Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1917
Queridos pais em Rio Novo,
Neste momento recebi as suas cartas e junto o dinheiro. De coração agradeço. Eu pensava que fosse difícil e quem sabe se este dinheiro chegaria antes do fim do mês, mas chegou.
Alegro-me que vocês estejam passando relativamente bem; como ainda não sei se aquela praga de gafanhotos destruiu todas lavouras, espero que Deus os proteja desses perigos e males.
Agora vou escrever algo sobre mim. Nos exames passei suficientemente bem; a nota mais baixa foi 85 e a mais alta 100. Este mês não terei o Boletim Mensal, mas amanhã irei receber o Diploma da Conclusão do Primeiro Ano. No Diploma estarão todas matérias e a média total de todo ano. Muitos não conseguiram passar.
Agora o assunto sobre as minhas férias. Sobre isso já escrevi alguma coisa.
Vocês sabem que do Ludi [Ludvig Rose] antes a gente nada recebia; não recebíamos nenhuma notícia. Isso certamente acontecia porque ele escrevia em leto; como todas cartas são censuradas pelo governo, eles não conseguindo ler não permitiam que seguissem. Mas tempos depois recebi dele um cartão postal escrito em brasileiro onde ele escrevia que posso ir a São Paulo [nas férias]. Respondi também em brasileiro, e também com cartão postal, e é assim que nós nos comunicamos nestes dias.
Então, vou mesmo para São Paulo. Vocês podem pensar que possa me dar mal, mas isso certamente não vai acontecer, pois está tudo muito quieto. Por favor não se preocupem comigo: confiem em Deus e assim estaremos protegidos. Espero sair de viagem na segunda-feira de manhã.
Fui à Polícia Central pedir um passe para viajar e mostrei o atestado da justiça que trouxe de lá; ali me informaram que eu não preciso de passe nenhum, porque não sou alemão e sou nascido no Brasil. Os alemães sim, se quiserem viajar para qualquer lugar precisam ir à “justiça” tirar um “salvo conduto”. Esse pode ser conseguido com a pessoa apresentando uma série de provas de quem é, onde mora, de onde veio e para onde quer ir. Eles tendo este documento ninguém perturba mais.
Antes de ser convidado pelo Ludi passei um tempo procurando trabalho para o período de férias, mas nessa época é muito difícil. Se não tivesse outro lugar para ir, iria trabalhar como colportor. Salomão [NOTA: Salomão Ginsburg era um judeu convertido, pastor e grande líder, naquela época diretor da “Casa Publicadora Batista”, hoje JUERP.] me ofereceu esse trabalho. Não seria um trabalho fácil e agradável, principalmente nestes tempos de guerra, sendo ainda que não havia um salário definido e compensador. Tudo dependeria das vendas.
Mas este plano eu pus de lado, pois as pessoas poderiam pensar que eu fosse um espião alemão, etc. Sobre este assunto não vou escrever mais pois acho que ficou bem claro.
Aquela minha caixa não vou levar junto, pois isso poderia me custar muito caro. Vou levar comigo algumas roupas, alguns livros e o violino — o resto vou ajuntar tudo, fechar dentro da caixa e deixar aqui mesmo. Todo mundo faz assim e viaja só com uma maleta.
Agora o tempo apresenta-se muito quente, principalmente na cidade nos “poços de pedra” e “valetas de pedra” onde circulam pessoas, automóveis etc.
Sobre a situação geral não sei o que escrever. Só sei que na Europa a situação está dia a dia pior. O exército russo não mais guerreia contra os alemães, mas entre si pelo controle do governo. A situação final na Rússia ainda não está delineada. A Polônia russa agora é um país livre. A Finlândia (Somija) está sacudindo e empurrando embora o governo russo. O que mais vai acontecer só Deus sabe.
Os franceses e ingleses inventaram umas fortalezas de puro aço que avançam (rodam) contra o inimigo equipadas com canhões e metralhadoras que as balas de outros canhões nenhum dano conseguem fazer, e assim causam imensa destruição na frente inimiga.
Bem, por hoje chega. Sobre as coisas menores não vou escrever agora, nas férias penso escrever longas cartas para vocês. Quando chegar a S.P. vou escrever outra vez dando o meu endereço de lá.
O Inkis com sua esposa foram para nova Odessa. Não posso imaginar porque todos me esperam no Rio Novo.
Como vocês estão passando, agora? – E os gafanhotos ainda estão por lá? – Como vão todos de um modo geral? – E a igreja? – E as pessoas da igreja de Orleans vivem em paz?
Na outra vez vou contar sobre as igrejas daqui. Aqui eles não são tão rixentos quanto os letos.
Envio muitas e sinceras saudações. Vivam felizes e que Deus vos proteja.
Reinholds