Ano de 1927
Rodeio do Assucar 13-1-27.
Querido Irmão
Primeiramente envio lembranças e felicitações pelo seu aniversário, se bem que o seu aniversário já passou, mas não tem importância, mas sim que os cumprimentos cheguem ai.
Recebi a tua carta que fala de manteiga, leite e espigas de milho já antes do Natal. Por ela muito obrigado. Mas queria que passassem as Festas para que depois tivesse mais o que escrever e como as Festas já estão longe tenho que me agarrar e escrever enquanto não esqueço.
No Primeiro Natal [Primeiro dia de Natal era o dia 25 e o dia 26 eram as Oitavas ou o segundo Natal] teve Festa com pinheirinho iluminado e naquela noite o tempo estava maravilhoso e gente que raramente tanta foi vista por ai. Também veio um automóvel de Orleans que deixou profunda impressão. Agora através das estradas de Rio Novo frequentemente disparam vários automóveis. Ainda no domingo passado subiu um automóvel pelo Rio Novo e foi até o Barracão e mais tarde voltou. Agora em Orleans existem 3 automóveis.
O programa da festa não foi muito extenso, mas foi muito bonito e interessante. No segundo dia de Natal eu não fui à Igreja. Eu e o Roberto [Klavin] fomos à Grão Pará dirigir um culto lá. A mocidade da Igreja todos os últimos domingos do mês vão ajudar nos Cultos lá. Agora lá está morando o Avelino e a velha senhora do Caciano. O velho Caciano separou-se dela e ajuntou-se com outra e está morando em Palmeiras [Também distrito de Orleans e Estação da Estrada de Ferro D. Tereza Cristina e hoje Pindotiba].
O pessoal de Grão Pará manda muitas lembranças para você e pedem que quando você voltar não se esqueça de visitá-los. Lá em Grão Pará os primeiros cultos foram muito bem frequentados. E é muito natural que em qualquer lugar onde o Evangelho é anunciado lá também o mal não fica em paz. Por isso no princípio de dezembro apareceu um jesuíta nômade que quando soube que nós fomos lá pregar ele separou uma semana de missas onde a nós disparava torrentes de maldições e ainda incluindo a todos que foram ouvir estas pregações do diabo que eram as nossas. Mas como não notamos nenhuma diferença depois destes anátemas e nada sentimos então na próxima vez nós iremos com mais entusiasmo e também mais pessoas.
Agora que tu já sabes como nós passamos o Natal gostaríamos de saber como você passou o Natal? Tinha Árvore de Natal ou não?
Alguns dias depois das Festas começamos a ouvir rumores de revolução e que nas Serras estão bandos de anarquistas, mas que brevemente vão descer para Serra Abaixo. Estas notícias deixaram todo povo alvoroçado. O assombro de uma invasão iminente foi tão assustador que por dias não se via pessoa alguma nas estradas. Outros diziam que nas Minas [Lauro Müller] já tinham descido 600 homens e logo iriam continuar para Orleans e outros lugares. Mas em vez dos 600 homens apareceram 6 “manecos” pela estrada da Serra. Mas assim mesmo foram solicitadas ao governo tropas com fuzis e metralhadoras. Dizem que estes revoltosos são da Bahia. Que nas Serras ainda tem muitos revolucionários. Até o pessoal de nossa comunidade andava tão assustada que muitos iam dormir no mato. A senhora Paegle acompanhada pelo seu velhinho passava as noites embrulhados em cobertores no pasto encostados numa grande pedra etc.
Desta vez penso que chega de escrever, pois a Lucija também promete escrever e assim você terá muitas notícias de nossa parte. Você possivelmente não está entendendo por que desta vez eu estou escrevendo a lápis. Pois é porque as ratazanas derrubaram o tinteiro com toda tinta. Elas talvez sejam quase a “última praga em casa”. Em toda minha vida eu não tinha visto tantas ratazanas e guaiquicas como este ano aqui em casa..
Com muitas lembranças. APurim.
[Saber com os historiadores que movimento revolucionário foi este]