Inhame para cozinhar para os porcos | Olga Purim a Reynaldo Purim

Rio Novo, 31 de julho de 1919

Querido Reini!

Primeiramente envio muitas lembranças! A tua carta escrita no dia primeiro de julho recebi no dia 21 de julho; esta foi uma das que demoraram bastante. Muito obrigado. Cheguei a pensar que você não havia recebido as minhas cartas pelo tempo que ficamos esperando as respostas. Não aguentando de saudades, no dia 14 de julho mandei mais uma carta, porque nos jornais que chegaram você tinha anotado que estava esperando notícias nossas.

Bem, [esse tipo de atraso] não tem muita importância, desde que a gente tenha certeza que as cartas realmente cheguem os seus destinos. Hoje não se compara com os tempos de incertezas do período da guerra: agora está realmente muito melhor.

Lendo sobre a Convenção das Escolas Dominicais, fiquei muito feliz em saber que você esteve em todos aqueles eventos. Ah, como eu gostaria de ter estado também, pois nunca tive oportunidade de estar no meio desta multidão; nunca me vi nem me ouvi numa situação dessas, num meio em que as grandes personalidades ponderam e decidem. Então estiveram mensageiros de todas partes, até do Rio Grande do Sul, que fica tão longe!

Então você deve ter conversado com o Karlis [Leiman]. Parece que hoje a moda é ir viajar para as Conferências. O Butler, o Robert e o Klava viajaram para Paranaguá, e sobre isso já escrevi um pouco. Eles estão sendo esperados em casa, mas até hoje não chegaram e já faz um mês que eles foram. Porém soubemos que depois da Convenção eles ainda iriam para Kuritiba e ainda visitar as colônias letas na região de Blumenau.

Você não imagina como o Grünfeldt está preocupado. As reclamações dele não têm fim. Por que precisam ir à Convenção? Por que gastar tanto dinheiro e tempo? E os pastores só pensam de zanzar de um lado para outro. Por que ficam tanto, tempo fora de casa? A grande infelicidade dele é que ninguém lembra dele para nada, e daí o problema.

De resto, tudo igual na velha Rio Novo. Ninguém casou e ninguém morreu… Nós estamos passando, bem graças a Deus, e todos com saúde. Hoje o tempo está nublado e chove um pouco. Sopra um vento frio do lado de baixo [sul: minuano].

A festa do açúcar este ano foi melhor do que a dos outros anos, pois nos anos passados não passou de dois tachos [isto é, duas fornadas], mas no ano passado a geada foi tão forte que matou a cana até o chão. Este ano foi muito bom, a cana cresceu muito bem. Aquelas que o vento derrubou cresceram tortas e tiveram que ser cortadas ao meio para que fosse possível enfeixar. Em comparação com os anos anteriores, em que nem tinha sobrado mudas para plantar, este ano nós fizemos 5 ½ fornadas (tachos). Veio o Caciano do Rio Laranjeiras com seus irmãos e seus bois para moer a nossa cana.

Os nossos bois não foram adestrados para andar ao redor da moenda no engenho. O Ostos não gosta mesmo de andar e o Bullis [“boi”, em leto] não foi ensinado. Com Osto nós vamos buscar inhame para cozinhar para os porcos e também lenha para o engenho; já andar ao redor não é com ele [NOTA: Para que os bois não ficassem tontos caminhando ao redor da moenda eram colocados uns anteparos feitos de couro sobre os olhos deles, chamados antolhos]. Mas é uma vez por ano que a gente faz açúcar, e ainda tem de puxar sem ajuda.

Agora nós temos açúcar para o ano, e hoje em dia não está barato, 3$000 ou 4$000 como era no passado; agora está 15$000 a arroba. Todo tempo do corte da cana o tempo esteve quente e seco como se fosse verão. Começamos no dia 24 de julho e terminamos dia 29. Este ano ainda não fez frio, e nenhum sinal de inverno por aqui. Está tão quente que já pode se começar a plantar. Os pessegueiros já floresceram e as laranjeiras estão com botões; outras já brotaram e as abelhas chegam a zunir atrás do seu pólen e néctar. No ano passado [nessa mesma época] estava tudo congelado, nenhuma abelha se atrevia sair de sua colméia.

Ontem o Pappa estava fazendo uma limpeza nas colméias retirando os favos escuros [isto é, vazios, que tinham sido usados como ninho] para deixar espaço para a colheita que vem por ai, mas elas estavam muito ferozes, avançando em tudo e em todos. O Pappa disse que em muitas colméias já tinha bastante mel.

Desta vez chega, outra vez eu escrevo mais se tiver mais notícias. As camisas serviram? Não ficaram justas? Agora nas vendas de Orleans está começando a aparecer novos tecidos e ficando um pouco mais baratos.

Com sinceras e saudosas lembranças de todos de casa. Escreva bastante.

Olga

Para conhecer a cidade | Olga Purim a Reynaldo Purim

[Parte legível de um Cartão Postal com carimbo de Orleans de 18 de julho 1919]

…então eles deverão logo chegar de volta da Conferência [da Convenção Batista], pois esta já deve ter terminado. Eles viajaram para lá no dia 30 de junho, mas não sei em que navio embarcaram. Outros dizem que eles não conseguiram aquele navio que esperavam tomar. O Deter escreveu que a viagem a Blumenau foi muito boa e de lá para a Convenção irá o E. Broks. Torna a insistir que aguarda os mensageiros do Rio Novo.

A Convenção em Paranaguá começou no dia 9 de julho e este dia aqui em Rio Novo foi um dia muito lindo; tomara que lá em Paranaguá tenha sido assim. Depois do término da Conferência o Butler, o Klava e o Robert vão viajar até Kuritiba para conhecer a cidade e visitar a família do Deter. Na volta da viagem o Robert terá muita coisa para contar, pois ele foi conhecer muitos lugares a que nunca tinha tido a oportunidade de ir antes.

A Escola Dominical de Rio Larangeiras está sendo dirigida pelo Arnolds [Klavin]; ele está passando o inverno em casa, pois os serranos nesta época estão batendo os dentes de frio.

Agora os Klavin estão fazendo farinha de mandioca. O problema é que o preço não está como no ano passado, quando se vendia por até 12$000 uma saca de qualquer farinha. Agora se for muito boa [o preço fica entre] 5$000 e 6$000, e se não for boa cai para 2$000 a 3$000 o saco.

O Jurgis e o Woldis Karklin foram embora para São Paulo sem mostrar no Rio Novo a Iluminação elétrica que prometeram. Também a Elza Karklin tem andado de um lado para outro, e até em Mãe Luzia ela foi.

Bem, por hoje chega. Pode ser que logo receba cartas suas, e se você pedir para escrever mais sobre o Rio Novo eu escrevo. Ainda muitas lembranças do Papa, Mamma, Arthur, Luzija e da

Olga

135 cargas | Lucia Purim a Reynaldo Purim

[Sem data, mas deve ser julho de 1919]

Querido irmão,

Recebi a tua carta, pela qual agradeço. Agora eu estou indo muito bem. Hoje o tempo está magnífico, mas a semana inteira ficou nublado e chovia um pouco. Fazia mais de um mês que não tinha chovido.

Ainda bem que agora podemos transplantar os repolhos, e os nabos estão quase no ponto de cozinhar. As alfaces, umas estão bem grandes e outras estão ainda pequenas.

O milho não está todo colhido. No paiol despejamos 135 cargas, e quanto ainda temos que trazer não sei calcular. Na nova coivara em toda parte o milho deu espigas muito grandes. Da Bukovina foram trazidas 60 cargas.

Lá também deu muita abóbora. Fazia anos que isto não acontecia. Junto àquele tronco onde o gavião fica pousado deram abóboras das grandes, de diversas formas e cores e muito pesadas. Nós estamos dando prioridade para a colheita do milho; as abóboras vamos buscar depois. Para a Marsa e a Zebra não faltará serviço.

Daqui a pouco tempo vamos ter que começar a derrubar capoeiras. Então trate de vir logo para casa para ajudar-nos.

Você deve vir para casa para ver os patos, os filhos da “Lembrança”: são dois machos e duas fêmeas. Os machos nós chamamos um de Doca e o outro Schina. As fêmeas, uma é Schika e a outra e Saglene [“ladrona”]. A Saglene pôs treze ovos e começou a chocar. A Schika também começou a botar. As duas são muito safadas, pois voavam pelo ar e chegaram a voar até o pasto do Butler, onde ele tinha um pequeno açude de peixes. Elas tentavam colaborar na pescaria e não voltavam para casa: a solução foi cortar as penas das asas.

Quando você vier para casa nós vamos matar o velho peru. Agora temos 5 perus: dois machos e 3 fêmeas. Você nos deve avisar para que o coloquemos em regime de engorda.

Bem por hoje chega de escrever, deixa para outra vez.

Com sinceras saudações,

Luzija

Como nos escreve o Peters Kalnins | Arnolds Klavin a Reynaldo Purim

13/07/19

Querido amigo!

A esta altura pode ser que já saibas que a Igreja de Orleans se uniu novamente com a do Rio Novo. Eu tive a oportunidade de estar em casa durante a reunificação, pois tu sabes que eu moro nas Serras. O Deters trabalhou bem, é um líder muito enérgico. Ele prometeu até o fim do ano voltar trazendo mais um novo obreiro que deverá trabalhar em Laguna, Tubarão, Mãe Luzia e aqui. Quem será ainda não sabemos.

Durante a Festa de Pentecostes [em leto “Festa de Verão”] estive em Mãe Luzia. O Rudolfo Strauss, missionário dos pentecostais, estava fazendo um trabalho lá. Todas as noites tinha cultos. Alguns ensinos deles são bastante razoáveis, como por exemplo: devemos ser mais dedicados as coisas de Deus e dar mais tempo a oração, enfim sermos mais espirituais, etc. Mas aí ele começava a excomungar os batistas e suas práticas — coisas como dar valor a pastores que estudaram e que têm grande conhecimento da Palavra de Deus, que têm a tendência de confiar muito em pessoas, que pensam em construção de templos, desenvolvimento de missões etc. Isso tudo na opinião dele é totalmente inútil. É com pesar que devo afirmar que o sermão ficava mais nesta segunda parte, que era denegrir o comportamento mais cultural dos batistas.

Estes trabalhos eram feitos na casa do Andermann, mas não sei se ele concordava com toda teoria deles. O que muito me impressionou foi a aparente sinceridade nas orações, uma vez que eles oravam com a face rente ao chão. No domingo houve três cultos e os seus adeptos oravam prostrados sem parar confessando os seus pecados, que antes tinham cometido, e logo em seguida no outro culto a repetiam a mesma coisa. Devemos reconhecer que eles são muito devotados a sua prática religiosa.

Temos ouvido que em Rio Branco [Massaranduba, SC] esse movimento tem uma grande força. O P. Graudins e outros falam línguas desconhecidas e outros profetizam, mas como nos escreve o Peters Kalnins, nada disso que é profetizado se cumpre.

O Roberts Klavin e o Butlers viajaram para assistir à Conferência em Paranaguá. Hoje eu fui dirigir a Escola Dominical em Rio Larangeiras e os alunos te mandam muitas lembranças.

O tempo continua quente como fosse primavera, e até mesmo o sabiá começou a cantar. Nós estamos fazendo farinha de mandioca. Quando o Roberto voltar irei de volta para as Serras. Depois que eu desci chegou a dar neve lá na Serra.

Com uma sincera saudação,

Arnolds [Klavin]