…mas nós sentimos muito a sua falta e tudo parece triste e sombrio…| De Lucia Purim para Reynaldo Purim – 1926 –

27 de julho de 1926
Querido irmãozinho!
Saudações!

Recebemos as seguintes cartas: a minha que você escreveu em 14 de julho e a do Arthur que você escreveu no dia 23 também de julho. Estas vieram muito rápidas e é raro chegar assim imediatamente. Aquela que veio como resposta ao telegrama ficamos tristes por ter que mandar uma mensagem tão triste. A primeira idéia era de não mandar telegrama nenhum, mas depois acertamos que seria melhor informar já de uma vez, porque de qualquer modo mais cedo ou mais tarde irias receber a carta informando do triste fato, então porque adiar. O telegrama foi mandado dia 10 e demorou muito para chegar lá. Nós também ficamos muito tristes e perturbados, mas tudo aconteceu quando ninguém estava esperando, mas a Palavra de Deus que todos devemos estar preparados por que ninguém sabe o dia que a morte vem e bem aventurado aquele que está preparado.
Nós naquela manhã não imaginávamos que noite nos tínhamos que nos separar da Olga, pois ela não sentia dor nenhuma e somente tinha a respiração difícil. Ela ainda pela manhã falou: Tu ainda queres viajar para o Rio, mas eu vou é para casa… Isso por que nós alguma vez planejávamos ir visitar você isto é enquanto você ainda estivesse ai no Brasil. Isto seria se a gente pudesse e tivesse condições, mas na prática sabíamos que nós não tínhamos as condições, pois a nossa vida aqui não permitia, mas conversar e planejar isto nós podíamos. Nesta última semana ela falava muito sobre você, sobre os tempos passados o que fazíamos e como vivíamos. Dizia ela e agora ele vai para tão longe e certamente eu não vou ter oportunidade de encontrá-lo novamente apesar de eu sempre tentar reanimá-la dizendo que logo que voltares da América virás direto para casa então poderemos viver longo tempo juntos e não deixaremos ir embora tão cedo, como no tempo que você tinha que voltar para a escola. Mas Deus não quis assim e levou-a para o Lar Celestial e quando tornarmos a nós encontrar então, aí, nós não separaremos jamais. Por que aqui não é o nosso lar e somos como estranhos e peregrinos a caminho da Canaã Celestial. Ela está muito bem, mas nós sentimos muito a sua falta e tudo parece vazio, triste e sombrio. Nos últimos tempos ela nada podia fazer, mas pelo menos era uma boa companhia e agora não está mais.

O Arthur mandou a carta em 19 de abril, mas ela já estava escrita dias antes, mas naquela semana começou uma grande chuva e um vento gelado. Começou a chover na terça feira dia 14 e choveu até o sábado. O frio era tão violento que a gente parecia que não poderia agüentar. Nas Serras as montanhas ficaram brancas cobertas de neve por mais de uma semana. Os serranos falavam que a camada de neve era tão grossa que chegava até a barriga das mulas. Esperávamos grandes geadas aqui, mas não aconteceram e quando o tempo melhorou aí também esquentou. É por isso que o Arthur demorou em enviar a carta por que para Orleans ninguém podia ir. Eu também não escrevi por que eu fiquei tão perturbada que não podia escrever nem a noite pensar. Desde há duas semanas antes do falecimento da Olga eu estava tão cansada e perturbada devido à tensão e não sentia vontade de comer, a cabeça doía muito e também as costas e eu cheguei a pensar que não conseguiria superar tantas tristezas, mas o Senhor ajudou e agora estou perfeitamente saudável. Estou somente bastante nervosa e qualquer movimento mais brusco me deixa perturbada. Fora isto estamos todos bem de saúde e ninguém ficou de cama por estes dias. Serviço nós temos demais agora nós estamos colhendo o milho, este ano a colheita será menor por que não cresceram bem e também há muitos ratos. Se alguma espiga foi derrubada no chão por qualquer razão sem dúvida, ela estará roída, mas vai dar para passar o ano. Os porcos estão sendo engordados com mandioca, qual nós temos bastante. A farinha de mandioca já terminamos de fabricar. Rendeu mais de 50 sacas. Os preços da farinha é que não estão bons e às vezes os homens das vendas nem querem comprar. Polvilho também vamos ter bastante, pois os cochos e as barricas estão cheios. Não puderam ser secos por que o clima não tem ajudado. Pois o tempo continua chuvoso.
O Carlos Leiman chegou dia 3 e foi embora para Mãe Luzia no dia 12. Ficou aqui em casa e deu para conversar bastante. Prometeu escrever para você. Dirigiu vários cultos e realizou Batismos no dia 11 de manhã na fazenda dos Frischembruder, por que devido à venda da terra dos Osch onde eram normalmente realizados os batismos foi vendida para um italiano onde ninguém gostaria de ir e é provável que não autorizasse. Na noite de sábado dia 10 foi realizada uma Sessão na Igreja quando foram aceitos os seguintes novos membros: Klara Sahlit, Kornelija Balod, Harri Auras e Willis Leepkaln e os batismos foram realizados na manhã do domingo pelo Pastor Carlos. Os Sermões eu não vou transcrever desta vez, talvez em outra.

Há pouco tempo recebemos carta do Fritz e do Arthur [Frederico e Arthur Leiman da Argentina]. O Arthur escreve que virá para o Natal para vender a terra.. O Fritz diz que esqueceu o teu nome senão ele escreveria para convidando para você ir para Argentina trabalhar. Ele garante que tem muito trabalho e pão macio para comer. Diz que você pode ir sem medo, pois ele precisa muito de trabalhadores.
Quanto àquela compra do terreno dos Leiman, não chegamos a nenhuma conclusão definitiva. Se vender aqui e comprar lá ou senão só comprar lá. O que nós estamos de acordo é que você se não custar muito caro mandar a Procuração e depois a gente poderia decidir com mais vagar. Nós conversamos se pela Bukuvina a gente conseguisse o suficiente que desse para comprar a fazenda dos Leiman tudo bem. Mas completar com mais dinheiro ai não. Tem um agravante, pois não existe nenhum comprador para a Bukuvina quando a gente quer vender. O Arthur [Arthur Purim] ainda tem outras preocupações e acha que no final terá que desistir da terra dos Leiman porque não será possível morar em dois lugares no mesmo tempo e nenhuma das casas não poderão ser deixadas vazias. Aqui no Rio Novo a cozinha é nova e logo abaixo do paiol nós temos uma linda horta tudo nela cresce muito bem. Sabemos que a terra dos Leiman também é boa e bem grande. As raízes lá [Mandioca] crescem muito bem. Se não comprar lá não sabemos onde por o nosso gado, pois aqui o pasto é pouco. Vender o gado é difícil, pois quando a gente quer vender ninguém quer comprar. Por ai você pode ver que não temos nada decidido, mas que concordamos que a Procuração você deve mandar e nós não comprarmos também não venderemos e ai ela ficará sem utilização. Se mandares faça em nome do Arthur, pois ele pode falar e se comunicar melhor que o Paps. Também escrevemos para o Fritz e para o Arthur, pois este assunto tem que ser bem avaliados com muita responsabilidade. Na semana que vem vamos mandar outra carta com os novos croquis do seu terreno e esperamos que este chegue lá.

Vamos mandar também para você meias, luvas, camisa e um xale. É para você ir bonito e elegante para a América. Se você não gostar da camisa, então, você pode vendê-la. Mas eu pensei que pelo tamanho ele vai servir bem. Ela está na moda e todos senhores elegantes usam este modelo. Se as mangas forem muito compridas, você pode arregaçar. O colarinho pode ser virado para o lado de fora. Se tivesses vindo para casa terias ganho um lindo terno de tecido feito de lã [Vadmales] feito no nosso tear.

Bem por hoje chega se eu esqueci alguma coisa escrevo na outra vez.

Amáveis lembranças de todos. Nós estamos bem. E o mesmo desejo para você.
Lúcia

Tradução da última carta escrita por Olga Purim para Reynaldo Purim – 1926 –

[Última carta escrita pela Olga numa data muito próxima ao seu falecimento]

Rio Novo 11 de junho de 1926
Querido Reini:
Saudações!!
A tua carta recebi na última sexta-feira e hoje já estou começando a escrever a resposta e talvez ache que seja rápido demais. Pela carta muito obrigada!
Se bem que esta carta realmente não me deixou satisfeita, mas você pouco vai se importar por que eu não gostei que você fosse embora para a América e a sensação que eu tenho que nunca mais vais voltar e eu nunca mais vou te ver por que lá e realmente muito distante.
Isto aconteceu um dia antes do recebimento das cartas. A Lúcia esteve com o Augusto Klavim pedindo que trouxesse a correspondência, pois nesta semana ninguém de nós foi à cidade. Naquela noite eu sonhei que tu tinhas chegado e trazido muitas coisas [“Mántinhas” Difícil tradução, pois “Mant” quer dizer riqueza, mercadoria, então como está no diminutivo poderia ser traduzido como” Coisinhas ricas”] lindas e disse que tão logo não iria embora. No sonho nós andávamos pelas roças lá perto da mata no alto do morro e eu ainda era forte e podia andar tão rápido como quando você ainda morava aqui e tudo era tão maravilhoso. De manhã quando acordei pensei e tinha certeza que o Augge iria trazer cartas suas e como realmente trouxe, mas com notícias todas ao contrário do que eu estava esperando, pois você quer ir para mais longe ainda. Eu e o Arthur tivemos combinando escrever para que agora que já os estudos estão terminados, você poderia tirar neste inverno umas férias mais prolongadas ou uma licença de 5 ou 6 meses para tornar a viver um pouco entre nós e é possível que os filhos do Leiman venham passar uns tempos entre nós. O Fritz escreveu que quer vender o terreno lá do Rodeio do Assucar. A Lúcia já te escreveu, mas parece que está foi extraviada. Se você tiver bastante dinheiro poderá vir aqui para comprar. Se o Arthur tivesse dinheiro ele compraria, pois ele gosta muito mais de lá do que aqui. Ele não pensa de estudar na América. Eu também gosto mais de lá, pois lá é bem melhor que aqui em Rio Novo, pois a topografia não é tão montanhosa, bastantes terras aráveis, a mandioca se desenvolve muito nos dois anos com raízes duas vezes maiores que aquelas aqui do Rio Novo e quando a farinha tem preço é muito mais fácil de fazer a farinha do que cultivar e colher feijão que é um trabalho muito mais penoso e também a mandioca pode ser usada para engorda de porcos economizando milho e assim não há tanta necessidade de plantar tanto milho. Eu de lá também gosto é do pasto. Nós agora necessitamos muito de pastagens, pois temos 20 animais entre bois e vacas e mais 8 cavalos entre os grandes e pequenos. Também lá não tem aquele maldito “matbaste” [“Matbaste” é a pronúncia e escrita incorreta de “Mata-pasto” a popular guanxuma] que infesta as pastagens aqui do Rio Novo. A renda proporcionada pelas vacas no verão é compensadora. O quilo da manteiga foi a 4 mil e se o Leiman vender o terreno para outros então nós também teremos vender as vacas por que aqui no Rio Novo não teríamos espaço no e qualidade da grama no pasto apesar do “matbaste” ter sido cortado com alfanje, mas a terra aqui é mais seca e então teremos plantar grama em outras áreas e capinar seguidamente senão o mato toma conta de tudo e a grama não sobrevive. O Arthur sugere que você venda o terreno da Bukuvina e compre lá o terreno dos Leimann. Lá não tem as tremendas grotas da Bukuvina que fizeram abalar inteiramente a minha saúde. Os Italianos correm como loucos atrás de terrenos com mata e capoeiras para comprar, mas não sei se algum deles vai levar.

A novidade é que nós logo vamos ter um vizinho novo, pois o Butler vai vender o terreno dele para o Attis [Otto Slengmann]. Ele tem terreno e mora no Rio Larangera, mas está muito deslocado em relação à comunidade leta. Então ele vai vender lá e comprar junto, pertinho da própria Igreja. Eu vou te escrever contando tudo depois dele mudar.

Agora eu vou ter que dar uma bronca. Você mesmo não poderia tirar um tempo, uma semana só para visitar os nossos parentes de São Paulo. O Paps faz tempo que pediu para pressionar você. Se nós tivéssemos condições então já há tempo alguém de nós teríamos ido visitá-los. Nós somos tão poucos e ainda por cima se eu não estivesse tão doente então a Lúcia teria ido. Mas para você é realmente muito mais fácil. Numa semana sem avisar ninguém chegar lá e ver como vivem por lá. Sempre achei que eles não estivessem passando muito bem e terem que trabalhar muito. E também a alimentação deve ser muito difícil. Nós aqui a carne, o leite e os adoçantes (Açúcar e mel) nunca a gente consegue gastar tudo, mas lá tudo é tão caro. O Willis Ochs quando mudou para lá levou banha e carne e quando estes terminaram ele gastou um dia inteiro a procura de banha e não encontrou. Depois conseguiu um quilo de toucinho e por ele teve que pagar 8$000. E como comer então?

Agora alguma coisa sobre a minha enfermidade. Quando escrevi outra vez, eu estava em Orleans tomando injeções. Mas não aquelas que você mandou, pois o farmacêutico disse que aquelas não serviriam e que ficaria pior, mas umas outras que ele receitou. Então comprei uma dúzia e ele aplicou, mas não adiantou nada e ainda fiquei pior. Então depois o Stroberg também precisou aplicar umas injeções e o malandro do farmacêutico também disse que aquelas trazidas por ele de Varpa não serviriam. Mas ele enfrentou com braço forte e sangue nas veias; então ele aceitou aplicar as injeções prescritas pelo pessoal de São Paulo e que serviram em outras ocasiões e agora foram válidas outra vez. O farmacêutico ficou envergonhado, depois da melhora do Stroberg.. Agora não tenho forças para ir, a Orleans e estou me tratando com água [Hidroterapia] e chás. Estive consultando o doutor que vem todas as semanas das Minas [Lauro Müller] para Orleans e ele falou que o meu mal é de água [Não sei o vem ser mal da água – Será Hidropisia?] e o sangue envenenado [Asinis sagifetas] e com a circulação em contrário. Queria que fosse lá para as Minas para retirar a água com uma bomba e morar lá no hospital onde receitaria a medicação e onde ele diariamente poderia acompanhar e senão fosse procurar um hospital em outro lugar, idéias que realmente não me agradaram. A Mama trouxe do Zeeberg um livro em alemão com ilustrações onde existem figuras associando o problema do coração com o mal da água, mas bem certo o meu problema não aparece descrito nos desenhos. Comer, eu gosto de comer, mas não todas coisas que antes eu gostava. Dormir antes eu dormia bem, mas agora quando eu deito começa uma tosse então o sono não vem. O peito e o esôfago [Pakrutis] estão inchados e sensíveis e quando tento andar rapidamente, fico exausta e dá uma grave falta de ar. Forças não tenho nenhuma, somente posso ficar sentada então somente consigo tricotar ou costurar e o mais difícil é que eu sinto um frio terrível. Principalmente nas mãos e nos pés que já estão doentes. Quando está frio os lábios ficam roxos e pelas manhãs os olhos e a face amanhecem inchados e às vezes a cabeça dói um pouco. Também não suo. Nem no pleno verão quando os outros estão completamente suados eu sinto calor, mas não suo. Também no tratamento quando tenho me envolver em um lençol quente e ficar inteiramente coberta o suor não aparece. Estou escrevendo isto tudo, pois poderás ter um conselho e poderias fazer o favor de escrever. Quando às vezes eu penso que antes eu podia andar e trabalhar parece um sonho distante e impossível que nunca aconteceu.
Bem agora chega de escrever. Você sempre escreve cartas curtas. Esta saiu uma longa carta.. A Lúcia já começou e é provável que já tenha terminado. O Arthur na vez passada escreveu, mas agora ele diz que não tem tempo para escrever, pois ele está comprometido com a fabricação da farinha de mandioca. Você escreve que lá está tudo caro e aqui está tudo muito barato. A Farinha a 5$000, o toucinho a 15$ – 16$000 a @, mas aquelas coisas que a gente tem que comprar nunca podem estar baratas.—
Agora vou esperar uma longa carta sua. Escreva quem vai pagar a tua passagem e quando vais viajar e se terás o dinheiro suficiente. Onde você vai guardar as tuas coisas ou vai levar tudo junto?
Aqui o tempo está frio, mas as grandes geadas ainda não chegaram, mas vai esfriar demais, pois, sopra um vento gelado.
No domingo passado houve o funeral do Reinold, criança de 6 meses filho do João Leepkaln..
Ainda muitas e amáveis lembranças da Olga.

…e em um só dia pode-se experimentar todos os climas das quatro estações| De Lucia Purim para Reynaldo Purim -1923-

Rio Novo 19 de Agosto

[Deve ser 1923]

Querido irmãozinho! Saudações!

Primeiramente envio-te muitas lembranças, minhas.

Hoje está chovendo muito por isso estou escrevendo uma carta para ti, porque a última carta que recebemos de você foi uma em abril para mim e outra em maio para a Olga e para essas as respostas nós já mandamos no dia 29 de junho acompanhado com um para de meias de lã. Mas resposta, tua nenhuma. Aqueles jornais que sempre você mandava não temos recebido e não sei se despachou mesmo ou perderam-se pelo caminho.

Não entendo porque ninguém escreve, por exemplo, a Selma [Klavin] e o Victors [Staviarski] não têm escrito uma linha sequer, nem para nós nem para os outros parentes deles. Não sabemos se vocês estão doentes ou com preguiça mesmo.

Aqui tem muita gente doente com influenza e pode ser que você também esteja de cama.

Aqui tem muita gente de cama, mas nenhum de nós ainda se entregou.. É possível que esta doença seja causada pela irregularidade do tempo, frio, quente, chuva, vento e em um só dia pode-se experimentar todos os climas das 4 estações.

No dia 10 de julho tivemos uma grande ventania, tão forte que a gente não podia andar em sentido contrário ao vento e parecia que o mundo ia acabar derrubando tudo. Duraram dois dias, estes ventos muito loucos, e depois vieram as grandes geadas. Estas geadas mataram tudo, o que encontraram pela frente. Depois vieram 3 semanas de tempo bom, mas continuou um frio terrível. Bem agora as chuvas chegaram, mas não na intensidade que antes e tudo começou a brotar e ficar verde, pois a primavera está chegando. A grama está começando a se renovar nos pastos que até a pouco era um cinza amarelado como resultado das grandes geadas.

O milho nós colhemos em 3 semanas. Começamos no dia 9 de julho e terminamos dia 28. Quanto rendeu eu ainda não calculei. Foram trazidas mais de 30 carradas que já estão no paiol. Este ano não usamos cavalos para trazer porque não temos nenhum menino pequeno para dirigir os animais.

Agora é mais fácil usar o carro de bois com o Barroso e o Branco na canga eles trazem 6 cargas de uma só vez e ainda o passeio de carro na volta.

A cana de açúcar também já cortamos e moemos. Estas este ano não cresceram direito. O vento derrubou muito e depois ainda a geada matou tudo. Este ano em tudo rendeu 3 tachos, mas ninguém sabe por que não dava ponto de açúcar. Podia ferver o tempo que quisesse, quase começar a queimar, mas de ponto de açúcar, nada. Só puxa-puxa [Ora puxa-puxa é puxa puxa. Ao ser descarregado o tacho com uma carga de açúcar já pronta o mesmo ainda tinha uma pequena quantidade de melado fervendo grudado nas paredes do tacho de cobre. Ai era solta por gravidade outra carga de garapa fria no tacho quente, então aquele melado era desgrudado com uma concha feita de cuia de um porongo. Aquilo era a delicia chamada puxa-puxa]

e melado-forno. [Melado era tirado um pouco antes do ponto do açúcar e este era usado na alimentação humana.O outro era o melado do cocho, que era o resíduo que escorria do açúcar]

Agora estamos numa grande comilança de melado. Quem sabe você também queira comprar algumas latas de melado. Está muito doce e pode ser usado para adoçar o café e também muito bom para ser passado no pão. Se você quiser experimentar e só vir para cá. A explicação técnica porque não deu açúcar e somente melado foi que a cana usada tinha sido apanhada e morta pela geada.

No dia 29 agosto vai ser comemorado o dia de Ação de Graças mais conhecido como Festa da Colheita. Se quiseres poderás vir para a festa, mas não esqueça de trazer uma mensagem ou uma poesia para apresentar no programa. Também podes trazer um hino para ser cantado em solo. Vais ganhar café com leite acompanhado com pão doce, bolos e bolachas quais não podem faltar em uma Festa da Igreja, tendo mais coisas ou menos isso sempre tem.

Na igreja tudo corre na monótona mesmice. Estávamos esperando o Vilis [Leiman], mas já soubemos que ele não vem mais. O motivo eu não posso afirmar.

Bem agora chega. Se você, alguma vez, tivesse escrito tanto, teria sido muito bom e ainda por cima você só escreve de um lado só do papel.

Como tu estás passando? Estás com saúde? O que estás fazendo? Lá também vocês tiveram muito frio e geadas?

Ainda uma coisa: você quando esteve aqui me prometeu uma receita para fabricar gelo, mas não cumpriu o prometido. Por favor, cumpra o que prometeu agora.

Todos estão dormindo e roncando. Tenho que ir também. Mui amáveis lembranças de todos. Lúcia

 

E como eles esperaram você lá no Rio de Janeiro, | De Olga Purim para Reynaldo Purim – 1923 –

Rodeio do Assucar 20 de junho de 1923

 

Querido Reini: Saudações!

 

Então agora tenho que começar a responder a tua carta escrita no dia 25 de maio, qual há mais de uma semana já está comigo. Muito obrigada. A tua carta escrita no dia 30 de abril não chegou e é bem provável que tenha se perdido por ai.. O que escrever eu tenho muita coisa, o problema é com que devo começar e onde terminar.

 

Na carta passada eu te convidei para vir ajudar fazer farinha de mandioca, então a chuva foi pouca e também tu não vieste então para as tuas festas também não iremos. Entre as guloseimas que você oferece estão o feijão, arroz e a farinha, quais nós aqui temos e bastante para comer a vontade e é provável que os nossos sejam melhores e ainda com a vantagem que não é necessário pagar. Aqui a farinha e o feijão estão com os preços muito altos e estes nós temos o suficiente. A farinha vale 13$000 a 14$000, a saca e o feijão está a 16$000. Feijão nós não temos para vender, mas somente para o gasto. Esta safra nós plantamos pouco porque elas dão muito trabalho e a gente não consegue fazer tudo. Este ano foi muito ruim para o feijão, pois no dia 13 de maio começou soprar um vento muito frio e nas manhãs dos dias 14 e 15 de maio amanheceram brancos com fortes geadas e quem tivesse o feijão ainda verde ficou inteiramente destruído. Para onde se olhasse estava tudo branco. Nos outros anos nunca as geadas aconteceram tão cedo. Este ano a primeira foi no dia 9 de maio, mas esta foi pequena.

Os profetas de plantão fizeram as suas previsões que indicavam um inverno muito rigoroso neste ano, mas parece que eles andaram falhando. Pois depois deste dia não me lembro um só dia que não estivesse chovendo ou pelo menos nublado. Nenhum dia depois das geadas amanheceu com tempo bom e o que tem chovido faz muito tempo que não tinha visto tempo igual. Desde a semana passada nem por uma hora apareceu o sol. Logo depois da Festa do Verão [Pentecostes] naquela semana houve as grandes inundações. Choveu duas noites e dois dias sem parar e os rios tornaram-se assustadores. Na ponte da Estrada de Ferro em Orleans faltou ½ metro d’água para chegar no nível dos trilhos da Estrada de Ferro. Na casa do Grüntall lá perto da Estação Ferroviária [Este bairro chamava-se Campos Elíseos] a água chegou ao nível das janelas e a ponte do final do Rio Novo [Na foz do Rio Novo] a água levou embora. Não era possível chegar em Orleans. Também a viagem de trem para Laguna ficou prejudicada, pois a linha férrea ficou interrompida em dois ou três lugares. A locomotiva que estava aqui em cima levava os passageiros e as cargas até depois da Estação de Pedras Grandes e daí um trecho a pé, em seguida tomava-se outro trem, outro trecho e assim por diante e na volta vice versa. Muitos prejuízos também para os tafoneiros que tiveram os seus açudes e represas destruídos pela força das águas. Até aqui no nosso pequeno riozinho ficou tão cheio que a noite a gente escutava o urro lá de casa. Por pouco a nossa represa também não foi embora. Cercas inteiras foram arrastadas, que nem os palanques ficaram. Nós além de mantermos a eclusa totalmente aberta e ainda tendo retirado mais algumas tábuas para facilitar a fúria da correnteza parecia que ela ia embora. Na noite do dia 24 a chuva mais parecia um dilúvio  e o ronco da água no rio dava até medo. O Arthurs [Purim]  enfrentando a noite escura e tenebrosa, foi até o açude que estava transbordando com uma lâmina de mais de 1 metro d água. Ele se aproximou, o mais que pode e conseguiu despregar mais algumas tábuas aliviando assim a pressão. Mais tarde no meio da noite a chuva amainou salvando assim o nosso pequeno açude. Na outra semana  repetiram-se os mesmos temporais e senão maiores foram pelo menos iguais. Mas assim mesmo chove sem parar. Hoje amanheceu um sol forte e quente  e agora chove novamente e imagine só a tremenda lamaceira que está tudo por aqui que chega nos deixar desanimados [deprimidos] porque o feijão e o milho estão apodrecendo nas roças e este ano vai dar menos. O preço já está a 10$000 a saca e no ano passado quando nós precisávamos comprar um pouco de milho em espigas custava 4$000 e logo que os brasileiros souberam que nós estávamos comprando vieram oferecer a 3$000, mas este ano ninguém tem nada para oferecer. A farinha de mandioca no ano passado estava a 5$000 a 6$000 a saca, mas chegando para o fim do ano já passou para 10$000 e agora estão já estão pagando mais de 15$000. Para o lado de Mãe Luzia também todas colheitas foram perdidas devido a estas grandes inundações. Nós este ano já fizemos 24 sacas de farinha de mandioca e temos muitas roças de mandioca mais velhas de 3 anos para arrancar. Até semana passada estávamos com o engenho em funcionamento, mas tivemos que parar porque sem sol não conseguimos secar o polvilho e os cochos estão todos cheios de polvilho molhado aguardando o sol para secar. Estas mandiocas mais velhas dão muito polvilho. Agora estamos emprestando o Engenho para os vizinhos brasileiros. Todos que tem alguma mandioca querem é fazer farinha. Os Klavim fizeram a farinha deles na época das grandes inundações e rendeu 35 sacas. Até o Jurka veio de Nova Odessa para ajudar e foi aquela festa. Já foi embora na semana passada e com ele o Harrys do Augusto Felberg, pois o Frantzis do Limor [Lövenstein] tinha mandado dinheiro para a passagem e ele precisa gente para trabalhar para ele em S.P.

Na semana passada foi construída a nova ponte na foz do Rio Novo.[Esta ponte fica na barra do Rio Novo um pouco antes deste rio entrar no Rio Tubarão, bem próximo ao antigo “paredão” que nada tem com o Paredão onde estão as esculturas do Zéca Diabo.] Os colonos queriam que o governo pagasse, mas qual nada.  Tiveram os próprios colonos com ajuda dos donos das Vendas de Orleans entrar com a mão de obra, cimento, ferro, madeiras, pregos etc. e fazer tudo sem ajuda nenhuma do governo. Desta vez fizeram com as ferragens chumbadas tanto no concreto como nas madeiras e tem certeza que inundação nenhuma vai conseguir levar esta nova ponte.

Nós te convidamos para vir para a primeira festa das músicas, mas nada, parece que tens esquecido ou desaprendido tocar o violino. Foram apresentadas músicas de todas variedades: foram tocados instrumentos de sopro, harmoniun, violas e violinos, guitarras e até cítaras. Todos coros cantaram; primeiro foi o coro da Igreja, depois o coro dos Jovens, o coro dos Homens, e o coro das vozes Femininas. Depois o quarteto de vozes masculinas com o Osvald, [Auras] Emils, [Anderman] Aleksis, [Klavin] e o Jahnis [Seeberg]. Marcou muito, agradou mesmo foi um solo pelo Aleksis acompanhado pelo Emils no harmonium. O Emils também se sobressai no violino e toca muito diferentemente dos rapazes daqui. O tempo, aquele dia, estava maravilhoso e veio muita gente. Havia visitantes de todas partes inclusive de Mãe Luzia. Quem dirigiu foi o Emils e o estilo foi bem segundo o capricho da senhora Anderman, isto é do modo que ela aprecia. Todos gostaram tanto da festa que embora sendo a primeira, espera-se que não seja a única.

 

Pois é, já tenho escrito bastante, entretanto não seria necessário, pois seria suficiente colocar as nove páginas que chegaram do “deserto”, [Palma, Varpa, Tupã SP] do tio Jehkabs, da prima Alma e a terceira carta da prima Lilija. Demora bem um meio dia para ler e assimilar todas as informações trazidas nestas cartas. Eles tem recebido todas as nossas cartas e logo se apressaram-se em responder. A Lilija é muito corajosa, pois conta tudo como realmente é e assim mostrando toda a verdade. Gente como ela é difícil encontrar por aqui.

 E como eles esperaram você lá no Rio de Janeiro, pois sabiam que ainda estavas lá. Ficaram atentas para ver se alguma pessoa tinha vindo que estaria perguntando pelos Purens, mas ninguém. Ficaram muito decepcionados e é com os corações muito tristes e pesados, o navio saiu da barra do Rio de Janeiro em direção de São Paulo noutro dia pela manhã. Quando chegaram em São Paulo souberam que nos morávamos longe ao sul em Rio Novo. Mas onde era esse Rio Novo elas não sabiam. As meninas quando saíram da Europa tinham como único interesse era vir para junto dos parentes e do “deserto” nada queriam saber. Mas assim mesmo ficaram maravilhadas com os magníficos parques cheios de muitas palmeiras e outras coisas lindas na cidade de São Paulo. Mas depois da longa viagem a chegada em Sapezal, [Estação da Alta Sorocabana, perto de Paraguassu Paulista] a mata espessa, a abandonada estação da estrada de ferro, os sujos casebres e tão desagradáveis a vista habitados pelos brasileiros relaxados e em seguida o longo e tortuoso e péssimo caminho para a Colônia. Foi demais…  Vieram as lágrimas em profusão… Quando chegaram derrubaram a mata da área comum e três semanas puseram fogo na coivara e agora o milho já está madurando na roça.. Também plantaram repolhos, nabos, batatas, mamões e bananas. A Lilija pergunta para a Lucija para que ela escreveu se aqui no Rio Novo tem bananas e mamões. E se tem rosas e georginas [ dálias etc]. Parece que eles já tiveram a chance de provar bananas alguma vez. Agora eles estão roçando as matas e os agrimensores estão a fazer o sorteio para cada um saber qual vai ser a sua gleba definitiva.. A Alma também comenta que o ambiente é bastante opressivo em uma época que na Letônia é primavera e a natureza lá explode em flores e a Lakstigala [Lakstigala – Pequeno pássaro típico da Letônia – Espécie de rouxinol] canta aquelas melodias maravilhosos enchendo o ar de alegria, aqui ela com a foice na mão, abafada dentro da mata fica a ouvir o marulhar desafinado dos milhares de papagaios. Mesmo para o Jehkabs, a história está mudando e se pudesse cairia fora, mas ai esbarra no problema da falta de dinheiro. Ele pergunta o tamanho da nossa colônia que era dos Leimann. Porque eles ao todo são 9 pessoas. O Tio, a Tia, a Alma, a Lilija, a Melania e o Teovils. A pequena Valentine com os seus cinco anos de idade faleceu antes da Páscoa. Ainda tem o sogro dele o Peteris Sagers e [Conforme informação da D. Melania Purens Minka, as malas do Sr. Pedro Sagers e de sua filha Vilma foram roubadas durante a viagem para o Brasil. Continham muitas roupas boas, jóias e muitos itens de estimação. Nenhuma informação foi conseguida sobre o seu paradeiro] com sua irmã [A D. Melania que foi testemunha ocular, pois veio no mesmo navio, também discorda da informação de teria vindo uma irmã do Sr. Pedro Sagers. Eram 9 pessoas com a menina que veio a falecer] e com a sua filha Vilma que tem 19 anos. Agora tu sabes quantos são os nossos parentes naquele “deserto”.

 

O sogro dele o Sr. Sagers tinha casas e propriedades na Letônia e tendo vendido deve ter usado o dinheiro para as despesas da viagem da Letônia para Hamburgo onde permaneceram 5 dias e de lá para Paris e daí para Cheburgo onde tomaram o navio. A Lilija fez a viagem razoavelmente boa, mas a Alma passou os 19 dias, deitada.. Bem acho que por hoje chega. Não poderei mesmo descrever tudo. Nenhum deles tem escrito para você? Opa eu ia me esquecendo!

 

Gostaria que descobrisse quem são os letos que moram a mais tempo aqui no Brasil que tem falado com a Lilija que aqui nós somos muito ricos mesmo e todos tem feito boas escolas. Não sabia que éramos ricos e nem que tivéssemos estudado em boas escolas. Logo que eles chegaram ao Brasil e ainda não tinham recebido nenhuma carta nossa, chegaram a conclusão que nós nada queríamos  com os parentes pobres. Descubra quem soltou este boato..

 

Do Karlos [Leiman] recebi uma carta agora mesmo. Ele não vira para cá agora. Diz que lá o pessoal vive muito doente e chove muito. Ele vai viajar para Rio Branco.

 

Bem eu sei que terás dificuldade de ler esta tão longa carta, mas não fique procurando erros, pois deverá achar, pois eu não tenho muito tempo para escrever. Com saudações espero uma carta tão longa quanto esta. Olga.

Escrito na lateral

A sim! Como tudo passa tão rápido. Quando comecei a imprimir esta carta também, comecei a tecer um par de meias de lã. Lembre-se que aqui não temos aquelas imensas máquinas a vapor que são usadas nas grandes cidades. Aqui tudo tem que ser feito na mão, mas para a tua sorte, ficaram prontas junto e então que sigam a viagem juntas. Estamos com temor que você congele como um Tarkans, [?]  Bem agora lá haverá grandes festas, mas daqui a algumas semanas você terá férias, então escreva bem devagar uma longa carta que eu estou aqui aguardando.

 

…é o celeiro de trigo da Argentina e quem sabe do mundo | De Olga Purim para Reynaldo Purim 1922

Rio Novo 9 de agosto de 1922

Querido Reini – Amáveis recordações!

Recebi semanas atrás a tua carta escrita no dia 10 de julho. Obrigada. Justamente naquele dia e escrevi uma carta que por certo deves ter recebido. Faz tempo que estou aguardando a resposta. Possivelmente hoje ela chegue, pois lá em Orleans falaram que o Maxchelis [Depreciativo do vapor da Karl Hoepke, o Max] chegue hoje, ele sempre traz as malas do correio.

Quantas novidades poderei te contar hoje ainda não sei. Por aqui os ventos das notícias estão bastante devagar. Nós graças a Deus estamos passando até que muito bem.

A grande maravilha que este ano ainda não fez frio quase inteiramente sem geadas. Na verdade nós vimos algumas bem fracas lá em baixo no pasto ao redor do templo da Igreja. Houve sim um período de chuvas frias. Nenhuma planta foi morta pela geada e todo mês de julho foi muito quente. Agora os pessegueiros e as laranjeiras estão todas em flor que nos outros anos ocorria bem mais tarde no final de agosto.

Chuvas sim tiveram demais, pois nem terminamos colher o milho. Este ano o milho está sendo prejudicado pelo excesso de chuvas. O milho até que deu espigas grandes, mas agora ao colher aparecem muitas espigas apodrecidas. Alguns trechos as hastes são grandes e as espigas pequenas.

Logo vamos fazer açúcar e se quiseres tomar uma gostosa garapa e chupar cana, venha logo. A cana está crescida que dá gosto cortar. Não pense que vais conseguir todas estas delícias sem qualquer esforço. Você terá que ajudar a cortar, transportar para a fábrica, pois ferver a garapa para fazer o açúcar e o melado nós mesmos vamos fazer porquê este serviço de ficar na fornalha e cuidar do tacho será demais para um cara da cidade. Para você vai ficar reservado o serviço “leve” como cortar a cana, desfolhar e enfiar nos feixes [ver nota no final] e outros serviços similares.

Agora a escola de Rio Novo está com novo professor, o Emílio Anderman e logo vamos ver Rockfelleres sobrando por aqui. O Treiman não “formou” nenhum de seus alunos, pois foi logo embora.

No Domingo passado foi anunciado do púlpito o noivado da Lucija Sanerip com o Jahnis Ochs então breve vamos ter festa de casamento. Em Nova Odessa já casou o Conrado Frischembruder com a jovem Lídia Akeldam.
Há pouco tempo atrás chegou de Porto Alegre para morar em Orleans o Willis Gruntz. Ele comprou a casa do
Grünfeld.

Você já sabe que os Leiman foram embora e só para isso que o Fritz veio e foi suficiente convincente para fazer que os velhos deixassem tudo para traz e fossem embora para outro país. A maior pressão tinha sido exercida pela Kristina esposa dele que não se conformava de que eles ficassem sozinhos e com a saúde precária e tão distantes. Ela praticamente intimou o marido trazer os sogros de um jeito ou outro, pois lá ela teria todas as condições de cuidar e proporcionar a eles uma velhice bem cuidada depois de uma vida inteira de tantas lutas e trabalhos.

Certamente eles realmente estarão bem ali, pois o Fritz tem em imóveis o equivalente de 20.000 pesos, morando na cidade de Ramirez, província de Entre Rios como um bem instalado fazendeiro. Tem uma grande casa na cidade com todo conforto com grande jardim e na parte posterior uma grande horta. Fora da cidade uma grande gleba onde ele planta trigo que dá para comer o ano inteiro e ainda muito para vender, tem sempre 4 ou 5 vacas dando leite. A Kristina vende todos dias, leite e derivados e mais verduras em geral. Também eles têm um automóvel com o qual se pode viajar entre 60 a 80 quilômetros por hora. Antes ele mantinha cavalos, mas agora com as boas estradas não tem mais sentido. Toda Província de Entre Rios e entre cortada de boas estradas e a topografia é muito plana. Esta parte do país é o celeiro de trigo da Argentina onde estão situadas as melhores terras para o cultivo deste cereal da Argentina e quem sabe do mundo. – Agora esperamos que a viagem para lá tenha sido bem sucedida e por isso estamos aguardando longas cartas.

Daqui eles desceram a cavalo para Orleans no dia 11 de julho e no dia 12 embarcaram de trem para Imbituba para aguardar o navio. Lá naquela noite, o Fritz que até ali tudo tinha corrido muito bem. O trem não tinha prejudicado a saúde dos velhos, a mãe estava com muito apetite e a tosse tinha diminuído bastante. O navio deverá entrar no porto nesta mesma noite e no outro dia já iria sair para o porto com destino da cidade de Rio Grande. Eles queriam antes visitar o Karlis [ Leiman em Joinville] e então de trem para Ijuí, mas depois parece que apareceram obstáculos e eles iriam direto para Ijuí encontrar o Willis. Como realmente foi a viagem ainda não sabemos. Aquela semana aqui foi de clima ameno e calmo.

Bem desta vez chega, estarei esperando muitas novidades daí. Se você quiser saber alguma coisa mais especifica, escreva.

Agora que nós compramos a propriedade dos Leiman estamos com a família dividida alternadamente ficam alguns lá e outros cá. Eu na minha humilde opinião acho possível que você não esteja interessado nos detalhes de nossa vida aqui, mas se perguntares algo eu responderei pela ordem.

Então finalizando lembranças de todos e fico aguardando muitas novidades. Muitas lembranças de todos e especialmente as minhas. Olga
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[Para transportar a cana em carros de bois se tornava muito difícil pois as mesmas são escorregadias, ocupam muito espaço e são muito difíceis de amarrar, então para facilitar eram feitos feixes da seguinte maneira: Eram feitas argolas pré-amarradas de cipó São João ou outro qualquer bem forte com um diâmetro de palmo ou pouco mais e onde as canas depois de desfolhadas e despontadas eram enfiadas até não caber mais mesmo, isto é até ficar um feixe compacto e firme e fácil para transportar]

O fogo chegava até a altura das árvores mais altas | Robert Klavin a Reynaldo Purim

Invernada, 20-9-18

Querido amigo,

Sábado recebi a tua carta escrita no dia 31-8 pela qual agradeço. Estou muito satisfeito em saber que você se está saindo bem nos estudos.

A irmã Guedes, depois de longa enfermidade, separou-se dos desta terra. Quando no dia da Ascenção do Senhor estive lá, visitando, ela estava muito fraca e tão magra que parecia que a pele estava cobrindo os ossos. A fisionomia era totalmente diferente. O Guedes tinham gasto uma fortuna em remédios e médicos, mas nada disso adiantou.

Também a senhora Onofre Regis está mais doente do que nunca. Esteve com médicos de Tubarão e eles vêm às vezes visita-la em casa, e assim mesmo não consegue melhorar nada — e ela está doente há mais de 20 anos.

Quanto à nossa igreja [em Rodeio do Assucar], por enquanto não tem nada de novo, o que mais falta é um pastor. Quanto à Escola Dominical do Rio Laranjeiras, vai estável. A Maria Verginia e a Benta foram embora dali. Os netos do Caciano não vem mais para a Escola Dominical porque foram proibidos pela mãe, que tem medo dos batistas, e crêem nas doutrinas católicas e outras superstições. Ela foi fazer farinha de mandioca lá no Rio Bonito e quando voltou não mais deixou os filhos irem para a Escola Dominical.

No começo deste mês inscreveu-se um de nome Pedro Vieira. O pai dele é muito rígido em suas convicções, mas ele não se inscreveu o sem conhecimento do pai e do avó. Também uma filha daquela Maria solicitou para inscrever na Escola Dominical, então por aí você pode ver como está o trabalho da mesma no Rodeio do Assucar, que aos poucos está levando o seu objetivo em frente.

O Theodoro [Klavin] já faz tempo que foi embora; na noite de 25 passado ele chegou em São Paulo.

O tempo aqui se mantém bom e muito frio e ainda na semana passada houve geadas. Neste ano podemos observar um fenômeno inédito na região: fortes ventostrouxeram imensas nuvens negras de fumaça do alto da serra. Lá queimam os campos e os faxinais numa medida antes nunca imaginada, porque nunca as cinzas chegaram até aqui, e vindo daquela distância do alto da serra.

Na semana passada aqui em baixo da serra também queimaram descontroladamente muitas áreas de mato, capoeirões e capoeiras, fazendo um ruído medonho; à noite, apesar da fumaça, havia clarões por todo o lado. A queima é facilitada porque grande parte da vegetação das matas está totalmente queimada pela geada. O fogo era realmente apavorante, pois chegava até a altura das árvores mais altas. Fiquei imaginando que se não tivesse chovido, apagando tudo, o fogo teria chegado às nossas vizinhanças e acabado com todas as samambaias.

Mas lá nas Serras não choveu e o fogo continuou, e o forte vento trazia, além das nuvens de fumaça, um calor desagradável. Por fim lá também choveu, apagando aquele inferno, tudo voltando a normalidade.

Agora outra vez, o tempo está bom e sopra uma brisa agradável.

Terminando, receba muitas lembranças minhas e votos de bons dias. Que Deus te ajude.

Teu Roberts [Klavin]

[Escrito na lateral:]
Muito obrigado pelas lembranças recebidas do Eduardo Sahlit. Quando escreveres saúde ele por mim.

Os letos lá estão ficando ricos | Robert Klavin a Reynaldo Purim

19-VIII-1918

Rodeio do Assucar
Sta. Catharina

Querido amigo!

Já faz bastante tempo que não recebo notícias tuas e não sei como agora estás passando. Pensei que tivesses muito ocupado com os estudos e por isso não posso insistir para que escreva muito e ainda nestes tempos difíceis.

O Arthur [Leimann] também reclama muito que não recebe cartas, mas nós sempre escrevemos para ele. Esta sua não pude escrever antes, porque nestes últimos meses tenho trabalhado demais, semanas inteiras fora, somente chegando aos sábados à noite e saindo novamente nas segundas-feiras cedo. E aos sábados, tinha que olhar as lições, ler os jornais, etc.

Bem, agora estou em casa. E estou bem.

Terminamos a fabricação da farinha de mandioca. O tempo permanece por demais seco. No princípio do mês passado deu uma geada tão forte que antes não tinha sido vista. E um frio tão grande também não. A geada matou tudo, o que podia matar: matas, capoeiras, pastos e mudas de mandioca mesmo guardadas. Qualquer lugar que se queira olhar a paisagem é cinzenta, sem vida alguma, pois geada tão grande não tínhamos ainda visto. Também as serras também estão cor cinza e no começo do mês passado tinha neve cobrindo as montanhas, o que se repetiu no dia 13 deste mês, quando as serras voltaram ficar brilhantes de tanta brancura e até agora continua bastante frio.

A senhora Guedes já há bastante tempo está muito doente e nem sabe se um dia vai ficar boa; está tão magra que parece que está com pele e ossos, mas o rosto e a fisionomia permanece inalterada. A senhora Onofre também nestes últimos meses está gravemente enferma, tanto que há tempos não temos sido convidados para visita-la. E o médico sempre está a visita-la, assim podes imaginar a despesa com médicos, remédios, etc.

Quanto à igreja não temos nada de novo; tudo vai como sempre. Tenho ido regularmente a Rio Laranjeiras, e às vezes parece que temos que começar tudo de novo. A Margrida ajuda, pois já sabe ler livros. O Vergílio está indo na escola em Rio Palmeiras e a Margrida que se cuide, que ele vai passar na frente.

O Matiss vendeu a terra dele para o Oskar Karp por 5.000$000 (cinco mil réis) e vai mudar para Nova Odessa, onde vai plantar algodão. Os letos lá estão ficando ricos com este tipo de cultura, pois a arroba dizem valer 20$000. No mês passado esteve uma pessoa aqui, o Augusto Klava de Nova Odessa, procurando gente para trabalhar lá. Primeiro ele esteve em Mãe Luzia e depois este pouco tempo aqui procurando gente disposta para ganhar dinheiro lá. Não levou ninguém na hora, mas é possível que o Matiss e meu irmão Theodoro embarquem semana que vem para ver e ganhar todo este dinheiro. Vamos ver se isso é permanente ou se é um fogo de palha que logo acaba — como já aconteceu outras vezes, quando pessoas venderam todos seus bens e saíram correndo atrás de ilusões.

Muitas lembranças de meus irmãos Arnold e Theodors e, concluindo, também minhas. Que Deus te abençoe e acompanhe para todo bem.

Roberts [Klavin]