Se um ajudar o outro | Olga Purim a Reynaldo Purim

Escripta em Letto
[nota em português no original]

Rio Novo, 30 de abril de 1918

Querido Reini,

Primeiramente, muitas lembranças. A tua carta escrita no dia 12 de abril recebemos no domingo passado, junto com os boletins verdes. Obrigado. Você diz que teria mandado uma carta em resposta àquela em que enviamos aquele dinheiro; esta até agora não recebemos, mas pode ser que ainda chegue, pois esta veio muito rápido. Fazia tempo que não recebíamos cartas, pois a última, que tinha sido escrita em brasileiro no dia 4 de março, tínhamos recebido na Quarta-feira Verde [Quarta-feira Santa]. Esta carta eu respondi já faz umas duas semanas, e ainda não sei se recebestes. Também para a minha carta escrita em 26 de fevereiro não tenho resposta, e esta tinha bastante novidades. Por favor mencione nas respostas as datas das cartas que você esteja respondendo para facilitar o controle. Também podes mandar as cartas dentro dos jornais que ninguém abre. Naqueles últimos três jornais que você mandou, onde você escreve sobre as guerras, podes escrever mais sobre qualquer coisa.

Aquele emprego será para o ano inteiro ou apenas para alguns meses? Se for para o ano inteiro, por que se preocupar, pois dinheiro não deverá mais faltar.

Qual foi o teu novo colega que te emprestou dinheiro? É novo na escola ou já é velho conhecido? Tens visto o filho do Diretor de Orleans [NOTA: Victor, filho do Diretor da Empresa Colonizadora Grão Pará, Sr. Etyenne Staviarski]? Ele levou o filho para o mesmo Colégio em que estudas, mas em que prédio e em que classe não sei. O “Diretor” elogia demais esta escola, bem como o seu diretor, pois ele ficou uma semana como hospede de honra da mesma e nem precisou ficar em hotel; ele também elogiou a ordem e a disciplina exemplar em todo ambiente e tem certeza de que seu filho não vai ficar andando pelas ruas, pois existe uma organização que ocupa todo espaço e tempo disponíveis.

Vou aguardar uma longa carta sua. Eu quase não tenho nada para escrever. Aqui estamos passando meio bem e estamos meio saudáveis. Esta semana, após um mês em casa, pude ir trabalhar na roça. Papai também está com dor de dentes. O tempo está magnífico; diversas manhãs estiveram muito frias e chegamos a pensar que haveria geadas.

Hoje a comunidade da vizinhança está reformando a estrada. Papai já trabalhou outros dias e vai ter que trabalhar ainda mais. Os Italianos também fizeram a sua parte.

Você pergunta como está crescendo o feijão na nova coivara (junto do mato), mas ainda é cedo para se saber. Está muito verde e embaraçou muito subindo pelos pés de milho já secos, tanto que está quase tudo verde. Se não houver algum frio maior do que o normal, depois de arrancar e bater é que a gente fica sabendo da real produção. Aquele trecho que foi plantado mais no cedo pelo Puisse, ele trouxe uma amostra que parece bem boa [NOTA: “Puisse” refere-se sempre a Arthur (Otto) Purim, nesta época com cerca de 12 anos de idade].

Sabe o Puisse plantou para si ½ litro de feijão, e agora calcula que vai colher muito e vender muito bem e que com este dinheiro vai comprar: um guarda-chuva (porque aquele velho que você deixou está muito furado), mais um pente e um espelhinho de bolso. Será que vai dar?

Sabes se o Victor [NOTA:Victor Egers, cunhado do Ludwig Rose], aquele teu pedaço de parente, não tem escrito para o Faters para que ele debande para São Paulo? Há um mês atrás ele falou com a mulher dando sinais de que tinha vontade de ir; não será nenhuma surpresa se ele for a São Paulo.

Daqui a uns dias quem sabe tenhamos um vizinho novo. Os rionovenses estão mandando o Augus embora de seu emprego como zelador da igreja, e isto é normal entre eles. Para o lugar dele está vindo o grande Bruvers de Orleans, onde vai vender tudo; ele vai trabalhar cuidando da Igreja e quando morrer deixará toda a sua riqueza para a mesma. Vamos ver se vai dar certo!

Logo teremos uma festa de medições dos terrenos. Os agrimensores vão medir o do Karkle, depois do Enoz [Ernesto Grüntall] e depois o nosso. Se um ajudar o outro não haverá necessidade de pagar ajudantes.

Chega. Escreva bastante. Ainda mui afetuosas lembranças de todos nós. Desejamos também copiosas bênçãos de Deus daqui para frente.

Olga

Em hespanhol | Arthur Leimann a Reynaldo Purim

[carta escrita num misto de português e espanhol, apresentada na grafia original]

Ramierez, Entre Rios, Argentina

Dia 24 de abril de 1918

Prezado amigo Reynaldo!

Como lê vá? Há mucha tiempo que no tengo noticias do señor. Talvez seja por mi culpa. Peço desculparme. Como sabes que há muito tempo queria vir para ca e até que agora estou em Ramirez.

Bem, em minha viagem desde o Rio Novo gastei 21 dias, isto é, tive muito que esperar em sertos logares, em dinheiro pelo menos uns 250 ou mais, já não estou mais bem alembrado.

Três dias e duas noites com vapor, isto, é de Imbituba a Florianopolis e de aqui á Rio Grande. De Rio Grande Dous dias de trem até Uruguaÿana e outros dois dias das Fronteiras, isto é, de Los passo de Los Libres até aqui. O resto foi tudo demoras!

Aqui não há mattos virgens morros como lá, tudo é vargem, tudo campos com pequenas subidas ou descidas. O clima [é] mais pesado, do que sufri uns quantos dias. Agora actualmente está operando o tal — Tifus — também eu não estou bem correcto — talvez não seja.

Hoje a Soc. Dos Moços tem estudo da Vida de Jesus; não pude assistir. Esta egreja é regular, só que bem espalhado tem Escola Dominical com seus 100 alunos, Soc de Senhoras e Soc. de Missão. Ect. Veja como vai os casos, lá eu era professor, aqui sou um aprendiz. Uste penso eu já deves ser meio Bacharel, senão inteiro. Peço o favor de escrever alguma cousa, sim?!

Jo estoy un poço malo puis tengo dolor de cabesa; quamto ao mas su Y muiy bueno. El tiempo és fresca puis és invierno ahora, tiempo chuvoso tiene mucha barra; en la freguesia para poder caminar necesita botas ate las orehas!!! Jo tengo escribido a mis amigos pero não tengo respusta — ah, sim, já estou fazendo cousas em hespanhol, desculpa.

Desejo lhe bons êxitos quanto aos seus cursos, espero resposta sua. Até Mañana.

Saudades, saudaçoes mais lembranças do seu antigo collega

Arthur Leimann

Como o teu fraque amarelo | Olga Purim a Reynaldo Purim

Escripta em letto
[nota em português no original]

Rio Novo, 11 de abril

Querido irmão!

Primeiramente envio muitas lembranças. Recebemos a tua carta escrita em brasileiro no dia 4 de março, duas semanas atrás. Alguns dias antes do recebimento da tua carta mandei duas cartas, e em uma delas foi 200$000 em dinheiro. Por isso não mandei nenhuma resposta a esta tua carta e mesmo para a cidade não temos ido muitas vezes. Aguardo a resposta das demais cartas.

Desta vez não tenho muito o que escrever. Quase nada de novo tem acontecido e a redação [de cartas] não tem avançado. pois há duas semanas tenho estado doente; hoje porém estou um pouco melhor. Os demais familiares estão todos com saúde.

Hoje à noite o Paps e o Puisse [NOTA: Papus ou Paps era o Pai : Jahnis Purim. Puisse que dizer menino ou mocinho, e refere-se ao meu pai, Otto Roberto Purim] estão batendo arroz, que ainda não foi cortado e este ano não cresceu muito bem [NOTA: Para se bater o arroz as hastes eram seguradas em molhos e batidas em um ripado até que todos os grãos se soltassem]. Esta semana o Puisse pôs o Nerpukli no chiqueiro para engordar. Este é o porco que, quando vendido, o dinheiro será só dele. Hoje ele já começa a calcular o quanto vai render, e a planejar o que vai fazer com o dinheiro depois da venda.

O tempo está muito instável; alguns dias está limpo, mas já outros fica fechado e chuvoso. A Páscoa foi muito chuvosa. No domingo de Páscoa choveu o dia inteiro. Eu passei todos dias dessas festas doente de cama em casa.

As estradas estão um lamaçal só. Semanas atrás as estradas foram reparadas. A ponte do Auras foi feita nova, e todas as pontes estão fortes e firmes.

Bem, por hoje chega. Quem sabe logo receba alguma carta sua e aí escrevo outra vez.

Com muitas lembranças de todos,

Olga

Continuação do dia 16 de abril

Quando escrevi as linhas anteriores pensei que [poderia enviá-las] nos dias que se seguiram, mas na quinta-feira à noite começou uma forte chuva que continuou sexta-feira o dia inteiro; sendo assim para Orleans não deu para ir e minha carta ficou em casa. Vou então complementar com alguma coisa e outra.

Na semana passada deram aqueles temporais de chuva; esta semana os dias estão com tempo bom, mas os rios ainda estão cheios. Agora estou bem melhor; posso dizer que estou quase boa e os outros todos estão bem.

Colhemos o amendoim e rendeu três sacos. Todas as semanas nós fazemos a “manteiga dos sabatistas”. Você lá tem amendoins para comer? Como você está com suas roupas? Já acabou com todas elas? Naquelas salas luxuosas você não pode usar uma roupa qualquer.

[Leia sobre a manteiga dos sabatistas]

Aqui as roupas estão muito caras. Um tecido como o teu fraque amarelo está custando 3$000 a 4$000 o metro, e roupas de lã, quando boas, entre 15$000 a 20$000 o metro. Você poderia perguntar quanto custa por lá. Logo vamos mandar meias para você. O custo para se enviar um pacote de um quilo é de mais ou menos 2$000, e se chegar ao destino até que vale a pena.

A senhora Leimann pede que escreva para o Karlis [Leimann] avisando que ela recebeu duas cartas, uma em leto e outra em brasileiro, e que ele não se preocupe que estão passando bem.

Sobre a viagem do Arthur [Leimann]: depois de uma viagem de 21 dias ele felizmente chegou bem ao seu destino [na Argentina].

Como é, você está recebendo os jornais? E onde ficaram os jornais que chegaram durante as tuas férias, pois aqui não chegou nenhum?

Então recebestes a resposta da carta da Rússia. Gostaria de receber esta carta para ler.

Você pode escrever em brasileiro, pois terá mais segurança que chegará aqui. Escrevo tudo de novo vez caso esta carta não chegue aí.

[Escrito na lateral]
Esta manhã carneamos um porco tão gordo que não conseguíamos arrastá-lo.

Também aos teatros | Lúcia Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 8 de abril de 1918

Querido irmãozinho,

Recebi a tua carta escrita no dia 18 de março no dia 4 de abril, pela qual muito agradeço. Agora você pode escrever cartas mais longas, pois tens agora a tua própria máquina de escrever. Antes você tinha aquelas desculpas de que a gente não conhecia quase nada de lá, mas agora já sabemos bastante — e mais a facilidade da máquina. Você pergunta de que tipo de letra eu gosto mais, da preta ou da vermelha, e eu respondo: pode escrever de qualquer jeito, pois nós sabemos muito bem soletrar…

O tempo é bom e seco, mas na última terça-feira deu uma boa chuva; também outros dias chuviscou bastante, mas no domingo passado começou um forte vento que levou todas as nuvens embora. Agora não está tão quente; principalmente as noites estão bem mais frescas.

Quanto à União de Mocidade, está um tanto devagar. Os jovens realmente parecem ter ficado preguiçosos. No mês passado ninguém foi ao Rio Laranjeiras, e também nos estudos bíblicos está uma dificuldade. A última noite estava clara e o tempo bom, e só onze jovens compareceram. Parece que todos estão cansados.

Na Igreja de Rio Novo há divergências sem fim. Possivelmente o Seeberg já tenha escrito para você [a respeito disso]. O Pastor Stroberg ainda não chegou e nem se sabe se virá mesmo. Ele tem escrito para você?

No dia 1º de abril o Kraul e o Salit viajaram para Nova Odessa, onde foram ver terras para comprar. Antes de partirem passaram rapidamente aqui em casa, quando aproveitei para mandar uma carta e fotografias para os parentes de lá. Pena que não deu quase para conversar, pois estava no horário de ir para a igreja.

Uma coisa não sei direito, se foi o Slengmann ou o Kraul que contaram do Joãozinho do Inkis, que foi trabalhar como tradutor para os fazendeiros de café, onde trabalham em serviço temporário grande número de letos. Dizem que ele foi muito bem recebido e tratado com alta consideração, chegando a participar da mesa dos patrões, mas teria ido junto também aos teatros, passado a beber e a fumar, e o velho Inkis teria dito que preferia ver o filho morto do que vê-lo transformado num malandro e irresponsável no tocante aos princípios nos quais havia sido ensinado. Se tudo isso é verdade não, sei, mas todo mundo fala. Tu sabes algo sobre isso?

Aquele remédio para “Mal da Terra” [Ancilostomíase] você já despachou? Se não, mande mais, porque os Klavin também querem.

Bem, por hoje chega; o papel já está cheio dos dois lados e não vale a pena começar outro.

O pessoal da Igreja de Pilares estava esperando por você ou não? Muitas lembranças de todos os de casa. Aguardamos cartas suas com muitas notícias.

Luzija

[Escrito na lateral]
Hoje durante o dia estive na nossa outra casa. Durante o dia esteve muito quente, e logo depois do almoço começou a ficar nublado. Ao anoitecer começou a trovejar com relâmpagos, e quando voltava a cavalo para casa apanhei nas costas toda essa tempestade. Agora as pessoas estão melhorando as estradas e a grande maioria está muito larga e plana, tanto que você e seu auto poderiam passar tranqüilamente. Venha testar o nosso bom caminho.

Serra Marruin | Roberto Klavin a Reynaldo Purim

[carta em português, apresentada na grafia original]

4 de Abril de 1918
Orleans
Sta. Catharina

Caro amigo Reynaldo,

Pode ser que pensaras que eu não escrevo mais mas assim não é pois eu sempre esperei alguma resposta de ti mas passava muito tempo e não reçebi nada mas finalmente recebi os Calendarios: muito agradeso.

Agora estou bem! Estou continuando o meu trabalho nas Larajeiras em estes últimos meses tem chuvido muito de mas tem passado algumas domingos no casa por causa das enchentes; agora já a Margarida tem adiantado bem con a leitura, quando ela só ove uma vez quando alguém lê então ella já depois pode bem com poças diferenças.

De Arthur [Leiman] já tens noticias que depois de 21 dias esta com o seu Frederico, sentimos muito a falta delle; a nossa Egreja ultimamente tem expulsado sertas pessoas: a Carlotha Besi porque não anda como e dever de crente e também a Augusta da Silva e ultimamente o A. P. por causa do casamento e o que vai dar no futuro ninguém sabe mas sempre vai diminuindo alem disso confio em Deus e elle fará todo bem com elle quero.

Na paschoa os meus irmãos Arnaldo e Augusto e W. Slengmann nosso vizinho e Augusto Felberg e Otto Slengmann e Osvaldo Hauras e Oscar e Carlos Paegle foram visitar a família de Guedes Ribeiro e ontem meus irmãos voltaram elle ian por Serra Nova [NOTA: Serra Nova era também o nome da Serra do Rio do Rastro/Serra do Oratório. Foi aberta no primeiro governo de Vidal José de Oliveira Ramos nos anos de 1902 a 1906.] e voltaram por Serra Marruin [NOTA: A Serra do Imaruim foi aberta em 1769 pelo Capitão Guarda-Mor Antônio Corrêa Pinto, fundador oficial da cidade de Lages.].

Para diante quero escrever mais. Muitas lembranças de seu amigo

Roberto Klavin