Os mais doces sonhos | Fritz Jankowoski a Reynaldo Purim

Laguna, 26 de maio de 1920

Querido amigo Reinold!

Que a presença de Deus seja a sua Força!

Agora me encontro em viagem do Rio Novo para a minha casa. Deixei Rio Branco [Guaramirim] dia 10 de maio com destino à Convenção em Rio Novo. Em 17 de maio, depois de muitas dificuldades e desconforto, desembarcamos em Orleans, onde fomos recebidos em meio a honras e atenções. Depois de um lauto lanche na casa dos Stekert fomos apadrinhados cada visitante por um dos hospedeiros locais que tinham vindo ao nosso encontro buscar-nos na Estação da Estrada de Ferro, e que deveria praticamente permanecer responsável por nós até o final do congresso.

Ao meu lado foi colocado o teu irmão Arthur, e ficou determinado que nos mantivéssemos juntos. Ele foi o meu guia de inteira confiança durante toda a minha estada ali, e ainda hoje pela manhã me trouxe até Orleans. Também o meu ponto principal de hospedagem foi na casa de teu pai.

O congresso teve início no dia 17 de maio e se prolongou até 21 de maio. Todas atividades se desenvolveram na mais perfeita ordem e no melhor espírito cristão, deixando uma sensação de alegria e revigoramento em todos os corações que participaram, os quais em espírito de serviço e gratidão servem diligentemente ao Senhor e estão prontos para a voz d’Ele ouvir e obedecer.

Eu nesses dias passados aprendi bastante tanto nas atividades normais da Convenção como também significativo percentual com pessoas individualmente, pois na minha estada em Rio Novo me sentia como estivesse em minha própria casa. Fosse onde fosse era recebido com uma verdadeira hospitalidade cristã. Em alguns lugares foi tão clara essa demonstração que sou forçado a reconhecer que fico eterno devedor destas infindas mostras de atenção e carinho a mim dirigidas.

Foi com o coração oprimido por obstáculos outros que não pude ficar neste berço tão confortável, nesta localidade onde as paisagens são tão fantásticas, carregadas de uma luminosidade e cor que despertam em nosso coração o desejo de voar pelas alturas e sonhar sonhos, os mais doces sonhos…

Mas a vida é áspera e dura e requer uma determinação, uma postura enérgica e constante perseverança. Portanto uma vida sem um ideal é como somente uma parte de uma casa, como também da vida…

Quanto aos rionovenses tenho que admitir que são um povo enérgico. Alguns até mais que eu podia esperar. Um deles me receitou e aplicou uma ducha com grande quantidade de água fria. E como aquilo veio para o bem de minha saúde.

Já escrevi uma carta de Rio Branco e gostaria de saber se já recebestes. Peço que no mesmo endereço não mais menciones: Rio Branco, pois isto dificulta o recebimento das cartas. Simplesmente suprima esta palavra e o resto deixe tudo mesma coisa.

Vou esperar sua uma carta como nunca. Com muitas e sinceras lembranças,

Fritz Jankowoski

Essa carta subiu o Rio Novo de mão em mão | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 24 de maio de 1920

Querido Reinold!

Recebi tua carta escrita em 5 de maio no dia 22 de maio. Muito obrigada!

Eu teria muito o que escrever, mas esta noite não vale à pena começar, pois esta noite não poderei pela ordem e minuciosamente escrever tudo por falta de tempo, pois amanhã cedo vamos cavalgar até Orleans para o enterro do velho Felipe, que morreu esta manhã — e também porque amanhã são as terceiras Oitavas da Festa do Verão [Treschu Wasaras Svehtki]. Então não leve por mal, que só vou descrever como foi a Festa do Verão e como os mensageiros da Convenção foram embora.

A verdade é que a temporada desta grande batalha não terminou totalmente, pois dois ainda continuam aqui: os dois mensageiros de Rio Branco, o Fritzis e o Loks. Eles tudo querem conhecer. Todos os letos por nome eles têm que visitar. Esta noite o Fritz foi para a casa dos Leimann, onde já esteve várias vezes. E amanhã de manhã cedo, montados no Prinzi e no Lapu, irão para Mãe Luzia.

Eles querem se demorar em todos lugares. Todos morros altos querem escalar e até a Serra eles falaram em conhecer. O plano deles seria sair bem cedo pela manhã, chegar ao meio-dia lá em cima só para ver aquelas maravilhosas montanhas, então sem muita preocupação estar à noite em casa. Isto naturalmente seria possível para pessoas acostumadas a subir montanhas como o Roberto Klavin, cujo passo quase ninguém consegue acompanhar, mas esses heróis que não estão acostumados acho que não conseguiriam.

Os demais convencionais desceram para Orleans na sexta-feira, então na igreja do velho Karlos fizeram um grande culto, mas lá eu não estive. O Watson dormiu na casa do Diretor [Staviarski, da Companhia de Colonização], e os demais espalhados pelas casas dos letos. No sábado de manhã embarcaram no trem para Imbituba e não sei se conseguiram o navio como era esperado ou não.

Neste mesmo dia o Jahnis Klava viajou para Nova Odessa, onde pretende acumular dinheiro para depois viajar para a América do Norte para estudar; ao Rio [de Janeiro] ele não pôde ir pois o próprio Satanás lhe pôs obstáculos. Já quanto eu sei [o motivo] é que ninguém e nenhuma igreja daria uma carta de recomendação, pois todo mundo conhece que pássaro ele é. Segundo escreveram de Mãe Luzia ele estaria envolvido com aqueles “homens de espírito” [pentecostais], pois uma carta veio aberta ou teria sido aberta para o Wileams Slegmann, e nela descreviam certas barbaridades praticadas por eles; um outro Slengmann tirou do correio e essa carta subiu o Rio Novo de mão em mão até chegar ao Butler, que apesar de não achar correto abrir ou ler correspondências dos outros também leu e ficou sabendo de tudo. Como esperar carta de recomendação?

Ontem à noite a União da Mocidade da igreja teve uma das noites de treinamento com apresentações. Foram boas apresentações e parecem que de agora em diante serão mais frequentes. A bronca do Kirils [Carlos Karkle] deu resultado.

[NOTA: Apresentações. Em leto “preeschnessumu” — literalmente algo que foi levado à frente, apresentado: opinião, fato, peça, poesia ou música. Era basicamente e intencionalmente usado para que a mocidade aprendesse a enfrentar o público e perdesse a inibição, e com bons resultados.]

O João de Riga Frischembruder apresentou trechos do Jaunibas Drauga/O amigo da juventude que realmente foram muito proveitosos. Outros apresentaram contéudos às vezes maiores ou outras apresentações menores, mas desta vez todas foram consistentes, cada uma com mensagens muito claras e definidas.

Os dirigentes desta vez foram o Fritz Jankowski e o Looks de Rio Branco. Aqui na semana passada correu a notícia de que o Fritz recebeu do seminário o “passe do lobo” e não mais pôde voltar este ano para lá. Também há aqui alguns que se admiram que ao Reine foi permitido voltar para a escola. Eles parece que esqueceram ou não ouviram o Watson dizer que de ouvir falar do Rio Novo ele já conhecia bem e agora teve a satisfação de conhecer pessoalmente. Ele transmitiu à igreja as tuas saudações e lembranças e contou que tinha insistido para que você viesse junto, mas que você tinha declinado do convite alegando a necessidade de dar continuidade aos estudos. Se tivesse sido possível teria sido uma grande satisfação, mas havia sido numa data conflitante. Ele também disse que você é um dos melhores alunos e que dirige uma Escola Dominical em Pilares, onde ele espera muito no futuro. E ainda disse que o Rio Novo tinha roubado um professor dele ou da escola e ele agora o recapturou. Ele em cada conversa ele sai com alguma brincadeira. Ele provavelmente já terá contado tudo isso para você quando esta carta chegar. Ele levou o S.S.S. [dinheiro?] e uma carta minha.

Não receba dinheiro por aquele livro do Leiman. Mande para ele logo que for possível o cantor [hinário] de qualquer modelo que conseguir. Ou então escreva perguntando em que acabamento ele quer e se não tiver que espere.

O que de bom ele te escreve? Ele menciona o Rio Novo nessas cartas? O velho Leiman tem perguntado por que esperam o Artur em casa, pois já estariam desanimados de esperar o que não seria verdade.

Hoje chega. Nunca consigo escrever suficiente para satisfazer a sua curiosidade de todas as notícias daqui. Faça o favor de fazer uma lista de perguntas por prioridade e eu tentarei te responder. Sobre a Convenção ainda vou descrever do começo ao fim.

Viva feliz e saudável. Com sinceras e amáveis lembranças,

Olga

Cavalos encilhados esperando na estação | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 19 de maio de 1920

Querido Reinold! Sweiki/Saudações

Agora tem-se passado várias semanas sem que eu tenha recebido alguma notícia sua. A última carta foi a escrita no dia 9 de abril, a qual recebi no dia 21 de abril.

Desta vez não poderei escrever muito, apesar de que novidades têm bastante, mas esta noite (ou esta manhã) quero escrever alguma coisa. Você pode imaginar no relógio já é meia-noite passada — então posso dizer que é de manhã porque já passou de meia-noite. Ou não?

Imagino que você esteja pensando em nós, pois estamos em festas — mas como esta passou depressa! Hoje vai ser o dia de encerramento da Convenção; alguns mensageiros já amanhã depois do almoço vão começar a viagem de volta, deixando deixar o Rio Novo para trás.

Tu já sabes que o S. L. Watson está aqui também. Hoje à noite ele disse que amanhã viria aqui em casa, e quer saber se não tem alguma coisa para ele levar para você. Disse também que a Kate [Klavin] tinha mandado um pacotinho para a Selma, então amanhã vamos dar S.S.S. [dinheiro?], que temos certeza que vai chegar bem, e também esta minha carta.

Sei que você quer saber detalhadamente como foi e o que aconteceu na Convenção, mas desta vez não vai dar. Deixa passar esta época de apuros e correrias, que mais parecia uma guerra, todos fazendo o possível para que tudo saísse de acordo e todas as pessoas saíssem daqui com a melhor impressão. Hoje também a cabeça da gente está tão cheia de coisas que acho melhor deixar a poeira assentar e deixar para depois contar os detalhes.

Acho que você leu n“O Batista” o programa da Convenção e das Conferências; pois é, saiu mais ou menos como estava previsto ali, com algumas modificações sobre as quais vou escrever noutra vez.

O início, que estava previsto para o domingo à noite, teve que ser adiado para a segunda à noite devido ao atraso de muitos mensageiros. Os mensageiros que compareceram foram bem mais do que os esperados. Só de navio vieram mais de dez. O Onofre Regis veio de Pedras Grandes, e de Mãe Luzia veio bastante gente. No dia 11 o Deter telegrafou de Paranaguá que iria embarcar no paquete “Anna” com seis pessoas: o Deter com a esposa e a filhinha, o pastor João Henke, o Edmundo Assenheimer e o pastor Abraão de Oliveira de Curitiba; vieram mais o pastor Manoel Verginio de Souza de Antonina e o colportor Carlos Donavante como mensageiro de Paranaguá. Este chegou bem antes: dia 13 já estava em Orleans.

De Rio Branco vieram o Fritz Janowski e o Rudolfo Loks. Os do Rio de Janeiro, com o S .L. W., quando chegaram a Florianópolis o “Max” já fazia horas que tinha saído para Laguna. Então esperaram vários dias, e quando chegou domingo de manhã saiu um navio com destino a Imbituba. Aqui ninguém sabia quando realmente eles iriam chegar, por isso desde o dia 13, dia 14 e 15 de maio tinha gente com cavalos encilhados esperando na estação. Sempre ia bastante gente: inclusive o nosso Arthurs levou a Marsa encilhada diversas vezes e o trem chegando, mas nada e assim voltavam sem os convidados.

Então, domingo de manhã depois do culto, o Butlers recebeu um telegrama dizendo que o pessoal do Rio já estava em Imbituba e deveriam chegar no trem da tarde de terça-feira, então na segunda ele não estaria. No culto da noite outra notícia: eles já estariam em Tubarão, e deviam ser buscados em Orleans na segunda-feira às 10 horas da manhã. Então novamente os emissários foram em busca dos convidados.

Essa antecipação foi conseguida com a Administração da Estrada de Ferro, para que eles pudessem vir no retorno de um dos trens de carvão de pedra. Então imagine você aqueles doutores vindo num trem de serviço: ficaram mais pretos do que aquele negro de Paranaguá.

Então: chegados a Orleans foram para a casa do Stekert, onde tomaram um lanche e depois juntos tiraram fotografias em grupo. Depois, montados nos cavalos, saíram em direção do longínquo Rio Novo.

Havia três pessoas com máquinas de tirar fotografias.

Então lá pelas três da tarde — oh, como ficaram enrijecidos depois de tanto tempo a cavalo, — chegaram enfim ao seu destino, depois de gozarem da grande oportunidade de cavalgar uma distância tão grande.

Determinaram que na mesma noite deveria haver a solenidade de abertura dos trabalhos da Convenção. Na casa do W. Slengmann ficou o Carlos, na casa dos Frischembruder ficou a Família Deter. João, um negro mas exímio músico, ficou na casa dos Osch. Na casa do Butlers ficou o R. Loks e na nossa casa ficou o pastor Manoel. O Fritz Janowski ficou na casa do Oscar Karp, o Dr. L. S. Watson na casa dos Leimann e o João Henke e o Edmundo na casa dos Klavin.

Poderia ter havido mais gente, mas parece que alguns não vieram ou não conseguiram chegar. Na terça-feira houve duas reuniões, uma de manhã e outra à noite. Na quarta-feira a mesma coisa, e hoje depois de todos os trabalhos foi servido um café com acompanhamento a título de confraternização. Amanhã pela manhã será o encerramento e daí fim: é só ir embora.

Teve muita gente que queria que as pessoas importantes ficassem pelo menos até o fim do mês. O Deter disse que se chegar a Laguna ou Imbituba e não conseguir navio voltará num trem de carvão.

Bem, agora chega, noutra vez eu descrevo as miudezas. O evento foi muito proveitoso, pois os rionovenses agora ficaram sabendo muitas coisas de que não tinham a mínima idéia. Oxalá Deus permita que a igreja entenda todos os planos e consiga por os mesmos em ação e conseguir a vitória.

Nós todos estamos bem, todos com saúde. O tempo está começando a esfriar. Lembranças de todos.

Noutra vez minha carta vai ser léguas mais comprida, assim você poderá ler a semana inteira.

Também fico no aguardo de cartas longas.

Olga

Eu daria tudo | Fritz Jankowiski a Reynaldo Purim

Rio Branco, 6 de maio de 1920
[NOTA: Rio Branco era uma colônia leta entre Massaranduba e Bananal — atual Guaramirim]

Querido amigo Reinold:

Tua carta escrita em 10 de abril recebi no dia 30 de abril. Agradeço por tudo que partilhaste e fico muito alegre que chegaste feliz de volta à escola.

Depois de amanhã, na sessão ordinária da igreja, lerei a carta de agradecimento à oferta que esta igreja mandou para a de Pilares.

Gostaria que você fizesse o favor de dar uma sacudida no Carlos Vieira para que ele me mande aqueles livros, pois na realidade não recebi nem um livro; só recebi aqueles cadernos e Revistas das Lições para a Escola Dominical para o primeiro trimestre deste ano, que pedi diretamente por carta à Casa Publicadora Batista. A relação dos livros vou colocar em anexo.

A igreja aqui está um tanto sonolenta. O Leiman declinou do convite para ser nosso pastor. Há uma proposta para que seja convidado o pastor Edwardo Akschenbirs; mas se esta ideia se concretizará ainda é uma incógnita. A União de Mocidade e a Escola Dominical agora vão razoavelmente bem, porém somos poucos, porque uma grande parte das famílias dos letos daqui se mudou para Porto União, no Paraná, então estão se espalhando por aí afora.

No que se refere à minha vida pessoal, então: posso dizer que no aspecto da minha vida material estou indo muito bem, mas isso não consiste em fundamento ou base para uma vida feliz e sossegada. Não olhando para a abundância em que vive minha vida material, há um enorme contraste, pois minha alma nada em tristezas cujos fins parecem por demais sinistros.

Tu és um herói — um destemido! A tua vida transpira esperança, enquanto que a minha está perdida. Eu daria tudo tudo — e mais, padeceria penúria no sentido material, só para voltar ao passado, mas não é mais possível. Os feitos e decisões do passado estão gravados e emaranhados em eternos rolos que determinam e caracterizam a situação do futuro.

A minha estada no Seminário, juntamente com todas as oportunidades, foi uma onda de sorte e felicidade que certamente teria me levado para uma terra pela qual a minha alma tanto aspira. E por uma desconhecida força fui barrado. Não resisti, e não me entreguei inteiramente à força dessa imensa vaga. Esta onda se foi e agora luto contra tempestades e miragens.

Por este lado estão contando que o Pastor R. Inkis assumiu o pastorado da Igreja Batista Leta de Nova Odessa. Isso é realmente verdade?

Com amável saudação, teu

Fritz Jankowiski

[em anexo:]
Os títulos dos livros encomendados:
1 Doutrina de Nossa Fé > Recebido
1 Manual Normal > Falta
1 Sete Leis do Ensino > Ainda falta
1 Constituição Brazileira > Ainda falta
1. 2. Trimestres Revistas > Recebi
3 Dúz de Cartões > Recebi
12 Cadernos > Recebi