Alegro-me por você estar passando bem e espero que assim continue. | De Reynaldo Purim para Artur Purim – 1925 –

[Trecho de rascunho de parte de uma carta datilografada do Reynaldo Purim para o seu irmão Arthur em Rio Novo]

Rio de Janeiro, 2 de Julho de 1925.
Querido Arthur!

Saudações. Recebi a tua carta escrita no dia 8 de junho. Obrigado. Faz tempo que estava aguardando notícias suas e finalmente chegou. Aquele grande documento parece que tenha se extraviado ou pelo menos não chegou até agora. Certamente teria sido grande demais e os correios não conseguiram trazer. Pode ser que ainda chegue.

Alegro-me por você estar passando bem e espero que assim continue. Quanto ao que refere comigo estou suficientemente bem, apesar que muitas vezes sinto-me exausto porquê o trabalho é demais. Quanto ao resto, estou indo bem e nada a reclamar. O tempo aqui agora está bom e algumas vezes um pouco frio. Até eu acho um pouco frio quando sopra forte o vento sul, mas não significa que possa ficar congelado. Por causa disso não precisa se preocupar. Durante as noites me cubro com os dois cobertores e por isso não precisas te admirar, pois nós aqui dormimos no segundo andar sempre com as janelas abertas. Isso tudo faz parte do cuidado com o corpo. Dormir em quarto fechado não é saudável. Se você não sabia podes aprender agora. Tem gente por aqui que reclama muito do frio, mas, isso é, porque eles nunca sentiram frio em sua vida e nunca realmente ficaram congelados.

Você me escreve pedindo mudas de mandioca. Ainda não fui ao Ministério da Agricultura procurar mudas e sementes. Esta semana não poderei porque tenho ir aos cultos toda noite em Pilares e durante o dia estou por demais ocupado. Mas na semana eu tentarei ir buscar alguma coisa porque o tempo de plantar está próximo. O Ministério da Agricultura é longe daqui, pelo menos uma hora de bonde, perto do Pão de Assucar e lá pelo menos até agora para aqueles lados nunca fui ainda. Você me chama para ajudar a fazer a farinha de mandioca. Obrigado pelo convite. Você me convida quase no momento que já está fazendo e se eu fosse agora, estaria tudo pronto e não teria mais nada para fazer. Noutra vez você deve fazer o convite com mais antecedência e não deixar para o último momento.
Agora recentemente faleceu o maior pregador presbiteriano do Brasil, Dr. Álvaro Reis. Ele era um grande orador e também grande escritor. Morreu a noite deu aula em uma classe eu não sei aonde até as 10 horas da noite e depois foi para casa dormir. Acordou às 2 horas da manhã doente. Despediu-se da esposa (que é surda-muda) e outros familiares e as 4horas da manhã veio a falecer. Antes de morrer começou a cantar o seu hino mais querido (512 do Cantor Christão) e cantou até a penúltima estrofe e dai ele parou e morreu… Começou a cantar nesta vida e terminou na verdadeira morada. Esplêndido! Estive no culto de despedida qual foi realizado no grande templo onde o falecido serviu por longos anos como pastor. Gente tinha demais. Mais de mil pessoas de perto e de longe, muitos oradores muitas coroas lindas e elaboradas, enchendo todas galerias, calculo que sejam mais de cem com muitas mensagens variadas. Entre outras coisas a grande congregação cantou aquele hino que ele não conseguiu terminar estando ainda nesta vida. Tudo isso causou profunda impressão. O cortejo do funeral também foi grande e impressionante, centenas de carros seguiam o carro fúnebre. por onde passava toda atividade cessava. Não pude ir ao cemitério. Lá também houve um grande programa nestes últimos anos tem morrido muitos pregadores…

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