Só as velhinhas e pessoas de idade cantam no coro | Lucia Purim a Reynaldo Purim

29 de maio de 1919

Querido irmão,

Primeiramente envio muitas lembranças para você. Eu estou passando muito bem. O tempo está lindo e quente. Hoje estivemos na igreja, onde teve um piquenique. Pela manhã teve um programa com poesias pelos alunos, que também cantaram três canções do hinário “Bernu Kokle”. O grande coro também cantou vários hinos, mas este está bem reduzido: só as velhinhas e pessoas de idade cantam no coro, pois o pensamento dos jovens está em outro lugar… Depois foi servido café com mistura [pão branco feito com bastante açúcar e manteiga] e depois fomos para o pasto brincar e correr.

As crianças são poucas e ignorantes. Laura tocava harmônio e Gutis Grikis ajudava cantar, mas ainda assim não ia.

Na sexta-feira passada, dia 23 de maio, houve o casamento da Ana Burmeister com o Alfredo Leepkaln. Este sim foi o par de noivos mais skists que nunca houve e nunca mais haverá.

[NOTA: Falta traduzir “skists”. Se estivesse sido escrito “skaists” a tradução seria “lindos, maravilhosos”]

O casamento foi na igreja, e depois serviram pão caseiro [integral], café e pão branco. Mas se os recém-casados não se portarem direito depois do memorável sermão que o Deter proferiu, aí não sei o que fazer mais. Depois disso não teve nada importante. O casamento começou às 2 horas da tarde e antes do sol se pôr todo mundo já ia para casa.

O Waldis Karklin estava domando uns cavalos para o Bekeris. Ele também estava domando um potro do Hermann Grunzkis, mas quando foi subir num outro potro que pretendia ensinar foi jogado no chão, quebrando o braço esquerdo perto do cotovelo. Achei que foi muito bom, porque ele era muito pretensioso, desfazendo e zombando de todos rapazes daqui por qualquer coisa.

Agora o Waldis e o Jurgis vão embora para São Paulo, e sobre a famosa eletricidade ninguém conseguiu ver nada.

Chega por hoje, outra vez escrevo mais. Ainda muitas lembranças da

Luzija

Um belo futuro | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 27 de maio de 1919

Querido Reinold,

Primeiramente receba muitas lembranças. Na segunda feira passada, dia 19 de maio, recebemos a tua carta escrita no dia 7-5-19 e também os jornais enviados a 4-5-19. Muito obrigada. As cartas anteriores, bem como os jornais, já foram recebidos. Ainda não pude escrever as repostas, mas mandei um Cartão Postal no dia 29 de abril, outro no dia 17 de maio e uma carta em 4-5-19.

Nós estamos passando bem. Agora estamos com saúde, mas no domingo passado o Paps estava doente.

Bem, desta vez tenho muitos assuntos para escrever. É possível que você já saiba que o Deter esteve no Rio Novo, pois escrevi algumas linhas no cartão postal, então agora vou tentar descrever mais ou menos pela ordem dos acontecimentos. Já deveria ter escrito, mas o tempo passou tão depressa; os dias são tão curtos, à noite há outras coisas para fazer e ainda com o querosene faltando, a gente tem que apagar as lâmpadas logo e ir dormir. Os domingos também passaram rápido e por isso não deu para escrever.

O missionário Deter chegou em Orleans no dia 6 de maio com o trem da noite. Pude vê-lo naquela mesma noite, pois ele pernoitou na mesma casa onde estou hospedada, da família Stekert. Mas ele não está como daquela vez, que precisava andar de muletas. Nem bengala ele usa mais. Está mais gordo e um pouco grisalho. Naquela noite o pessoal foi dormir depois da meia noite, pois aproveitou para ouvir contar os mais variados acontecimentos das viagens e da vida dele. Ele também, na base da brincadeira, falou que logo na primeira noite teve a grande chance de conhecer o mundialmente famoso “Sr. Grünfeld”. Na outra vez em que o Deter esteve aqui o Grünfeldt estava em Desterro e assim o Deter não teve a grande oportunidade de conhecê-lo.

A primeira coisa que ele [Grünfeldt] fez foi se queixar e falar mal do pastor Butler, com o qual ele agora não se dá bem, como acontece com todos os outros pastores. Ele chegou à conclusão de que no Brasil não haveria um pastor de seu agrado; disse que quem sabe no mundo inteiro não houvesse um pastor que o agradasse. O Grünfeldt disse ainda que o Rio Novo é semelhante ao reino de Judá: quando o rei era fiel a Deus o povo prosperava, e assim também acontece com os pastores de hoje…

O Deter só escutava, e quando o Grünfeldt foi embora ele disse que sendo pastor e conhecendo grande parte do mundo não chegou a conhecer todos pastores do mundo, mas o Grünfeldt, que mora e sempre morou no Rio Novo, conhece. Disse ainda que não precisou de cinco minutos para perceber e reconhecer que ele [Grünfeldt] é um dos tantos que existem pelas igrejas procurando culpados e defeitos nos outros; para ele nada presta, e assim não vai chegar a lugar nenhum e somente atrapalhar os outros.

E ainda não contei da parte política: quando o Grünfeldt começou a falar mal do Brasil e disse que se o Deter fosse brasileiro teria vergonha, o Deter disse com firmeza e tranqüilidade que seria melhor, se ele realmente gosta tanto da sua “Faterland”, que ele se mudasse para lá. Mas ele continuou dizendo que não tinha governo nenhum e que o idioma alemão deveria ser obrigatório em todas as escolas do Brasil e que os alemães são de longe mais cultos. O Grünfeldt é como o Janzis Arais, que diz que se conseguisse as rédeas do governo levaria o mundo direto para a lua. Mas para sua infelicidade eles não conseguem tomar o leme do mundo…

No outro dia o Butlers e o Roberts trouxeram um cavalo e levaram o Deter para o Rio Novo. Na outra vez ele precisou usar o selim próprio para mulheres, mas desta vez usou uma sela normal e seguia na frente deixando os outros para trás. Naquela mesma terça-feira teve culto na igreja do Rio Novo. Também na quarta e na quinta. Eu não fui nenhum destes dias, pois estávamos em Orleans e costurávamos até a meia-noite. O tempo estava quente e seco todas estas três semanas. No sábado eu cheguei em casa tarde, e com exceção do Puisse [Artur Purim] os demais tinham ido a um culto lá no Rodeio do Assucar na casa dos Leiman. Foi um grande culto, pois tinham vindo muitos brasileiros e muitos do Rio Novo. Desta vez o missionário Deter ficou na casa dos Frischembruder e daí eles também foram juntos ate lá. Neste culto os cânticos em brasileiro se desenvolveram muito melhor do que no Rio Novo, graças ao trabalho de ensino de música no tempo do Arthur Leiman.

No domingo pela manhã fomos todos à igreja do Rio Novo, pois não houve culto lá nos Leimann. Depois do culto houve uma assembleia dos comitês de ambas as igrejas, quando os nossos líderes fizeram uma explanação das condições em que ocorreu a cisão. O Deter então fez uma explanação das razões e vantagens que uma reunificação traria, principalmente nas áreas de evangelismo. Como a igreja de Rio Novo é a maior das províncias do Paraná e Sta. Catarina, ela deve ser a líder na área da Associação, e conseguir maior número de obreiros nas áreas de missões — obreiros que poderiam ser estrategicamente colocados em Laguna ou em Tubarão e assim dar assistência a toda região. Agora sai um trem de Tubarão para Campinas [hoje Araranguá].

Então eles ficaram deliberando, e não era permitido discutir assuntos do passado nem desrespeitar as regras parlamentares, mas no caminho para casa alguns não agüentaram e começaram a descarregar a tensão lá acumulada. Então, com a orientação do Dr. Deter, foi decidida a realização de uma sessão extraordinária da igreja de Rio Novo, cuja pauta seria unicamente a determinação do envio de um convite para que os irmãos que fazem parte da outra igreja [em Rodeio do Assucar] aceitem a proposta de reunificação, uma vez que não há nenhuma objeção doutrinária ou de qualquer outra natureza, a não ser falta de boa vontade de ambas partes; que voltem como irmãos e irmãs, que não se procurem causas e motivos do passado, os quais não trariam nada de positivo.

Na outra semana um mensageiro da igreja de Rio Novo compareceu na nossa igreja com a carta convidando a mesma para a reunificação. Ultimamente a nossa igreja estava um tanto fraca. Os jovens todos saíram e não havia ninguém que pudesse a ensinar a cantar. A Escola Dominical era dirigida pela Emma pois a Milda não mostrou boa vontade. O Roberts vai para Larangeiras atender o trabalho lá. O Arnaldo está nas Serras. Então, naturalmente, virá a unificação!

No dia 12 de maio o Deter e o Butler com a sua Marta foram a cavalo para Mãe Luzia. Lá houve cultos solenes muito concorridos e festas de batismos. Também estiveram em Campinas [hoje Araranguá] onde realizaram culto no Forum, e na volta fizeram mais um culto em Nova Veneza. A igreja de Mãe Luzia fez uma coleta para ajudar nas despesas de viagem do Pastor Deter, que rendeu 97$000. Lá ele ficou uma semana.

No sábado à noite, dia 17 de maio, quando eu voltava de Orleans em direção do Rio Novo, encontrei o W. Slengmann, que começou contando que o velho Stekert havia sido encontrado morto em sua casa. Em Orleans ninguém sabia de nada disso. Na terça-feira ele havia estado em Orleans e tinha falado que como no próximo domingo não estariam os pastores no Rio Novo ele viria a cavalo passar o fim de semana em Orleans. Os demais da família estavam todos em Orleans [NOTA: A família Stekert tinha dois domicílios: um na cidade, próximo à Estação da Estrada de Ferro, outro no Rio Carlota. Foi nessa segunda casa que o senhor Stekert foi encontrado morto].

Então, logo que souberam, naquela mesma noite, subiram todos perplexos e assustados para o Rio Novo. Dali em diante o pranto parecia não ter fim — e logo quem, pois a senhora Stekert se altera por qualquer coisa, imagine em um caso como esse.

Não se pode saber claramente o que ocorreu. Mas aconteceu nesse mesmo dia que eu vim de Orleans. Alguns pensam que algum brasileiro pôde tê-lo matado. Domingo, 18 de maio, foi o enterro. Não havia nenhum pastor na localidade. Na sessão da igreja do domingo anterior o Stekert tinha se desentendido com o Grünfeldt, e nesse domingo era levado para o túmulo. Eu tive que ficar duas semanas em casa, pois diante desses acontecimentos os familiares e outros alunos se dispersaram e não houve aulas de costura. Mas semana vão recomeçar as aulas.

O Deter voltou de Mãe Luzia no dia 20 de maio e nestes dias houve cultos todas as noites. No dia 23 de maio houve um casamento, e naquela tarde chegou a cavalo o Onofre Regis, e ali mesmo combinaram ir, ele e o Deter, até os Klavin. No sábado 24 de maio o Roberto Klavin, o Ernesto Slegman e o Deter foram fazer um trabalho evangelístico em Rio Larangeiras, pois lá o pessoal tinha sido avisado que o culto seria no sábado, já que no domingo ninguém iria para lá. Realmente houve um bom trabalho e tinha bastante gente, apesar de que o pastor sabatista realizava um culto acima da casa do Caciano, enquanto o pastor católico lá mais em baixo realizava missas. Assim mesmo as pessoas vieram para o trabalho batista que foi realizado no meio.

Naquela mesma noite teve culto lá nos Leiman e em seguida uma sessão deliberativa. Também estava o Butler e o Onofre Regis e todos homens importantes da igrejas. Entre outros assuntos houve muita deliberação sobre o destino dos bens da igreja e a reunificação da tesouraria com seus “baús cheios de dinheiro”.

O Butler serviu na sessão como intérprete, pois a pessoa que sempre faz isso é o Roberto, mas desta vez ele estava dirigindo a assembleia e ficaria muito demorado falar ambas as línguas sozinho. Ainda o Butler anotava em sua caderneta de bolso tudo, inclusive as importâncias existentes no caixa da Igreja e nas diversas organizações como Escola Dominical, União de Mocidade, etc.

O pessoal de Rio Novo andava com listas para angariar contribuições para a viagem do Missionário Deter, pois a coleta não tinha rendido o suficiente e no caixa deles dinheiro não tem. Por isso tanta insistência nessas listas. Mas na nossa Igreja tínhamos dinheiro suficiente: só no caixa da igreja tinha mais de 200$000; na nossa Escola Dominical 133$000, e desta soma foram designados 100$000 para as despesas de viagem do Deter. Ele não queria aceitar tanto, pois disse que as despesas não eram tão grandes.

Então o Butler também se manifestou, dizendo que a arrecadação da igreja de Rio Novo vai chegar a uma quantia perto de 100$000 réis. Na minha opinião é muito pouco para uma igreja com tanta gente. Nós somos bem menos pessoas e nem coletas tivemos que fazer. O pessoal da igreja de Mãe Luzia era ainda menos numeroso e deu mais do que todos. Na Sociedade Missionária tínhamos 48$00 e mandamos esta importância para a Associação de Missões Estaduais de Santa Catharina e Paraná. O destino dos saldos em caixa ainda não foi determinado, mas é bem provável que não vá para o Rio Novo.

A casa dos Leiman continua como congregação da Igreja de Rio Novo e da mesma forma a Escola Dominical em Rio Larangeiras (que era até agora dirigida só pelo Roberto, mas daqui para frente será designado um companheiro para ajudá-lo). O Deter pediu que de modo nenhum o trabalho deve ser abandonado.

No domingo passado a Maria da Silva e a Margrida estiveram na igreja e depois vieram almoçar em nossa casa. Elas solicitaram que quando nós escrevêssemos mandassem lembrança delas para você. Elas dizem que pedem ao Roberto para que quando escreva mande lembranças [em português no original], mas não sabem se o Roberto realmente escreve. Também disse que se você estivesse aqui os rapazes saberiam cantar muito melhor, porque o Roberto é bom mas não sabe ensinar música como você. Elas não têm esperança de que você volte, e acham que se um dia vier para casa talvez nem vá ao Rio Larangeiras, porque uma pessoa importante que mora em cidade grande não iria se lembrar da gente humilde de lá; certamente depois disso tudo terás te tornado muito orgulhoso.

Agora a igreja decidiu mandar dois mensageiros à Convenção em Paranaguá, que vai acontecer no dia 9 de julho. O Pastor Deter queria que fossem no mínimo dois, então foram designados o Roberto [Klavin] e o Butler. As despesas do Roberto a nossa igreja ainda vai cuidar, então o Roberto vai ter a honra de nós representar naquele evento. O Deter explicou que só deveriam ir pessoas que sabem falar o brasileiro, e o Roberto se enquadra neste quesito. Para o Roberto o Deter queria pagar todas as despesas. De Mãe Luzia irá o Klava.

O Deter foi embora no dia 26 dizendo que gostou muito daqui e prometeu em breve voltar. Agora ele foi para Blumenau, e só depois vai para a casa dele em Curitiba. Ele prometeu que quando for ao Rio vai te procurar (para levar alguma coisa para ti não; não mandamos nada pois ele vai demorar para viajar para lá). Na volta para Paranaguá deverão viajar o missionário Langston e outros.

Bem, por hoje chega, senão não caberá no envelope. Se você quiser saber mais alguma coisa pergunte, então eu escreverei noutra vez…

Com muitas lembranças,

Olga

[Escrito nas laterais:]
Junto a esta carta estou enviando um pacote contendo 3 camisas, 3 gravatas, uma ceroula, 1 par de meias e as cartas Luzija e Arthur. – Um feliz dia de Pentecostes. E ainda algo sobre o Deter: como a igreja de Rio Novo vai mandar mensageiros para a Convenção em Paranaguá, e vai se filiar então como sendo a maior igreja da Convenção, a Assembléia do ano que vem, se Deus quiser, é bem provável que seja aqui no Rio Novo. Esperamos por um belo futuro.

A Nova Sciencia de Curar | Roberto Klavin a Reynaldo Purim

Invernada, 6-5-19

Querido amigo!

Recebi a tua carta escrita no dia 1-4-19 no começo da semana passada, mas como não tinha nenhuma ida programada a Orleans a resposta atrasou. Você menciona que escreveu mais cartas, mas estas devem estar perdidas. Esta última estava com o envelope rasgado e precariamente colado, indicação clara de que há ladrões no sistema de correios.

Hoje até que enfim chegou o tão esperado A. B. Deter. Tinha avisado com telegrama mandado de Paranaguá, então amanhã a noite ele deve chegar ao Rio Novo. Ele vai ficar pouco tempo, mas deverá visitar a Igreja de Mãe Luzia. Quanto ao que acontecer, eu no momento não poderei escrever antes de voltar para casa. Estou trabalhando fora para um tafoneiro (melders) fazendo uma nova engrenagem para o moinho dele, e tratei também com um italiano para construir um novo engenho de farinha de mandioca, que logo terei que começar. Mais outro já me procurou para outro serviço que às vezes tenho de dispensar, pois em casa também temos muito serviço.

[NOTA de V. A. Purim: Roberto Klavim era um grande construtor de atafonas, serrarias e engenhos de farinha de mandioca; sempre tinha junto de si aprendizes, principalmente italianos.]

No começo do ano nossa igreja teve problemas e desavenças devido a coisas antigas que o Match vinha querendo levantar; o resultado foi que ele afastou-se da igreja, e agora as coisas se acalmaram. Ele sempre queria que as coisas acontecessem do jeito que ele pensava e como a maioria não foi na dele, ele se afastou. A Escola Dominical no Rodeio [do Assucar] durante o mês de janeiro parou devido à Milda, que pediu demissão, mas logo em seguida a igreja elegeu a Emma para professora e agora vai tudo bem em frente.

A Escola Dominical no Rio Larangeiras te envia muitas lembranças. A mulher do Caciano está muito adoentada e com a fisionomia decaída, e a Maria também está muito pálida. Muito ao contrário, a Margarida está vermelha como uma beterraba e continua aprendendo a ler e escrever.

Bem, quanto à saúde não há muito o que se queixar e ainda agora eu tenho dois livros sobre saúde em brasileiro. Um é “A Nova Sciencia de Curar”, que ganhei de presente do Dr. W. Butler, e ensina a curar as doenças. O outro encomendei de uma livraria de São Paulo; este ensina reconhecer as doenças pela fisionomia, pelo corpo e pelo rosto da pessoa. Com base nestas informações constatei que tenho problemas no fígado, mas eu vou curar com água [hidroterapia].

Obrigado pelas lembranças do F. Janaujakas: retribuas para mim.

Às vezes quando penso em estudar mergulho em profundas reflexões, mas chego à conclusão de que nas condições em que me encontro não teria a mínima possibilidade de superar e chegar ao ponto em que já estás. De qualquer modo acho que o alvo que buscas é nobre, que é trabalhar na causa de Deus. Mas quanto a mim, acho que não fui escolhido para este ministério.

O Arnolds [Klavin] está muito bem lá nas serras, e está bem mais gordo do que quando morava aqui em baixo. O Juris está lutando com a sua estimada cultura de algodão [em São Paulo]. Acho que a esta altura já deve tê-la colhido, mas não temos notícias dele.

Finalizando, receba muitas lembranças nossas e também minhas, e que Deus te ajude.

Roberto [Klavin]

Nunca existiu | Artur Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 4-5-19

Querido irmãozinho!

Recebi a tua carta. Obrigado! Eu já mandei uma carta escrita a tinta, então você já sabe que eu estou indo para a escola. O “Tradutor Alemão” e o Jansens esperam que eu aprenda, mas sou preguiçoso demais. Professor como este nunca existiu, pois nada é preciso decorar. Só contas são dadas como trabalho de casa. Ao todo são 21 alunos, mas um mais bobo do que o outro… O Wilis Slengman faz muito tempo que vai à escola, mas não sabe nada.

Agora nós temos laranjas madurando e as pequenas [mexericas ou laranjas crava] estão ficando amarelas e doces. Hoje comemos a última melancia e este ano não vai ter mais. Ainda todo dia lá eles te dão as duas bananas para comer? As nossas bananeiras a geada matou até o chão, mas estão brotando novas.

Por hoje chega. Outra vez mais. Com saudações,

Arthurs

Devidamente inutilizados | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 4 de maio de 1919

Querido Reinold!!

Primeiramente mando muitas e sinceras lembranças! Semana passada, dia 29 de abril, recebi tuas cartas escritas do dia 4-4-19. Danke [“obrigado”, em alemão no original].

Estou muito alegre porque tu estás bem e eu posso dizer o mesmo. Nós estamos passando bem e estamos com saúde. Agora já está fazendo duas semanas que mandei uma carta que espero a esta altura que você talvez já tenha lido; antes das festas da Páscoa mandei um cartão postal, e na semana passada, quando recebi as cartas, mandei outro cartão postal. Tudo foi recebido?

Bem, desta vez você pediu dinheiro. Toda as vezes que você pede dinheiro ele já há algum tempo foi enviado. Faz duas semanas que o dinheiro seguiu, mas desta vez não pelo correio. O nosso Diretor [da Companhia de Colonização Grão-Pará] estava se aprontando para ir ao Rio visitar o filho no Colégio Batista [Colégio Batista do Rio de Janeiro, adjacente ao Seminário], então pensamos que ele poderia levar o dinheiro para você. Sendo assim, eu tive a honra de subir as escadas do palacete da Companhia com 300$000 na mão, mas ele disse que não gostava viajar com grandes importâncias em dinheiro e imediatamente desceu comigo até o Pinho, onde determinou que se fizesse uma transferência para a firma correspondente via telégrafo e o imediato pagamento para o Colégio Batista. Então o nosso dinheiro ficou aqui no Pinho, que também forneceu um recibo legal com as estampilhas e selos da República devidamente inutilizados, garantindo a legalidade da transação. Nos Correios para enviar os 300$000 eu teria que pagar 7$000, e assim não tive que pagar nada.

O Diretor sabia que você estava naquela escola; ele quis ainda saber quanto tempo você iria estudar, e se iria estudar tanto quanto o Butler. Já nas férias do ano passado o filho dele vinha estudar inglês com o Butler. Aliás, a recomendação do Colégio Batista também foi dele [Butler], pois melhor não poderia se desejar.

Então, semana passada o Sr. Diretor e sua distinta filha viajaram para o Rio para visitar o filho, aproveitando para visitar a outra filha em Florianópolis. Pode ser que você tenha visto este hóspede tão ilustre.

O tempo está magnífico, com lindos dias de outono. É uma pena pensar que o que está verde e lindo logo que venham as geadas elas deixarão tudo cinza e deprimente. Os dias estão ficando mais curtos. Os milharais estão amarelados.

Semana passada a Anna Burmeister foi com o Alfredo [Leepkaln] dela a Laguna a fim de fazer altas compras para o casamento, que parece que vai ser este mês. Esta gente anda numa pinta de um jeito que até agora não foi visto por aqui. A senhora Wilman não fazia nada que parecesse ostentação, mas este pessoal nem se fala: todo domingo tem recepções e festas. Se dinheiro houvesse tudo bem, mas o que sobra são dívidas, e ainda contam vantagens dizendo que o mais rico da comunidade é o Leepkaln. Outro que se possível seria rico é o Willis Slegmann.

A Nanija Karklin está trabalhando em Laguna. Ela passou uns tempos em casa, e quando as roupas ficaram ultrapassadas e gastas ela voltou trabalhar.

O Jurgis Karklin vai para São Paulo, e dos projetos de eletricidade até agora nada. O Rio Novo está completamente às escuras; agora que faltou petróleo ele poderia ter iluminado toda Rio Novo com a eletricidade.

Agora em Orleans já chegou o querosene, mas os donos das vendas estão querendo muito caro por ele. Uma lata [custa] 25$000 e a garrafa 1$000, e quando vier mais deve ficar mais barata. A potassa [soda cáustica] para fazer sabão, que custava ano passado 6$000 a 8$000, agora pode ser comprada por 2$500. As roupas continuam caras e não há nenhuma que seja realmente boa, pois as vendas continuam vazias.

Bem, por hoje chega de escrever, você não terá tempo de ler tudo isso. Mas escreva uma longa carta para mim.

Porque não tem mandado aqueles “boletins” este ano, ou eles não têm sido mais distribuídos? Não recebemos nenhum este ano. Jornais estamos recebendo regularmente. O Deter ainda
não veio e nem sei quando virá. Quem disse que ele já teria vindo?

Com lembranças de todos de casa,

Olga

Mais de cem | Lucia Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 4-5-19

Querido irmão,

Obrigado pela tua carta, que recebemos. Estou passando bem.

O tempo agora está seco e bonito, e hoje pela manhã fez bastante frio, pois até agora o tempo estava relativamente quente. Domingo passado estava nublado e a noite passou inteira com chuva; assim continuou a segunda-feira inteira, e só ao anoitecer limpou o tempo.

Na terça-feira cavalguei até a cidade. Os rios tinham estado cheios e transbordando. Orleans mudou bastante desde a minha última visita, pois tem muitas casas novas e as ruas foram aplainadas.

O nosso pasto já está roçado. Agora estamos começando a colher o feijão que está maduro. O arroz que já colhemos deu 14 quartas. O amendoim que já está em casa rendeu 27 quartas e tem mais na roça, mas ainda estão verdes.

Agora estamos em plena festa da jabuticaba. Toda semana vamos buscar para comer. Lá provavelmente não há esta delícia…

Agora estamos construindo novo galinheiro. Já colocamos dois esteios. Nós temos criação de aves maior do que da esposa do Dr. Schepard lá no Rio. Temos mais de cem, contando os pintos. As tuas patas ainda estão todas, e ainda tem mais três, sendo ao total onze, e ainda três perus. Você deve imaginar o barulho quando todos os galos cantam juntos e ainda muito mais
quando não tem ninguém em casa: um barulho infernal.

Os ovos estão caros, $600 a dúzia. Nós agora temos sete porcos no chiqueiro para engorda. Sete foram colocados recentemente, mas um já faz tempo: é grande e gordo e logo vai deixar de morar no interior e vai para mudar de ares para a cidade. O toucinho com todos os ossos estão pagando 12$500.

Bem, vou aguardar longa carta sua.

Com amáveis lembranças,

Lucija