Se o pai do sorteado não puder sobreviver é….| Da Arthur Purim para Reynaldo Purim -1928 –

Florianópolis 10 de maio de 1928
Querido Irmão! Envio saudações e que a Paz de Deus esteja com você.
No dia primeiro deste mês eu mandei uma carta informando que agora eu estava servindo ao exército em Florianópolis, mas ainda não sabia se ficaria aqui ou teria que ir para Curitiba ou Ponta Grossa. Agora eu posso afirmar que estou aqui e aqui vou ficar. A minha decisão foi decorrente das informações de diversos Reservistas que lá estiveram no 15º Batalhão quais contaram que a vida lá é pior do que pra cachorros. Aqui no 14º Batalhão também não é essas coisas, mas os superiores me aconselharam entrar para na Artilharia para ser operador de canhões onde a vida é menos corrida, menos instruções, melhor comida, melhor dormitório etc. Eu graças a Deus estou me sentindo muito bem. Esta semana começaram as instruções que se resumem em atividade física como ginástica e técnica de saltos etc.
Aqui perto existe uma Igreja Presbiteriana com um lindo Templo aonde eu vou aos Cultos. São pessoas muito dedicadas e sinceras na vida espiritual.
O Comandante de nossa Bateria é Presbiteriano.
Um Soldado ganha 21$000 (vinte e um mil réis) por mês e eu que me inscrevi como marceneiro posso ganhar um pouco mais, pois eles consideram quem é profissional também não tem necessidade de tanta instrução.
Aqui na Bateria somos umas 30 pessoas e o barulho não é grande.
De casa ainda não recebi nenhuma carta, mas espero que em breve chegue. O tempo aqui está muito quente. Na noite passada caiu uma forte chuva.
Quando ainda estava em Rio Novo foram tentadas todas alternativas para que não fosse necessário vir, não porque eu não quisesse vir e sim para que não deixasse os pais sem um mais forte apoio e provedor. Queríamos riscar o nome na lista dos sorteados onde o meu nome está grafado como Otto Roberto, mas eles informaram que não é possível. Se o pai do sorteado não puder sobreviver é para ele vender uma parte do terreno para ter condições de vida. Quanto ao nome se fosse assim qualquer pessoa chegaria e pediria para riscar o nome com alegação de que é chamado por outro nome só pra voltar para casa. Portanto veja, se é bom ou não é tão bom tenho que aguentar. Mas eu na realidade não reclamo, pois estou convicto que estou aqui pela vontade de Deus. Como é vontade de Deus só espero que ele continue dirigindo a minha vida daí para frente. Como ele me colocou neste lugar aqui eu quero servi-lo.
Desta eu penso que chega de escrever, pois não tenho muito tempo, logo seremos chamados para tomar chá e voltar para as instruções e mesmo não tenho mais o que escrever, pois os acontecimentos cotidianos não vale a pena descrever.
Quando escrever favor o nome aqui estou registrado como Otto.
Fico enviando amáveis saudações.
Teu Irmão Arthur Purim
PS
O meu endereço: Otto Roberto Purim 3ª Bateria I.A.C Florianópolis Santa Catharina Brazil

…não tenho escrito de casa porque estava muito aborrecido com você.| De Arthur Purim para Reynaldo Purim – 1928 –

Florianópolis 01-05-28

Querido irmão! Saudações.

Eu recentemente não tenho escrito de casa porque estava muito aborrecido com você. Bem, mas chegou o tempo de deixar estas coisas e esquecer; porque as circunstâncias assim o exigem. Você deve estar muito surpreso com o título” Florianópolis”, mas tem que ser assim. Agora eu estou aqui no Quartel servindo o Exercito sob regime de Guerra. Cheguei ontem e agora como primeira prioridade estou dando ciência da mudança.

Sexta feira passada me despedi do pessoal de casa e fui para a cidade onde dormi no hotel por conta da nação e no sábado de manhã embarcamos para Laguna onde dormi duas noites. No sábado o Pastor Stroberg também veio pra Laguna dirigir os trabalhos e foi uma boa oportunidade em poder auxiliá-lo principalmente nos cânticos etc.

Na manhã de segunda feira embarquei no vapor “MAX” e às 2 horas já estávamos aqui. A viagem foi mais ou menos boa. O mar estava muito calmo. Mas nem por isso tivemos chance de deixar de pagar o tributo ao deus do mar até o último tostão, porque a lei determina que para cada poder devido, deve ser pago integralmente a sua parte para o mar uma parte e para o Governo deverei ficar aqui um ano inteiro da minha vida.
Aqui na caserna estamos mais ou menos 300 pessoas. Uns vão embora porque já cumpriram o tempo e outros estão chegando. Só ontem chegaram umas 90 pessoas. Ainda não estamos divididos em grupos, mas ainda hoje ou amanhã será tudo normalizado.

Fiquei muito triste em deixar o pessoal de casa porque eu era o mais forte trabalhador e o pai já está com poucas forças e eu era o mais desenvolto, mas fui sorteado e não posso mais ajudar então tenho que deixar na mão de Deus.

Não estou nada preocupado, pois onde mandarem eu vou, o serviço que me determinarem faço e eu estou considerando como sendo a vontade de Deus se bem que antes do sorteio tentamos todas as possibilidades de não sermos incluídos, mas foi em vão.

Aqui no quartel de quanto pude conhecer achei que tudo está em boa ordem e da comida não podemos nos queixar. De manhã cedo todos são chamados e todos vão se lavar e todos recebem uma xícara de café e um pão. Às 10 horas o almoço onde é servido feijão, arroz, carne etc. e depois uma xícara de chá e um biscoito. Às 4 horas da tarde é a hora da janta onde é servido inicialmente um prato de sopa e depois o arroz, feijão etc.. Às 9 horas da noite todos deverão estar todos juntos. Mais pra adiante ainda não sei te dizer.

Segundo eu ouvi ainda lá em Orleans deverei realmente servir o exército em Curitiba ou em Ponta Grossa porque somente uma parte vai ficar aqui e os outros terão que ir em frente.

Aqui hoje é dia de festa, mas que festa que é eu não sei e todos os soldados têm toda liberdade então tocam música na rua e ficam a vontade.
Hoje ainda quero procurar uma Igreja Presbiteriana pode ser que assisto algum culto. Também preciso encontrar o General Rosinha que é batista e possivelmente a gente se torne bom amigo.

Desta vez acho que chega de escrever, pois não sei mais nada daqui e perguntas não irei fazer mesmo porque você não precisa responder esta, pois eu não sei o endereço que realmente eu vou ficar em Curitiba ou aqui mesmo. Quando eles decidirem eu escrevo de novo.

Fico enviando sinceras saudações.
Seu irmão Arthur

Estou assorberbado de trabalho durante o dia e parte da noite.| De Artur Purim para Reynaldo Purim – 1927 –

Rodeio do Assucar 15-4-1927

Querido Irmão

Primeiramente envio muitas lembranças de nós todos e desejo uma Festa de Páscoa muito alegre celebrada em companhia dos crentes que se alegram por que Cristo ressuscitou.

A tua carta escrita no dia 20-2 recebi no sábado passado e pela qual muito obrigado. Já são duas as cartas que recebi sem que tenha respondido. Sobre aquela primeira pouco sei o que posso responder. Dizer que a recebi etc.. Faz bastante tempo que a recebi. Hoje como é Sexta-feira Santa [Leelaja peekdeena igual à Sexta-feira grande] e para o culto eu não fui, mas fiquei em casa para poder te escrever alguma coisa, pois em outros dias a gente não tem tempo. Estou muito assoberbado de trabalho durante o dia e parte da noite. Como você sabe este ano nós vamos fazer mudança desta casa para o Rio Novo com todos os pertences e animais, portanto já estamos levando aos poucos uma coisa e outra para que depois não sobre tanta coisa para levar e por isso estou com serviço demais para levar esta imensidão de coisas e nem sabemos onde nós vamos amontoar tudo isso e deixar nós não queremos e vender não dá, porque ninguém quer comprar. E todas estas viagens eu faço a noite por que durante o dia a temperatura está muito alta e também não teria tempo durante o dia por que o carreteiro sou eu sozinho e em alguma noite quero ir para Igreja e nos sábados à noite vou aprender violino com o Puijchel do Augge [Deve algum filho do Augusto Felberg] e ainda sou sócio da Sociedade de Música e assim você pode imaginar como se desenrola a minha vida por aqui. Assim não sobra muito tempo para escrever cartas nem coisas similares. Se houvesse alguma noite vaga iria aprender brasileiro, inglês etc. nas aulas uma vez por semana dadas pelo Stroberg. Cada Aula custa 500 réis por noite.

Agora vou escrever sobre um assunto do artigo que quero comprar isto é uma bicicleta para facilitar as locomoções. O pessoal de casa protesta dizendo que este tipo de máquina é desnecessária etc. Eu tenho avaliado bem este assunto e acho que será muito útil. Tenho pensado muito se ele tem direito de fazer esta campanha contra ou eu não tenho direto de usufruir nada. Será que eu sou diferente de qualquer outra pessoa de casa. Será que eu não tenha trabalhado diligentemente. Ou será que não vale a pena se esforçar e trabalhar dia e noite para depois não poder usufruir nenhum benefício. E se houvesse um motivo e este motivo fosse explicado. Se eles não gostam deste equipamento, mas eu gosto e assim não deveriam proibir. O Paps diz se eu tenho tanta “fome” de andar de bicicleta, será que eu vou continuar com vontade de derrubar as matas e capinar as roças? Aqui faltam mais esclarecimentos. Por que somos cristãos se nós não queremos levar esta luz para os outros ou o Evangelho é somente para nós? Como eu já escrevi sobre o trabalho missionário em Grão Pará no qual eu fui no mês passado. Os cultos são bem concorridos apesar de ser um lugar onde os católicos são os mais ferrenhos nestas redondezas. Neste dia eles os padres também tinham as suas missas, mas a humilde casa do Avelino esta totalmente tomada inclusive gente do lado de fora. Também há os que nem chegam nem perto. Na próxima vez vamos eu e o Stroberg e as reuniões serão em outro ambiente bem maior e mais no centro. É um trabalho muito interessante se bem que longe e a cavalo são 4 horas de viagem bem andadas. Por isso eu quero comprar uma bicicleta e com ela fazer o trabalho lá, pois a topografia da estrada é relativamente plana.
[Carta do Artur, da qual falta o final].

Mas em vez de 600 homens apareceram 6 “manecos” pela estrada da Serra. De Artur Purim para Reynaldo Purim – 1927 –

Ano de 1927
Rodeio do Assucar 13-1-27.
Querido Irmão
Primeiramente envio lembranças e felicitações pelo seu aniversário, se bem que o seu aniversário já passou, mas não tem importância, mas sim que os cumprimentos cheguem ai.

Recebi a tua carta que fala de manteiga, leite e espigas de milho já antes do Natal. Por ela muito obrigado. Mas queria que passassem as Festas para que depois tivesse mais o que escrever e como as Festas já estão longe tenho que me agarrar e escrever enquanto não esqueço.
No Primeiro Natal [Primeiro dia de Natal era o dia 25 e o dia 26 eram as Oitavas ou o segundo Natal] teve Festa com pinheirinho iluminado e naquela noite o tempo estava maravilhoso e gente que raramente tanta foi vista por ai. Também veio um automóvel de Orleans que deixou profunda impressão. Agora através das estradas de Rio Novo frequentemente disparam vários automóveis. Ainda no domingo passado subiu um automóvel pelo Rio Novo e foi até o Barracão e mais tarde voltou. Agora em Orleans existem 3 automóveis.

O programa da festa não foi muito extenso, mas foi muito bonito e interessante. No segundo dia de Natal eu não fui à Igreja. Eu e o Roberto [Klavin] fomos à Grão Pará dirigir um culto lá. A mocidade da Igreja todos os últimos domingos do mês vão ajudar nos Cultos lá. Agora lá está morando o Avelino e a velha senhora do Caciano. O velho Caciano separou-se dela e ajuntou-se com outra e está morando em Palmeiras [Também distrito de Orleans e Estação da Estrada de Ferro D. Tereza Cristina e hoje Pindotiba].

O pessoal de Grão Pará manda muitas lembranças para você e pedem que quando você voltar não se esqueça de visitá-los. Lá em Grão Pará os primeiros cultos foram muito bem frequentados. E é muito natural que em qualquer lugar onde o Evangelho é anunciado lá também o mal não fica em paz. Por isso no princípio de dezembro apareceu um jesuíta nômade que quando soube que nós fomos lá pregar ele separou uma semana de missas onde a nós disparava torrentes de maldições e ainda incluindo a todos que foram ouvir estas pregações do diabo que eram as nossas. Mas como não notamos nenhuma diferença depois destes anátemas e nada sentimos então na próxima vez nós iremos com mais entusiasmo e também mais pessoas.

Agora que tu já sabes como nós passamos o Natal gostaríamos de saber como você passou o Natal? Tinha Árvore de Natal ou não?

Alguns dias depois das Festas começamos a ouvir rumores de revolução e que nas Serras estão bandos de anarquistas, mas que brevemente vão descer para Serra Abaixo. Estas notícias deixaram todo povo alvoroçado. O assombro de uma invasão iminente foi tão assustador que por dias não se via pessoa alguma nas estradas. Outros diziam que nas Minas [Lauro Müller] já tinham descido 600 homens e logo iriam continuar para Orleans e outros lugares. Mas em vez dos 600 homens apareceram 6 “manecos” pela estrada da Serra. Mas assim mesmo foram solicitadas ao governo tropas com fuzis e metralhadoras. Dizem que estes revoltosos são da Bahia. Que nas Serras ainda tem muitos revolucionários. Até o pessoal de nossa comunidade andava tão assustada que muitos iam dormir no mato. A senhora Paegle acompanhada pelo seu velhinho passava as noites embrulhados em cobertores no pasto encostados numa grande pedra etc.
Desta vez penso que chega de escrever, pois a Lucija também promete escrever e assim você terá muitas notícias de nossa parte. Você possivelmente não está entendendo por que desta vez eu estou escrevendo a lápis. Pois é porque as ratazanas derrubaram o tinteiro com toda tinta. Elas talvez sejam quase a “última praga em casa”. Em toda minha vida eu não tinha visto tantas ratazanas e guaiquicas como este ano aqui em casa..
Com muitas lembranças. APurim.

[Saber com os historiadores que movimento revolucionário foi este]

Aqui no Rio Novo a estrada todos anos fica melhor…. | De Arthur Purim Para Reynaldo Purim- 1926 –

[Página de uma carta do Artur sem data, sem o começo e sem o final onde ele desabafa e mostra a injustiça que o irmão faz do comportamento dele].

…Aqui em Rio Novo a estrada todos os anos está ficando melhor e o governo está prometendo logo fazer a estrada para automóveis até aqui no Rio Novo então uma bicicleta seria ótima para ser usada e por que estás proibindo a compra, eu não sei. Se fosse para não comprar por que não houvesse dinheiro então “paciência”, mas, temos dinheiro para comprar meia dúzia destas bicicletas…
Lendo as tuas cartas entre outras coisas assim “O Artur parece que não gosta de ir para a escola nem estudar, parece ser melhor ficar na roça para trabalhar na terra”. Estás fazendo uma avaliação incorreta por que se eu tivesse a mesma oportunidade que tu tivesses então em casa não teria ficado, se eu tivesse um “mocurongo” e um forte pai que ficassem em casa como foi na hora que tu foste embora então há muito tempo estaria longe.
Então eu sou obrigado a ficar em casa e é possível que seja à vontade do Senhor que eu tenha que viver aqui, e se é à vontade do Senhor então eu quero trabalhar para o Senhor conforme as minhas forças. Quando leres esta carta não fique imaginando que estou me esforçando para ter uma bicicleta para que em qualquer dia de ócio saia por aqui para quebrar a cabeça nalguma grota ou barranco por ai. A minha intenção poderia ser resumida na frase assim: “eu e a minha bicicleta serviremos ao Senhor”. O Paps fala que é para esperar quando as coisas ficarão mais baratas então sim comprar. Mas aqui no Brasil esperar por tempos de coisas baratas quando todos os dias todos os produtos industriais sobem todo dia. Para ficar esperando por preços razoáveis logo estarei com os cabelos grisalhos e os ossos rígidos então nestas circunstâncias não vale a pena esperar. Esperar por bicicletas fabricadas no Brasil seria uma possibilidade de ser mais baratas, mas hoje todas as coisas ainda são fabricadas no exterior…..
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A Paz do Senhor seja convosco. | De Artur Purim para Reynaldo Purim – 1926 –

Rodeio do Assúcar18/11/26

Querido irmão Reinaldo!

A paz do Senhor seja Convosco.

As tuas cartas escritas no dia 17 de setembro e dia 5 de outubro foram recebidas, a última recebi no domingo passado e pelas quais agradeço muito. Foram longas cartas onde você descreveu sua grande viagem. Deve ter sido muito interessante mesmo esta viagem naquele imenso navio e todas aquelas cidades que você passou inclusive a loucura de uma imensa cidade como Nova York e ainda aquelas outras cidades da América, lotadas daqueles imensos arranha-céus, fábricas enormes etc. Você também poderia escrever quanto custou à passagem até lá e se com aqueles 1.500$00 mil reis previstos deu para chegar lá.

Nós agora graças ao bom e querido Deus estamos passando suficientemente bem. O tempo esteve semana está bastante quente e seco que faz tempo que não ocorria. Durante o inverno e a primavera chovia tanto que não tinha fim e também atrasou todos os serviços da lavoura e plantações que não puderam ser feitos na época apropriada.

Agora como de costume estamos com dois domicílios, o que não é muito confortável. Isto, por que com tão, pouca gente, cuidar de duas propriedades é demais. Camaradas [Trabalhadores rurais avulsos] também são inviáveis contratar devido ao alto custo 2 a 2$500,00 por dia e mais a comida é caro demais. Só a Maria trabalha para nós por mês, mas quanto isto adianta de tanto trabalho? Comparando com aquele tempo que você ainda morava ai quando nós todos íamos para o trabalho e ainda também mais o “Pintado” •• sempre junto, ai sim, rendia bastante o serviço e ainda assim, nos achávamos que não era demais. Mas agora contratar um quando precisávamos de três e quando nós próprios não estamos acompanhando o ritmo, não digo eu, mas o Paps que esteve doente há algumas semanas quando estava roçando uma capoeira furou o pé nalgum toco da roçada e daí a infecção tomou conta do pé inteiro transformando-se num furúnculo e ainda bem que já está melhor, mas ainda não pode fazer nada, pode ser que na semana que vem ele já possa ir para a roça, mas pouco ainda poderá fazer. Assim você pode avaliar como nós estamos indo.

Agora temos um visitante aqui pelo Rio Novo. É o Arthurs Leiman. Ele chegou no dia 15 de outubro. Da Argentina ele viajou direto para São Paulo e dali veio para cá. Durante a semana ele mora com o cunhado dele em Tubarão o João Ochs e aos fins de semana ele vem aqui para o Rio Novo.

Sobre aqueles negócios vou escrever muito pouco porque nada aconteceu. Apareceu um comprador para o terreno aqui, mas não deu nada. Tem outro que virá. Também a Bukovina não foi vendida e nem apareceu nenhum comprador. Também não saímos por oferecendo por que daí qualquer comprador vai querer oferecer uma ninharia. E sobre aquele preço sugerido eu tenho sérias dúvidas se será possível conseguir tanto. Agora tudo está tão barato, se fosse como no ano passado que tudo era caro quando um saco de feijão valia 80$000 e uma arroba de toucinho 40 mil então o povo tinha dinheiro para comprar terrenos. Mas este ano não é assim. Vamos ver como vai ser para frente. Sobre venda e compra de terrenos hoje é só isso.

Há pouco tempo atrás houve um incêndio em Orleans e queimou a Venda e a casa do Cardoso. Virou um monte de cinzas. O que parece e o povo comenta é que eles mesmos são os culpados. É que toda aquela propriedade esta assegurada dizem que por 80:000$000. Agora virou moda de todo mundo fazer seguro de suas vendas e casas. Alguns por 55:000$ outros por 73:000$000 e assim por adiante. O próprio Cardoso estava em Desterro internado no Hospital e a família estava morando em Imbituba. Naquela noite em que houve este sinistro havia na cidade uma grande festa, um tempo seco e um forte vento. Diante de tudo isso o povo ainda fala que eles mesmos foram os culpados.

Bem hoje chega, já escrevi esta longa carta. Poderia escrever até mais, mas o sono está apertando. Logo depois da ceia eu comecei a escrever porque durante o dia não há tempo. Você deve se conformar com o tanto que eu escrevi. Com lembranças minhas e de todos daqui. APurim.

(Página anexa escrita depois)
Você poderia verificar o preço quanto custaria uma bicicleta lá na América. Eu tinha escolhido uma da marca alemã “Vanderer” com freio de mão e de contrapé, campainha, dínamo com iluminação e marcha com duas velocidades. Em Laguna na loja da Karl Hoepcke custa entre 450:000$ a 600:000$000. Então faça o favor de perguntar o preço lá e verificar o tamanho, pois se for da marca Vanderer precisaria ser de No. 7. Se der negócio, nós vamos precisar de 2, uma para mim e outra para o Puischel do Auggi.

Sobre mais um assunto eu gostaria de escrever. É sobre o nosso Engenho de farinha de mandioca que está no terreno dos Leiman e o terreno onde está sendo vendido. O Salits diz que o engenho pode ficar lá quanto tempo quiser. Mas de que adianta ter uma fábrica de farinha e não ter a mandioca. E comprador nenhum até agora apareceu. Nós oferecemos para o Sahlit, mas ele não deu nenhuma esperança de comprar. E se algum comprador de fora terá que desmontar e levar embora então eu acho que não vai querer pagar nada. Existem partes que quando desmontadas elas não servem mais, outras como os esteios que são imensos e pesados serão muito difíceis de serem retirados. Existe o perigo de incêndio, pois ela, a fábrica, está na beira de capoeira cheia de samambaias. Por isso antes que se determine o destino dela seria bom chamar uma empresa de seguros para proteger de qualquer eventualidade. Então em caso de que alguém deixe entrar fogo o prejuízo não seria total. O perigo é que ela está bem na beira da capoeira e se ela estivesse dentro do pasto não haveria perigo algum. No ano passado um “maneca” [Termo pejorativo dado aos brasileiros nativos pelos descendentes de outras etnias] que mora perto da rocinha, resolveu queimar uma pequena coivara num domingo com clima muito seco e muito vento. Não deu outra, poucos momentos depois o capoeirão dos Slengmann estava uma linda fogueira. A sorte era que o vento não vinha em nossa direção.

Por isso a minha preocupação, pois pode acontecer em qualquer lugar. Hoje chega. Pois escrevi quase um livro. Escreva-me uma longa carta e comente sobre todos estes assuntos. Aqui fico teu amado irmão. Arthurs. [ Artur Purim]

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