novamente apesar de eu sempre tentar reanimá-la dizendo que logo que voltares da América virás direto para casa então poderemos viver longo tempo juntos e não deixaremos ir embora tão cedo, como no tempo que você tinha que voltar para a escola. Mas Deus não quis assim e levou-a para o Lar Celestial e quando tornarmos a nós encontrar então, aí, nós não separaremos jamais. Por que aqui não é o nosso lar e somos como estranhos e peregrinos a caminho da Canaã Celestial. Ela está muito bem, mas nós sentimos muito a sua falta e tudo parece vazio, triste e sombrio. Nos últimos tempos ela nada podia fazer, mas pelo menos era uma boa companhia e agora não está mais.

O Arthur mandou a carta em 19 de abril, mas ela já estava escrita dias antes, mas naquela semana começou uma grande chuva e um vento gelado. Começou a chover na terça feira dia 14 e choveu até o sábado. O frio era tão violento que a gente parecia que não poderia agüentar. Nas Serras as montanhas ficaram brancas cobertas de neve por mais de uma semana. Os serranos falavam que a camada de neve era tão grossa que chegava até a barriga das mulas. Esperávamos grandes geadas aqui, mas não aconteceram e quando o tempo melhorou aí também esquentou. É por isso que o Arthur demorou em enviar a carta por que para Orleans ninguém podia ir. Eu também não escrevi por que eu fiquei tão perturbada que não podia escrever nem a noite pensar. Desde há duas semanas antes do falecimento da Olga eu estava tão cansada e perturbada devido à tensão e não sentia vontade de comer, a cabeça doía muito e também as costas e eu cheguei a pensar que não conseguiria superar tantas tristezas, mas o Senhor ajudou e agora estou perfeitamente saudável. Estou somente bastante nervosa e qualquer movimento mais brusco me deixa perturbada. Fora isto estamos todos bem de saúde e ninguém ficou de cama por estes dias. Serviço nós temos demais agora nós estamos colhendo o milho, este ano a colheita será menor por que não cresceram bem e também há muitos ratos. Se alguma espiga foi derrubada no chão por qualquer razão sem dúvida, ela estará roída, mas vai dar para passar o ano. Os porcos estão sendo engordados com mandioca, qual nós temos bastante. A farinha de mandioca já terminamos de fabricar. Rendeu mais de 50 sacas. Os preços da farinha é que não estão bons e às vezes os homens das vendas nem querem comprar. Polvilho também vamos ter bastante, pois os cochos e as barricas estão cheios. Não puderam ser secos por que o clima não tem ajudado. Pois o tempo continua chuvoso.
O Carlos Leiman chegou dia 3 e foi embora para Mãe Luzia no dia 12. Ficou aqui em casa e deu para conversar bastante. Prometeu escrever para você. Dirigiu vários cultos e realizou Batismos no dia 11 de manhã na fazenda dos Frischembruder, por que devido à venda da terra dos Osch onde eram normalmente realizados os batismos foi vendida para um italiano onde ninguém gostaria de ir e é provável que não autorizasse. Na noite de sábado dia 10 foi realizada uma Sessão na Igreja quando foram aceitos os seguintes novos membros: Klara Sahlit, Kornelija Balod, Harri Auras e Willis Leepkaln e os batismos foram realizados na manhã do domingo pelo Pastor Carlos. Os Sermões eu não vou transcrever desta vez, talvez em outra.

Há pouco tempo recebemos carta do Fritz e do Arthur [Frederico e Arthur Leiman da Argentina]. O Arthur escreve que virá para o Natal para vender a terra.. O Fritz diz que esqueceu o teu nome senão ele escreveria para convidando para você ir para Argentina trabalhar. Ele garante que tem muito trabalho e pão macio para comer. Diz que você pode ir sem medo, pois ele precisa muito de trabalhadores.
Quanto àquela compra do terreno dos Leiman, não chegamos a nenhuma conclusão definitiva. Se vender aqui e comprar lá ou senão só comprar lá. O que nós estamos de acordo é que você se não custar muito caro mandar a Procuração e depois a gente poderia decidir com mais vagar. Nós conversamos se pela Bukuvina a gente conseguisse o suficiente que desse para comprar a fazenda dos Leiman tudo bem. Mas completar com mais dinheiro ai não. Tem um agravante, pois não existe nenhum comprador para a Bukuvina quando a gente quer vender. O Arthur [Arthur Purim] ainda tem outras preocupações e acha que no final terá que desistir da terra dos Leiman porque não será possível morar em dois lugares no mesmo tempo e nenhuma das casas não poderão ser deixadas vazias. Aqui no Rio Novo a cozinha é nova e logo abaixo do paiol nós temos uma linda horta tudo nela cresce muito bem. Sabemos que a terra dos Leiman também é boa e bem grande. As raízes lá [Mandioca] crescem muito bem. Se não comprar lá não sabemos onde por o nosso gado, pois aqui o pasto é pouco. Vender o gado é difícil, pois quando a gente quer vender ninguém quer comprar. Por ai você pode ver que não temos nada decidido, mas que concordamos que a Procuração você deve mandar e nós não comprarmos também não venderemos e ai ela ficará sem utilização. Se mandares faça em nome do Arthur, pois ele pode falar e se comunicar melhor que o Paps. Também escrevemos para o Fritz e para o Arthur, pois este assunto tem que ser bem avaliados com muita responsabilidade. Na semana que vem vamos mandar outra carta com os novos croquis do seu terreno e esperamos que este chegue lá.

Vamos mandar também para você meias, luvas, camisa e um xale. É para você ir bonito e elegante para a América. Se você não gostar da camisa, então, você pode vendê-la. Mas eu pensei que pelo tamanho ele vai servir bem. Ela está na moda e todos senhores elegantes usam este modelo. Se as mangas forem muito compridas, você pode arregaçar. O colarinho pode ser virado para o lado de fora. Se tivesses vindo para casa terias ganho um lindo terno de tecido feito de lã [Vadmales] feito no nosso tear.

Bem por hoje chega se eu esqueci alguma coisa escrevo na outra vez.

Amáveis lembranças de todos. Nós estamos bem. E o mesmo desejo para você.
Lúcia