Uma decisão arriscada | Lucia Purim a Reynaldo Purim

[Sem data, mas deve ser junho ou julho de 1919]

Querido irmão!

Obrigado pela tua carta escrita em 22 de maio. Eu estou passando bem. O tempo está sempre quente e semana passada choveu quase todo o dia. O pessoal daqui está falando que quando a chuva parar, aí o tempo vai esfriar.

Eu agora estou colhendo milho sozinha e trago para casa com a Zebra. Agora nós temos nove porcos no chiqueiro para engorda. O toucinho está com o preço muito bom; 13$000 com ossos e tudo. Nós agora temos 18 leitãozinhos, então comedores de milho é que não faltam mesmo. Nós agora temos três vacas dando leite. A Luscha já está dando há quase um ano e por isso já não está dando tanto. A filha da Luscha é uma bezerra chamada Rucina; é vermelha acinzentada e está bem grande. A Magone [“Papoula”] teve recentemente uma bezerrinha amarela que foi adoecendo e semana passada terminou morrendo, mas a Magone continua dando leite mesmo sem o bezerrinho. E a Lagstigala [“Rouxinol”] também esta dando leite. Essa só está há um mês conosco: nós compramos dos Grikis por 180$000 e ela tem um boizinho, mas também este ficou doente. Agora só temos estas três vacas, pois a Nete e a Seedalla faz tempo que não as temos mais.

Os Grikis este ano venderam diversos animais. A Maria na semana passada fez um leilão de suas coisas, pois faz tempo que ela queria ir para o Rio Grande do Sul a procura da irmã dela. Ela não queria ficar com os Grikis, pois enquanto o Sommers não tinha morrido ela precisava ficar para ajudar a sustentá-lo, mas agora não havia mais esta necessidade. Mas quando ela foi se despedir dos Leimann a senhora Leimann convenceu-a ficar morando com ela, dizendo que seria uma decisão arriscada se meter em lugares desconhecidos, quando ela muito bem poderia ficar morando com ela. E assim a senhora Leimann ganhou uma auxiliar e tanto.

Bem, por hoje chega. Lembranças da

Luzija

Muito triste você não ter | Artur Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 9 de junho de 1919

Querido irmãozinho!!!

A tua carta recebi, pela qual agradeço. Agora ultimamente escrever cartas está se tornando coisa do dia-a-dia. Faz só uma semana que escrevi uma carta para você e agora já vai outra. Você não vai ter tempo de ler todas.

Eu estou bem. O tempo ainda está quente. Eu acho muito triste você não ter tantas laranjas para chupar. Eu, desde que levanto pela manhã, quando vou soltar os carneiros, quando passo no lado debaixo do paiol, como bergamotas a não mais poder. No lado de cima do quintal as árvores novas também estão cheias de laranjas graúdas e muito doces. Bananas sim, estas faz muito tempo que não tenho comido, pois a geada do ano passado matou até embaixo.

Semana passada eu trouxe da casa dos Grikis dois gatinhos com pelagem preta e branca. Já são bastante grandes, já sabem comer ratos e brincam muito. Um se chama Loli e o outro Lili. Ultimamente não tínhamos nenhum gato em casa. O velho bichano era muito preguiçoso e exímio ladrão. Nós levamos ele por aí e soltamos no mundo.

Cachorro não temos outro senão o velho Latzis [urso]. Ele com certeza não conhece mais você. Faz tempo que nós estamos procurando um ajudante para o Latzis, mas não encontramos algum que valesse a pena. Quem sabe você pudesse trazer algum cachorrinho do Rio. Quem sabe os alunos que se saem bem nos exames ganhem algum cachorrinho para brincar nas horas vagas.

Pouco tempo atrás os cachorros do Grüntall mataram um “comedor de cana” [graxaim ou cachorro-do-mato]. Os bichos este ano estão vindo muito comer cana.

Bem chega desta vez, vou deixar o que escrever para outra vez. Fico aguardando longa resposta sua e envio sinceras saudações.

Teu irmão,

Artur

Os rapazes que deixam escapar alguma palavra em brasileiro | Olga a Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 8 de junho de 1919

Querido Reinold!

Saúde! Hoje é a festa de Pentecostes [NOTA: Em leto “festa do verão”, a tradição lembrando ainda o hemisfério norte]. Está bastante quente, como fosse verão mesmo. Está um pouco nublado mas não vai chover.

As estradas estão todas ainda lamacentas das chuvas da semana passada, pois não foi pouca coisa não. Geada nenhuma até agora. Em outros anos nesta época não tinha mais nada verde.

Nós graças a Deus estamos todos bem e todos com saúde.

Na semana passada, dia 3 de junho, recebi a tua carta escrita no dia 22-5-19. Por ela muito obrigado. Estou muito alegre que todas as minhas cartas você recebeu regularmente. E do mesmo modo, as tuas cartas e os jornais estamos recebendo em perfeita ordem. Na semana passada, dia 7-6-19, mandei um pacote que pesou 1 quilo, contendo meias e as cartas de Luzija e Artur. É possível que as tenhas recebido e assim sabes que o período de festas aqui terminou.

O Deter esteve em Rio Novo e já foi embora. Aquelas três semanas, duas aqui e uma em Mãe Luzia, passaram muito rapidamente. Ele agora possivelmente esteja em Blumenau. Ele não aprova o exagero dos letos de Blumenau em relação aos Espíritos, [doutrina com] que eles estão totalmente envolvidos. Semanas atrás estiveram aqui o Anderman e o Strauss. Você se lembra do Augusto Strauss. O irmão dele está totalmente envolvido com esse movimento. Pois eles estiveram aqui uns dias, mas foram embora para Mãe Luzia. Aqui a “igreja” deles não vingou, pois os únicos que davam algum apoio que eram o velho Grikis e o Limors, e eles não se dão entre si.

Sobre as Festas não tenho muito o que contar. De Pedras Grandes veio uma irmã do Onofre Regis e a filha Rosa com o marido dela, e mais uma mulher que eu não conhecia. Eles ficaram hospedadas na casa do Willis Oschs, o qual providenciou cavalos para ir buscar estes visitantes e depois levou-os novamente até Orleans.

Quando o Deter estava aqui o Onofre, José e mais um parente deles esteve nos Klavin. Você pergunta se nossa Escola Dominical vai mandar representantes para a Conferência em Paranaguá. Já escrevi na carta passada que a Escola Dominical na casa dos Leimann foi interrompida com a reunificação das igrejas. Se alguém desse o dinheiro ou se eu tivesse de sobra eu bem que gostaria de ir, pois nunca fui a um evento destes.

Eu mostrei o anúncio da Convenção no Jornal para o Roberto [Klavin]. Ele não tinha visto, parece que ele não é muito chegado a leitura de jornais. Sugeri que ele partisse antes e fosse adiante visitar você. Ele vai embarcar em julho para Paranaguá e parece que não tem vontade ou coragem de ir adiante. O Deter prometeu voltar para o Rio Novo no Natal e voltar mais vezes visitar o Estado de Santa Catharina.

E você não vai vir para casa no Natal? Esta faltando meio ano, mas este passará muito rápido, pois o começo do ano parece que foi agora e já estamos no meio do ano. Quem sabe você já não saberá falar mais em leto e só em brasileiro, que segundo o Grünfeldt é língua de negros. Ele fica patrulhando os rapazes que às vezes deixam escapar alguma palavra em brasileiro.

Eu tive a chance de escutar duas pessoas falar em inglês pela primeira vez na vida. Eram o Deter e o Butler, que quando os dois estão sós falam somente em Inglês.

Eu fiquei mais duas semanas em Orleans na casa dos Stekert, mesmo sem aulas de costura, porque eles tinham um monte de problemas, como vender as vacas e os cavalos, que ainda estão à venda. Os porcos foram levados com o milho a Orleans, onde vão ser engordados.

No Rio Novo ninguém [da família Stekert] vai ficar morando. No próximo mês a propriedade vai ser arrendada a um italiano.

Os Pintados foram embora para o meu luga [em português no original] e a história não ficou bem contada. Eles fizeram dívidas com todos e até para nós ficaram devendo 2$700 — e muito mais para os outros. Eles foram embora de noite. Outros dizem que podem ser eles que tenham matado o Stekert, pois nos últimos tempos eles tinham raiva um do outro e o Jurgim deixou escapar que o genro dele era um verdadeiro bandido (?).

O dinheiro do Stekert até agora não foi encontrado e todo mundo sabe que devia existir.

Bem, por hoje chega. Outro dia novamente.

Lembranças do Papus, da Mamma e da

Olga

Como viúvo | Artur Purim a Reynaldo Purim

1 de junho de 1919

Querido irmão,

A tua carta faz tempo que li. Muito obrigado. Estou esperando resposta de mais uma carta. Faz bastante tempo que mandei.

O tempo está quente e seco. O frio este ano ainda não chegou. Ainda está tudo verde. É muito melhor que está quente e seco, pois assim a gente pode correr sem os tamancos.

Eu estou indo na escola do Rio Novo e o meu professor é o Jahnis [Frischembruder] de Riga. Ele para os meninos é bom demais. Não põe ninguém de joelhos nem no canto, nem segura depois da hora. A matéria principal é a Aritmética. Eu já sei dividir com dois números. Ele vai tomar conta da escola por mais um mês e depois o Butlers assume. Então vamos ver como vai ficar. Acho que não vai ser nada excepcional.

Nós terminamos de arrancar o feijão. E mais um dia de trabalho estarão todas batidas [debulhadas]. Este ano não vai dar muito feijão. Agora estamos fazendo novo galinheiro e eu com o Bosi puxo toda madeira. Também puxo inhame para cozinhar para os porcos. Todo feijão foi trazido com ele e nós batemos em casa. No domingo passado o Roberto [Klavin] veio passear aqui em casa e aí eu levei mostrar todas as roças.

Agora estou como viúvo pois não tenho nenhum amigo [da minha idade].

Este domingo fiquei em casa de manhã para fazer a janta [almoço], e depois de ter descascado os aipins, quando estava cortando com um facão com muita vontade, terminei acertando profundamente a mão esquerda e quase cortando fora o dedo. À noite tive que ir à igreja.

[NOTA de V. A. Purim: A refeição do meio-dia era chamada de “janta”. As refeições diárias normalmente eram as seguintes: [1] Mata-bicho, ao acordar, que era café preto com açúcar; [2] almoço, lá pelas oito da manhã, que era café com leite, pão de milho, doces de frutas, mel, ovos fritos ou cosidos, nata, requeijão e outras coisas, e ainda às vezes polenta com mistura; ao meio-dia [3] a janta com pratos salgados e às vezes com sopas doces de frutas da época; de tarde [4] a merenda, que podia ser café com pão e outras misturas ou panquecas; à noite [5] a ceia, que seria como o café da manhã, mas em vez de café era servido chá-mate ou outros.]

Hoje o Arnolds [Klavin] veio nos visitar.

Bem, por hoje chega, o dedo está doendo, então chega de escrever. Com saudações,

Arturs