RECORDAÇÕES DA INFÂNCIA E DOS NOSSOS PRIMÓRDIOS

por João Reinaldo e acrescentado e consertado pelos irmãos Viganth Arvido e Valfredo Eduardo Purim

2a. Edição acrescentada

24 de maio de 2019

Este trabalho é apenas um ensaio. Carece dos acréscimos, consertos e acertos, dos demais familiares daquela época que podem e devem participar deste trabalho para que fique como testemunho daquilo que Deus, conduziu por linhas incompreensíveis, às vezes, a família e ter chegado até o momento presente.

       NOSSA CASA E PROPRIEDADE – Nossa casa localizava-se numa região bastante acidentada. Para se chegar em casa tinha que seguir uma estrada curva por ter que atravessar uma grota. Ficava a uns 200 metros da porteira por onde se entrava a partir da estrada que vinha de Orleans e subia mais acima onde se dividia que chamávamos de “encruzo”. À direita ia-se para o Rio Carlota, depois Invernada, Grão Pará e outras localidades. À esquerda, desta encruzilhada, ia-se para a Coxilha Seca, depois para Brusque do Sul. A estrada, em frente à nossa casa, era uma subida desde a propriedade da Igreja Batista Leta de Rio Novo até chegar ao encruzo. Nesta subida muitos caminhões e automóveis, em dias de chuva, se atolavam os quais precisavam de socorro dos nossos bois para ajudá-los até chegar no topo. A nossa propriedade era cheia morros e grotas. Por ser bem no alto do vale do Rio Novo tinha-se uma boa vista de todo o vale. Geralmente, pelas manhãs, via-se o vale coberto de névoa ou serração que depois se dissipava ao longo do dia.

       Pois bem, a nossa casa era feita por nossos avós, logo após a chegada da Letônia. Era construída de taboas grossas encaixadas em esteios de madeira. O telhado era confeccionado de tabuinhas de uns 40 x 25 centímetros. Estas tabuinhas eram rachadas e colocados uns palitos reforçados numa extremidade, as quais eram afixadas em ripas horizontais, para não correr abaixo. A cozinha e duas dependências eram construídas de pedras trabalhadas. Na cozinha havia o fogão “movido” a lenha que tinha que ser abastecido constantemente. Tinha duas mesas. A grande para as refeições e a menor para os preparativos das refeições. Uma destas dependências era a despensa onde se armazenavam os alimentos, tais como latas de banha, outras de mel e tantas coisas mais. A outra dependência era a estufa ou sauna, [ver descrição detalhada por Viganth Arvido no Almanaque Purim] onde, aos sábados, se tomava o “banho semanal”. Depois de se tomar um bom suador era a vez de se entrar para um gamela para o verdadeiro banho.

       A casa era de formato de um L. Nesta conjunção havia uma boa varanda que dava para o terreiro, que era cercado de flores e algumas palmeiras.

       Nesta área contígua havia um paiol onde estava o forno onde se assava o pão de milho; também onde se guardava a lenha para não se molhar com a chuva. Nesse paiol também havia o banco de carpinteiro com inúmeras ferramentas para se trabalhar em madeira. Era o local que eu gostava muito de fazer alguns apetrechos enquanto chovia. Passada a chuva, mamãe chamava com voz autoritária: “parou a chuva, peguem uma foice ou a enxada e vão trabalhar!”

       Próximo à cozinha e o paiol havia outro paiol em que se guardavam o milho em espigas e outras coisas mais. Ao lado ficava o galinheiro em que as galinhas passavam as noites em seus poleiros. Também, ao lado deste paiol ficava o chiqueiro onde porcos eram engordados com batatas doces, inhame e abóboras que eram trazidos da roça. Foi nesse chiqueiro que ao cortar as abóboras para os porcos que cortei o meu dedo polegar esquerdo que conto mais adiante. Para se cozinhar o inhame, que era de um metro aproximado de comprimento. O mesmo era trazido, arrastado. com grande sacrifício das grotas e era cozido em um tacho. Tudo isto era às custas de muito esforço e trabalho penosos.

       Mais para trás vinha uma calha que trazia água de uma nascente a uns 80 metros. Esta água caía em um coxo onde lavei muita roupa, à mão e toda semana. O pior era quando, em época de estiagem, esta fonte secava. Então era necessário trazer a água de uma possa, em baldes, para então lavar a roupa nesses coxos. Era infância e adolescência de muito trabalho…

       Eis aí uma rápida descrição ou retrato dos primórdios de nossa vida.

ENGENHO DE AÇÚCAR – Recordo-me dos tempos de minha mais tenra infância o nosso engenho de açúcar movido a bois. Era uma construção muito rústica de madeira localizada a uns 100 metros, pelo pasto, que depois da nossa porteira de entrada, saía-se da estrada e a uns 60 metros para baixo. Ficava na encosta de uma grota que fazia divisa da nossa casa com a entrada da propriedade. O engenho, propriamente dito, era de três moendas. Eram três toras de madeira redondas de uns 50 centímetros de altura em posição vertical. Eram movidas por engrenagens em cima de cada uma, também de madeira a partir da central que era acionada por dois bois que tinham os seus olhos tapados com os antolhos para não ficarem tontos ao fazerem as voltas. Eles eram atrelados às cangas, ligadas por cima, à moenda central. Os bois, dando voltas, tinham a função de movimentar a moenda central e também as duas outras laterais. Uma pessoa colocava as canas de açúcar em uma moenda que fazia a primeira espremida do caldo e no outro lado, outra pessoa colocava o bagaço na segunda moenda que tirava o máximo. Este caldo, ou garapa era recolhido em baixo e corria por baixo do chão e caía já na parte de baixo do engenho num grande cocho feito uma canoa, onde ficavam o forno e demais cochos. Em seguida a garapa era transferida para o forno que era uma enorme bacia de cobre em que, embaixo, o fogo fazia ferver a garapa até virar melado até o ponto certo, conhecido pelos entendidos do assunto. Então, era transferido para o cocho onde iria esfriar e ficar açucarado. Depois era colocado em formas, tipo cestos, de taquara com certa semelhança com o tipiti mas sem aquele remate reforçado na parte superior  em que a parte líquida o melado já sem o açúcar era escorrido era escorrida, ficando o açúcar para ser, depois, colocado, em lençóis, ao sol para secar. Daí, então, tínhamos o açúcar grosso ou mascavo. Nas ocasiões em que era feito o açúcar o trabalho começava-se cedo de madrugada e ia a noite a dentro. A parte coberta e próximo as moendas ficavam pilhas de feixes de cana aguardando o momento de   levar para as moendas. Voltando ao forno superaquecido que fervia a garapa até chegar ao ponto do melado de forno disputados era uma luta porque era preciso agitar com uma espumadeira de bom tamanho e com um cabo bem comprido. Deste ponto em diante estava chegando ao ponto do açúcar que durava poucos minutos e se fazia necessário apagar o fogo na fornalha que era determinada por ordem do comando para lançar latas e mais latas de água na fornalha que devolvia com nuvens de vapor super quente impregnado de cinzas.

Neste tempo com uma cuia com cabo longo era mais rapidamente possível esvaziado a panela ou tacho do melado destinado a ser açúcar passando para um cocho que era chamado de esfriadeira. Quando somente poucos resíduos estavam queimando ainda com o calor residual era aberto o controle do cocho da garapa enchendo novamente a panela para outra panelada. Este momento o pai com a cuia dele ou com a mão mesmo procurava pedaços de “puxa-puxa” que eram aqueles resíduos  que agora eram disputados para chupar e deliciar-se.

Outras utilizações do engenho: Em épocas que o engenho não era utilizado o papai autorizava os serranos que vinham com caravanas de mulas para utilizar o ambiente para passar a noite. Lembro também que quando o Tio Natalino veio de Rio do Sul buscar a tia Albertina a super carroça ficou estacionada dentro e nós ficávamos brincando na boleia ativando o moderno freio à manivela. E queríamos saber por que além do par de cavalos, um ia por fora quem sabe prá ajudar numa subida forte

       Passados alguns anos este engenho foi abandonado e desmontado. Ficou apenas o local com as recordações de onde trabalhavam os bois, e onde ficavam o forno, os cochos e depois cobertos pela grama e o pasto para os animais.

UMA TENTATIVA FRUSTRADA

       A nossa propriedade ficava bem nas cabeceiras do Rio Novo. As suas nascentes com os seus afluentes iam se juntando até desaguar, a uns 12 quilômetros, na Barra do Rio Novo, no Rio Hipólito, que naquele tempo se chamava de Rio Tubarão, já bem próximo a Orleans. Pois bem, meu pai, sempre sonhador que foi, teve a ideia de aproveitar um desse riachos para construir um engenho de açúcar movido por uma roda d’água. Recordo-me da construção do açude, ou barragem para acumular a água em lugar que julgou apropriado. Ia construindo a parte de alvenaria. Para ficar mais claro na parte de cima onde ficava em contacto com a água a parede foi feita de tijolos com cimento e na parte debaixo uns 3 metros abaixo uma parede de pedras e este meio foi enchido de terra e onde mais tarde foram plantados dois pés de bambus. Depois fez a aterragem e, finalmente, para assegurar a mesma fez de pedras. No meio e bem embaixo fez a tubulação para a saída d’água. Lembro-me das dificuldades para fazer tudo isto foi, praticamente sozinho e com grandes sacrifícios físicos. Finalmente o açude ficou pronto e cheio. Lembro-me de que um dia o papai chegou em casa com um balde com água e cheio de peixes que trouxe do Rio Laranjeiras que ficava uns 10 quilômetros e que foram soltos no açude. Pensava-se que iriam procriar e enche-lo de peixes. Entretanto, creio que foi por falta de alimentação, isto não aconteceu. Mesmo assim, foi o local onde nos divertíamos nos dias de sol e calor e onde aprendemos a nadar, ainda que de forma de “cachorrinho”. Ninguém usava roupas de banho, todos eram à lá Adão. A vegetação impedia o visual de qualquer assistência.

       Quanto à construção do engenho, lembro-me, do sacrifício da construção das instalações. Lembro-me de que eram improvisados guindastes também de madeira em tripé, para colocar as vigas de madeira em pé e depois as travessas em cima e finalmente a cobertura com telhas de barro. Foi, em seguida, feita a escavação para o local da roda d’água e das engrenagens para o engenho e demais dependências para o seu funcionamento. Já se comentava que a escavação estava chegando muito perto de um esteio de baixo. Passado algum tempo, o Arvido e eu estávamos, por acaso, num lugar elevado que se avistava a construção, quando de repente, um estrondo, vimos toda aquela construção abaixo. Eram as madeiras e as telhas todas quebradas. Nós, como crianças, não calculávamos o que tudo isso significava e achamos isto muito engraçado e rimos bastante. É possível que tenha sido resultado da grande escavação. Depois, quando papai soube desta nossa reação, ficou muito zangado conosco. Graças a Deus que esta tragédia aconteceu num momento em que ninguém estava embaixo cujas consequências teriam sido a morte certa. Assim, este sonho do nosso saudoso pai foi por “água abaixo”.

       Lembro-me depois que chegava de São Paulo o engenho propriamente dito, de ferro, monobloco, que papai tinha encomendado. Lembro-me de que, com alguma dificuldade, foi vendido para alguém que, por certo, fez bom proveito.

       Também me lembro, depois, a venda do tacho de cobre que tinha sido usado no primeiro engenho e estava sendo reservado para o segundo.

       A memória da infância, que a tudo via, prestava atenção e ouvia, permanece viva em nossas mentes.

NOSSAS ESCOLAS – A nossa escola primária foi muito precária, distante e sem qualquer recurso mais moderno para auxiliar as crianças no seu aprendizado. Lembro-me da Cartilha Analítica, o livrinho de tabuada e uma lousa que era um “tablet” de pedra de cor cinza escura que podia se escrever de ambos os lados, com armação de madeira para proteção e nela se escrevia também com um “lápis” do mesmo material que ao escrever ficava um risco que podia ser apagado sem qualquer problema. Nesta lousa eram passados os deveres de casa. Também tínhamos o “penal” que era o estojo para o lápis e a  borracha. Todo este material era colocado numa sacola de pano com uma alça que se passava pelo pescoço e que ficava a tiracolo e assim a gente ia correndo à toda e a pé para a escola que se tinha que chegar lá, se possível, para a formatura às 8 horas da manhã para cantar o Hino Nacional e o hasteamento da bandeira. Merenda nunca se levava. Havia um recreio para espairecer um pouco e ao meio dia já devíamos estar de volta, em casa. Depois de jantar (era o que se chamava para o almoço) e logo, enxada nas costas e roça.

       A primeira escola que me lembro começou numa sala na velha casa que ficava do outro lado da estrada, em frente da residência da tia Lúcia e tio Eduardo Karp no Rio Carlota, que em tempos passados tinha sido a residência dos Mach que em leto chamava-se Mach Maai, isto é casa dos Mach. Ali começaram seus estudos o Valfredo e o Arvido. Era uma longa caminhada da nossa casa até aquele local.

       Mais tarde a escola funcionou na casa onde também residiram outros letos, os Karklin, também no Rio Carlota. Este local ficava bem mais perto. A professora vinha de charrete, de Rio Novo. Foi nessa escola que comecei o meu primário. Depois, foi construída uma escola de tábuas um pouco mais distante. Para cada série tinha um banco comprido. O primeiro ano ficava no primeiro banco e assim até o 4º ano. A professora dava atenção a cada um conforme às necessidades. Lembro-me que no pátio, à frente, tinha um mastro que em certa ocasião de festa papai fez o hasteamento da bandeira devagarzinho e terminou justamente no final do cântico do Hino Nacional.

       Teve um dia em que íamos, nós três, como sempre correndo, quando de repente o Valfredo viu em cima da Serra que ficava a muitos quilômetros uma faixa branca de pedras, e ele concluiu, logo que era um jacaré, e a gente, correndo, parecia que o estava se mexendo mesmo. Aí é que se corria ainda mais. O pior foi quando o Arvido, teve necessidade de entrar no mato para fazer seu descarrego, mas ele não deixou, pois, o jacaré poderia nos atacar…. Eis um problemão.

       Depois de alguns anos deixamos a escola no Rio Carlota e eu e o meu irmão Alberto fomos, como sempre, a pé,para a Escola no Rio Novo que também era bem longe e a estrada cheia de curvas e sobes e desces que nos fazia se cansar bastante.

       Nem me lembro se cheguei a me formar no primário.

BANANAS E BANANEIRAS – Lembro, também, isto bem na minha tenra idade. Meu pai tinha feito uma grande plantação de bananeiras bem no alto de nossa propriedade. Ele tinha, por costume, ir periodicamente cortar os cachos maduros ou os “de vez” para trazê-los para casa. Lembro-me dele com muitos cachos pendurados nas costas e na frente, assim voltava para casa. Atrás dele vinham o Valfredo, o Arvido. Finalmente, vinha eu recolhendo num cesto, as bananas maduras que iam caindo pelo caminho. Ao chegar em casa as mesmas eram colocadas em uma casinha de alvenaria, construída à metade enterrada com apenas uma porta e uma pequena janela atrás. Em leto nós a chamávamos de PAGRABIM, que quer dizer lugar de guardar. Era um local bem fresco e também úmido. Lá ficavam as bananas ainda em seus cachos que a gente comia à vontade e jogávamos para os patos e galinhas que esperavam fora com ansiedade.

ABELHAS E O MEL – Nós tínhamos, pertos de umas trinta colmeias todas enfileiras numa construção comprida mais para cima de nossa casa. Eu gostava de chegar de vagar, bem perto e ver a entrada e saída das abelhas que vinham e iam em sua tarefa de fazer o mel e a cera. Gostava de ver os enxames de novas famílias saírem. Geralmente elas, em pouco tempo, se colocavam em um galho de árvore próximo. Então era hora de preparar uma nova moradia para esta nova colmeia, Geralmente era uma já antiga a qual era friccionada por dentro com folhas de laranjeira que elas gostavam. Colocávamos a máscara e pegávamos a escada e da melhor posição e com uma lata vazia embaixo do enxame e sacudia-se o enxame caía, em grande parte, dentro dela e era trazido, rapidamente, e derramado dentro da nova colmeia que era fechada com bastante cuidado para não as machuca-las. Fechada e constatada a presença da rainha dentro, dava-se por terminada a tarefa. Pois todas as demais iriam entrar para a nova residência. À noite pegava-se esta nova colmeia e era colocada no local definitivo.

       Periodicamente era feita a colheita do mel. Meu pai colocava a máscara e as luvas e roupas bem fechadas e começava a retiradas dos favos, colmeia por colmeia. Quando enchia uma grande bacia, trazia para a casinha das bananas onde o Arvido e eu desmanchávamos os favos em uma peneira por onde escorria o mel em um enorme taxo de cobre. Tínhamos que fazer fumaça com a queima de trapos de roupas para espantar as abelhas. O Arvido retirava as abelhas que permaneciam dentro dos favos e eu fazia o desmanche. Em uma dessas tiradas de mel eu fui picado por 23 abelhas fiquei com a cara irreconhecida. Tive uma tremenda dormideira. Creio que por isso é que tenho boa saúde, pois dizem que a ferroada de abelha é bom remédio para vários tratamentos. Teve ocasião em que tirávamos 6 ou 7 latas de querosene de mel, também os favos desmanchados eram derretidos em cera que era vendida em fôrmas que mais pareciam grandes queijos. O mel fazia parte do café da manhã com o pão de milho.

O PÃO DE MILHO – Sem falar do plantio, da colheita e do armazenamento das espigas de milho no paiol, era um processo que dava também muito trabalho. Começava por descascar as espigas, depois vinha a debulha que era feita à mão ou através de uma debulhadora manual. Era uma máquina de ferro fixa em uma caixa para recolher os grãos. Essa máquina consistia de um círculo cheio de dentes que ao colocar a espiga na parte de cimae acionada a manivela, ela girava e fazia com os grãos caíssem em baixo.  Depois que se beneficiava uns 15 quilos era colocado em um saco e o mesmo era colocado nas costas de ia-se para a atafona que ficava no Barracão do Sr. Brugnara (leia-se Brunhara). Depois, pela estrada estreita e esburacada e de se atravessar muitas porteiras, isto é, propriedades dos colonos, chegava-se ao destino. E, como sempre, tinha que ficar na fila, pois muitos já tinham chegado antes. A atafona era movida à água do Rio Pinheiro. Eram duas enormes pedras aplanadas e redondas que talvez pesassem uma tonelada cada uma, a debaixo era fixa e tinha um furo no meio por onde passava o ferro que acionava a pedra de cima que também tinha um furo de uns 15 centímetros de diâmetro por onde os grãos iam caindo, de um recipiente de madeira em forma de cone que tinha um dispositivo que fazia o trepidar o com isso o milho ia caindo gradativamente. Terminada a moagem, começava-se a volta para casa pelo mesmo caminho, que geralmente já era de noite completamente escura, pois não se tinha qualquer iluminação.

       A confecção do nosso pão de milho se dava da seguinte maneira: tínhamos um recipiente de madeira retangular, de uns 80cms x 40cms e uns 40 de fundura. Começava-se com o ralar do cará. O ralo era uma chapa de lata toda furada com pregos e afixada e numa armação retangular de madeira. Depois, a farinha de milho, ou fubá, que era misturado com água e mexido com um punhado de fermento que sempre era guardado de uma semana para outra. Não me lembro dos ingredientes, a mais, que eram colocados. Tínhamos um monte de formas que eram forradas com folhas de caeté. E assim essas formas ficavam algum tempo para o seu crescimento para então entrar no forno. Esse ficava em um paiol/depósito anexo, onde se guardavam a lenha e também tinha o banco de carpinteiro com incontáveis ferramentas com as quais gostávamos de nos divertir. O forno era superaquecido com bastante lenha e por um bom tempo. O braseiro todo era arrastado para fora que caía na frente. Então as formas eram colocadas no forno. Era fechado e se esperava, creio que por mais de uma hora, quando as formas eram retiradas para o seu consumo matinal e diário. O forno quente era aproveitado para assar batata doce e depois torrar o amendoim com o qual se fazia o saboroso e saudoso doce. O pão de milho era o principal para cada nosso café da manhã que era chamado de almoço. Ao meio dia era a janta e à noite era a ceia.

       No final da semana, depois que faltava o pão de milho, o nosso pai fazia uma polenta muito gostosa em numa panela de ferro, ficava mexendo com um pau redondo de uns 4cms de diâmetro e uns 1.50 de comprimento, em cima do fogão até ficar reluzente. Quando pronta era virada em uma enorme tábua redonda. Depois era cortada com um fio de barbante com as duas mãos em cada ponta, debaixo para cima e colocada no prato. Este era o prato principal do café da manhã.

ANTES DO CAFÉ DA MANHÃ – Como sempre a nossa vida na roça começava bem sedo, logo ao clarear do dia. Tínhamos que tirar o leite, dar comida para as galinhas, e porcos nos seus devidos chiqueiros. Todas as manhãs, um de nós tinha de conduzir todo o nosso gado para o pasto da igreja pela estrada abaixo. (Á tardinha, o mesmo processo, trazê-las de volta para passar a noite em casa.) Quando estas partes preliminares eram feitas todos os filhos se reuniam, cada um no seu lugar, ao redor da mesa, papai abria a gaveta e dela tirava uma Bíblia e fazia a leitura e depois orava, tudo em leto. Seguia-se o avança… Depois, cada um com o “tanque cheio”, tomava a sua enxada ou foice, conforme as necessidades e com o seu chapéu de palha na cabeça e um facão na bainha e na cintura, pé no chão, e a caminho da roça… até o meio dia quando se voltava para a chamada “janta”.

       O MEU DEDO CORTADO. Certa manhã, ao dar comida para os porcos nos chiqueiros, estava eu cortando uma abóbora das compridas e ao chegar à última cortada, fiz um esforço maior e com isso a ponta do facão atingiu o telhado que era baixo e resvalou desviando o seu trajeto atingindo boa parte da falange do meu dedo polegar esquerdo que segurava a abóbora, ficando, apenas, pendurado pela pele. Felizmente não foi total o corte, pois teria sido comido pelos porcos. Louvado seja Deus. Vim correndo para a cozinha e quando a mamãe soube foi logo tomando as providências, colocando o pedaço ainda preso, de volta, foi logo enfaixando com o miolo da babosa e molhando com água fria. Creio que foi o momento em que eu desmaiei por algum tempo, depois voltei ao normal. Não se fez nenhuma providência em dar pontos. Lá ninguém falava sobre isso. A parte decepada ficou, por muito tempo insensível. Mas a natureza foi fazendo com que a sensibilidade voltasse ao normal, inclusive a unha recomeçou a crescer, defeituosa, até hoje. Porém, o dedo ficou normal, inclusive ainda me ajuda muito na digitação com os 10 dedos, desde os tempos em que aprendi, sozinho, a datilografia com um manual, em uma máquina Remington, enquanto estudava na então Escola Batista de Treinamento, nos meus tempos de estudos em Curitiba. Esta habilidade me ajudou bastante nos meus trabalhos nos empregos e também na confecção das tarefas escolares.

       O VEADO QUE NÃO ERA – A nossa infância foi bem marcada pela constante presença do tio Otávio que tinha uma alfaiataria na avenida principal de Orleans. Ele atendia a clientela, porém, a sua mente estava sempre ligada com as caçadas nos nossos matos. Ele chagava com os seus cachorros “veadeiros”, que iriam perseguir os veados que já eram poucos. Esses cachorros perseguiam o faro do animal por onde passava. De manhã procurava os rastros ou vestígios e mostrava para os cachorros que saíam, à toda, seguindo o faro do animal e ganiçando. Certo dia, eu ouvi que os cachorros, depois de muito correrem, estavam, parados bem próximos de mim, em nosso mato, e corri para ver o que era onde estavam os cachorros cercando a vítima. Era um “cachorro do mato” que estava exausto entre as raízes de uma grande árvore. Não pensei duas vezes; peguei um pau e dei fim no coitado. Depois o peguei pelo rabo e assim trouxe o para a casa. Quando o tio Otávio chegou e viu os meus feitos, arregalou os olhos e ficou extasiado. Depois, o Valfredo pegou a nossa máquina fotográfica e tirou uma foto em que aparecem o tio Otavinho, a vítima e eu. Esta foto ainda existe em alguma caixa de relíquias.

       O tio Otavinho também gostava de caçar tatus. Ia para à frente das tocas e esperava, à saída do animal, depois de escurecer para atirar na vítima. Porém, não me lembro que tenha tido algum êxito em caçar algum tatu. Creio que a caça sempre foi mais experta que o caçador.

NO ENGENHO DE FARINHA DE MANDIOCA – Houve numa temporada de inverno em que fui trabalhar no engenho de farinha de mandioca dos Veronezes. Este engenho ficava também às margens do Rio Pinheiros, no Barracão, um pouco abaixo da atafona do Sr. Brugnara. A entrada começava bem junto à estrada onde tinham uma venda de secos e molhados. Descia-se, por uma estrada muito íngreme até chegar ao engenho que era movido pela água captada, no alto da queda d’água. Esta água canalizada era conduzida por vala até chegar à calha que por sua vez iria cair sobre a roda d’água movimentando o engenho. A mandioca era trazida em caminhões e despejada na parte superior e que era arrastada com uma enxada para dentro de um, tipo, barril de ripas com frestas, na horizontal que girava e uma calha d’água caía sobre o mesmo que em pouco tempo ficava totalmente sem casca. Depois estas mandiocas eram arrastadas para o ralador onde, em pouco tempo, virava uma pasta. Esta era colocada em uma prensa e uma catraca também movimentada pela força hidráulica a transformava em blocos que tinham que ser desmanchados e peneirados antes de irem ao forno em que duas pás giravam dia e noite. E depois a farinha era ensacada. Fazíamos uns 50 ou 60 sacos por dia. O engenho não parava. Eram dois turnos de 12 horas cada. Eu pegava ao meio dia e ia até a meia noite. O frio era muito intenso. Podíamos ver bastões de água congelada de uns 50 cms. em baixo das calhas. Depois íamos para o dormitório para nos prepararmos para a nova jornada a partir do meio dia seguinte. Assim trabalhei um inverno inteiro.

       Todo sábado à tarde vinha para passar o domingo em casa, porém à noite já voltava para o engenho.

       Num certo sábado, ao chegar em casa, todos olhavam para mim e riam. Eu não sabia o que era. Depois me disseram que tinha me esquecido de lavar o rosto, pois estava todo branco do polvilho da fábrica de farinha de mandioca.

A TRAGÉDIA DA SERRARIA

Por Valfredo Eduardo

       O papai, após constantes insucessos na agricultura, motivados por secas, terras acidentadas, que eram sujeitas à erosões e fracas ele aventurou-se no ramo madeireiro em pequena escala e para tanto, em sociedade com o tio Eduardo Karp compraram uma serraria movida a roda d´água Esta serraria estava localizada nas terras do italiano Antonio Alberton, o ex dono. Passado algum tempo o Papai comprou a parte do tio e ficamos sós com a serraria, sendo que a parte executiva ficou na minha ‘alta’ responsabilidade, isto é, do serrador. Devia na época, ter uns 15 ou 16 anos de idade. Como a água disponível para movimentação era cíclica, tentamos movimenta-la com motor a óleo diesel, que também não prosperou, voltamos então ao sistema anterior, à água.

Eram serradas madeiras provenientes da nossa própria mata, perobas, canelas, garuvas, pau preto e tantas outras e também serrava-se “à meia,” metade para o dono da madeira e a outra ficava pela serragem, mesmo assim, dadas as condições de penúria da região o retorno financeiro não era nada satisfatório visto que o transporte das toras era feito em carretões puxados por juntas de bois e a madeira serrada era transportada em carros também puxados a boi, e os preços do mercado local nada estimulantes.

Nas proximidades de nossa residência, no meio de uma grota muito funda havia um enorme baguaçu, árvore de uns 35 a 40 metros de altura e de uns 8 a 10 m³, madeira branca de baixa qualidade. Esta arvore de idade provecta, tombou após uma ventania e Papai que não aceitava a ideia de deixar apodrecer, cortamos em toras, arrastamos para fora da grota com uma valente junta de bois, arrastamos as toras todas até a nossa serraria e durante semanas, acordando de madrugada, ia eu abrir as comportas dos dois açudes e por em movimento a serraria e cortar o baguaçu, ao terminar a serragem, as tábuas todas estavam empilhadas e gradeadas dentro da serraria secando e aguardando o transporte para casa e com as quais seria construída a nossa casa nova tão aguardada pela Mamãe.

Entretanto… dias passaram e num domingo, pelas três horas da madrugada, num impulso qualquer acordei e saí fora de casa, quando vi uma coluna de fumaça luminosa, clara, de uns 50 metros ou mais de altura, sem vento, achei estranho, provavelmente seria um incêndio na cozinha de madeira dos velhinhos Alberton que era separada da casa em alvenaria do filho Antônio. Acordei o Arvido, pois dormíamos no mesmo quarto e sem avisar os demais familiares fomos ver de que se tratava.

Ao aproximar do local, era a serraria em chamas, imediatamente abrimos as comportas dos açudes, apanhamos uns baldes, e chegamos, bem perto, pela calha que conduzia a água, jogamos água no incêndio ate o sol raiar, tínhamos apagado o incêndio, mas a serraria e as tabuas já serradas estavam totalmente consumidas.

O incêndio criminosamente provocado, com certeza, e o principal suspeito meses depois cometeu suicídio. Nossos pais e demais irmãos mais novos ao acordarem, estranharam nossa ausência, não tinham a menor ideia do que podia ter acontecido.

Lá pelas oito horas da manhã, de volta para casa, sujos de fuligem e carvão foi espantoso para todos. Papai esperava vender a serraria, pagar alguns compromissos, a Mamãe esperava morar em uma casa mais confortável, mais espaçosa, e, em poucas horas, as expectativas e esperanças…. desapareceram.

A família Purim não costuma registrar datas, mas são fatos que marcaram nossa existência, este é um deles que deve ter ocorrido no final do ano 1951. Mas, Graças a Deus, sobrevivemos e aqui estamos, quase todos, com saúde e muita paz.

IGREJA BATISTA LETA EM RIO NOVO

ORLEANS – SC

       A Igreja Batista em Rio Novo deixou marcas muito profundas em minha vida. Desde a mais tenra infância a igreja tomou um lugar muito especial em minha vida e como na vida dos demais familiares. A nossa casa ficava perto de onde se avistava, lá embaixo, o templo e seus arredores, onde havia muitas laranjeiras que, a seu tempo, ficavam carregadas de frutos e o pasto onde, além de nossos animais iam pastar todos os dias. Como a nossa família era a mais próxima tínhamos a incumbência de zelar do templo, ou seja, fazer a limpeza semanal, bem como tirar o pó com um pano úmido todos os domingos antes da Escola Bíblica Dominical. Em dias de festas, faziam-se brincadeiras de roda e tantas outras no pasto, conforme várias fotos existentes. A Igreja tinha sido organizada pelos imigrantes da Letônia nos anos de 1892. Por conseguinte, seus membros, alguns, ainda eram os imigrantes e de seus descendentes como era o nosso caso. Pois bem, era nosso costume, que, dominicalmente, de manhã, íamos à igreja. Todos iam à pé, não só nós, mas todos descalços, carregando os sapatos na mão. Ao chegar no tempo iam direto para uma pequena fonte em forma de bica (que em leto chamava-se avoatim) onde lavavam-se os pés e calçava-se os sapatos e assim adentrávamos para o templo. A Escola Dominical era só para as crianças e os jovens. Os adultos ficavam numa sala anexa ou  fora colocando as conversas em dia. Depois da EBD havia um intervalo para tomar água etc. e depois todos entravam para o culto. As mulheres ficavam no lado esquerdo e os homens no lado direito. O coro ficava de frente para o auditório com os degraus para cada voz e o púlpito ao lado esquerdo também numa parte mais elevada. Era uma mesa com uma toalha e no meio o suporte para a Bíblia. Em cada lado colocavam vasos de flores uma de cada lado. Na frente para todos ficava o relógio, bem no alto, que batia as horas. E … como custava chegar o meio dia, hora de terminar o culto. Geralmente era dirigido por um dos líderes que eram João Zeeberg, Roberto Klavin ou nosso pai, Otto Roberto Purim (que lá era chamado de seu Artur). Este às vezes trazia uma mensagem falada. Nos tempos mais antigos tudo era na língua leta. Como não tinha pastor local, tínhamos de nos virar na forma possível. Aos terceiros domingos cada um podia ou devia fazer a sua parte que poderia ser um número especial, uma poesia, uma leitura de algum texto que achava que fosse interessante. Houve tempo em que nos visitavam mensalmente, o Pr. Paulo Gailit que residia e pastoreava a Igreja Batista em Laguna que com o tempo foi extinta, o pastor Carlos Ukstin e também depois o Pr. Antônio Domingos Santolin que residiam a seu tempo em Orleans. Tivemos, mais tarde, as visitas do Pastor Paulo Hilquias Homem de Melo que residia e pastoreava a Igreja  em Criciúma, depois a presença do Pr. Renato Salles que residia em Tubarão onde pastoreava a igreja local. .

Os batismos – Para a realização dos batismos, conforme a Bíblia, em que é necessário “muita água”, o riacho do Rio Novo que passava pelo pasto, propriedade da igreja, este era represado que fazia uma linda represa. Os últimos batismos, talvez, por conveniência que não nos recordamos, foi o caso dos nossos irmãos, Valfredo Eduardo, Viganth Arvido e eu, fomos numa caravana com vários irmãos de Rio Novo e batizados no batistério da Igreja Batista de Orleans com outros irmãos daquela igreja. É possível que este seja o motivo se juntar os dois grupos de batizandos. Estes batismos foram realizados pelo Pr. Antonio Domingues Santolin.

Os Natais – A festa do Natal sempre foi muito esperada e prestigiada. A preparação já vinha de semanas antes. Um pinheirinho de verdade e bem grande, era trazido a dois, do sítio dos tios Eduardo e Lúcia Purim Karp, isto é, depois de cortado, amarrava-se uma vara na parte superior um colocava nos ombros a parte inferior e o outro a vara amarrada. Assim vinha-se pela estrada afora, uns seis quilômetros. Por ser um tanto pesado, era revezado pelos companheiros. Ao chegar no templo era empinado e enfeitado com correntes de papel colorido, com enfeites, tais como, nozes coloridas e as velas que davam toda a beleza que eram colocadas em um suporte que com uma mola eram fixadas nos galhos do pinheiro. Houve anos, na nossa infância em que as crianças ficavam em uma sala anexa e quando tudo estava pronto, lâmpadas acesas e as do pinheirinho, a líder das crianças entravam com elas em fila para o tão esperado momento. Uau…! Lembro-me de que certa vez uma corrente de papel pegou fogo, porém foi debelado, no mesmo instante pelo jovem Roberto Cruz que estava mais próximo. A iluminação do auditório era de lampiões a querosene. O programa constava sempre dos nossos tradicionais hinos de Natal e também poesias. Geralmente, dava-se um jeito de ter um pastor ou pregador. Lembro-me do então estudante Vinicius Paegle que vinha com mais irmãos de Orleans. Depois do programa havia a distribuição de balas e bolachas em sacos de papel para cada criança que eram chamadas pelos nomes, em voz alta, pelo nosso pai. Aí era aquela festa. Lembro-me de que vinha gente de longe e enchia a “igreja dos russos”. Porém, no domingo seguinte ninguém mais aparecia.

Os Aniversários da Igreja– Em todos os 20 de março comemoravam-se o aniversário de organização da igreja. O templo era enfeitado com palmitos trazidos das nossas matas. Também era trazido, a dois, um harmônio portátil da casa dos Zeeberg. O mesmo era portátil que ficava em uma caixa retangular e era envolvido em um cobertor e o mesmo era amarrado por cordas em uma vara em que um na frente e outro atrás, traziam para os eventos mais importantes, tais como, natais e os aniversários da igreja. Era tocado pelo filho, o jovem Gustavo. O mais antigo aniversário que me lembro foi quando se comemorou o seu Cinquentenário, em 1942. Consta das fotografias da efeméride a presença dos pastores: Dr. A. Ben Oliver, João Emílio Henck, Jacó Inkis, Paulo Gailit, Carlos Ukstin, Carlos Stroberg e o Missionário Patrick Sulyvann e Albert Eihmanis. A programação durou, creio, uma semana inteira. Houve grande envolvimento de todos, homens e mulheres preparando as refeições para todos e tomando todas as providências necessárias. Existem fotografias para quem estiver interessado em ver.

Anualmente o aniversário da igreja era comemorado quando vinham, especialmente os irmãos de Orleans e de outros lugares.

Os piqueniques – Preservando as tradições e costumes da Letônia eram comemorados os Dias de 6 janeiro, Páscoa, 24 de junho, o Dia de São João. Nesses dias faziam-se piquenique na casa de alguma família da igreja. Cada família levava o seu farnel ou farofa para o lanche do dia. Lembro-me dos piqueniques no Rodolfo e Ana Maisin (leia-se Maissin) quando ainda residiam no Rio Molha onde tinham uma atafona, no Guilherme Balod, João Zeeberg no Barracão, no João Leepkaln no Rodeio das Antas, no Roberto Klavin na Invernada, no Carlinho Leepkaln na Coxilha Seca e outras localidades. Constava de um momento de conversas, e de brincadeiras de roda no gramado. Acontecia sempre um momento devocional em que eram mencionados os fatos bíblicos alusivo ao dia.

Desastre inesquecível– Numa das comemorações do aniversário da igreja os irmãos de Orleans lotaram um caminhão com os bancos na carroceria e participaram trazendo muita alegria para nós. Entretanto, o dia estava muito chuvoso e depois do programa e despedidas, à tarde, o caminhão, ao descer uma ladeira muito escorregadia, o motorista ao invés de encostar mais pelo lado direito, isto é, do barranco, não se sabe ao certo, o fato é que o caminhão com todos os seus ocupantes foi capotando, pelo despenhadeiro abaixo, onde havia árvores que, não sei se seguraram o caminhão ou fizeram com que muitos ficassem profundamente feridos. Deste acidente tivemos o falecimento das irmãs Fany Paegle, Hilda Elbert Slegmann.

O sepultamento aconteceu no cemitério de Orleans, ao anoitecer, pois aguardava-se a presença de um dos filhos de d. Fany, o Edgar, que residia em Urubici. Lembro-me do momento em que ele chegou atravessando a multidão e foi direto para ver a mãe na urna funerária. Os funerais aconteceram quando já era bem de noite.

Esta notícia foi muito lamentada e bastante divulgada. Dizem que até saiu no Repórter Esso que era irradiado do Rio de Janeiro.

O Cemitério– A área reservada para os sepultamentos dos falecidos fica bem no alto da propriedade da igreja, isto é, uns trezentos metros do templo. Recordo-me dos tempos em que o mesmo foi cercado por um muro de alvenaria. Depois, como final da obra, foi confeccionada uma cruz de cimento de uns 4 metros de altura que foi pintada de preto. Recordo-me da solenidade do término e da dedicação desta obra para Deus. Lembro-me da palavra do irmão Felipe Karkle muito oportuna para o memento. O seu filho irmão Zefredo me contou recentemente que ele trabalhou muito conduzindo água em latões colocados em carros de bois para estas construções. Para cada família era reservada uma área. Em princípio, cada uma tinha a incumbência de conservar limpa a sua área. A nossa era bem no canto à direita de quem entrava pelo portão. Lembro-me bem dos sepultamentos dos nossos avós Jahnis (João) (pronuncia-se Yanis) e Lisete Rose Purim. Nunca me esqueço do choro do nosso saudoso papai depois do sepultamento da vovó Lisete. Outro funeral que se tornou inesquecível foi o do irmão Carlos Zeeberg. Ele era muito procurado pelos vizinhos, pois praticava a hidroterapia, isto é, a cura pela água, baseada nos livros do Dr. Kneip. Tinha os dentro de sua mochila e quando saía de casa a chamado, às vezes demorava semanas, pois os vizinhos, ao saberem de presença dele, pediam para que os atendessem também e assim ia de casa em casa. O seu falecimento foi motivo de tristeza e reconhecimento de gratidão de muita gente. Faleceu com idade bem avançada. Para os seus funerais o templo da igreja ficou totalmente lotado. Um outro sepultamento foi o do jovem Júlio Burmeister. Jovem promissor, filho único de Adolfo e Ema. O seu falecimento, ao que parece, se deu motivado por uma pneumonia mal tratada. No domingo anterior estava na igreja e no outro estava numa urna funerária. Lembro-me daquela tarde, em que, em frente de nossa casa só se viam guarda-chuvas descendo para a igreja onde depois do culto em que falou o nosso pai, foi conduzido para cemitério. Os seus pais choraram muito a ausência do filho, bem como todos os que o tinham em alta consideração.

Último templo – O segundo templo construído de alvenaria, porém, a estrutura era de madeira que com o tempo estava se deteriorando, causando perigo de desmoronamento. Então, quando eu já estava estudando em Curitiba, lá pelo ano 1957 (?) foi feito um contrato com uma firma em que o templo antigo foi demolido e construído um bem menor pela mesma, pois as expectativas para o futuro eram bem pequenas.

Últimas famílias – Por ser uma região topograficamente bem acidentada e sem recursos, tais como luz elétrica, estradas, socorros emergenciais etc. as famílias foram se transferindo para outras regiões, tais como Orleans, Urubici, Pato Branco como foi a mudança da família Karkle (Felipe). A igreja tinha programado fazer um culto de despedida em sua residência, à noite, quando. em meio ao mesmo, chega o caminhão para fazer a mudança com tudo, inclusive os familiares. Assim é que quando tudo foi colocado no caminhão, o mesmo saiu e o povo ficou lá dando adeus àquela família. O último a encerrar as atividades da Igreja Batista foi o nosso saudoso irmão Alberto Edmundo Purim. Depois disto houve a transferência da propriedade para a Convenção Batista Catarinense. Hoje a Associação Batista Leta do Brasil está planejando construir um memorial no lugar onde, por décadas, funcionou a Igreja com muitos eventos históricos e de onde saíram muitos homens e mulheres de valor, para a glória de Deus.

MINHA VOCAÇÃO PASTORAL – Lembro-me que eu sempre fui bem chegado à coisas espirituais: igreja, hinos e me imaginava pregando a Palavra de Deus. Quando houve a Assembleia da Convenção Batista Catarinense, no início do ano 1954, em Urubici que fica na Serra Catarinense. Alguém teve a iniciativa de arranjar o caminhão dos Karp e com seu filho, o nosso primo Alberto e o Durval Paegle de motoristas. A carroceria com bancos de tábuas e com um bom número de irmãos da Igreja de Rio Novo e de Orleans, saímos de Rio Novo, creio, na parte da manhã, anoitecemos e passamos a noite na estrada, chegando em Urubici no dia seguinte pela manhã. Fizemos o trajeto de Orleans, Braço do Norte, Armazém, Rancho Queimado, Bom Retiro, Quebra Dentes, Panelão e finalmente o Vale do Rio Canoas onde fica Urubici. Lá encontramos o Arvido que já trabalhava na oficina do Osol que começava os labores de mais um dia. Fomos logo nos acomodando, cada um onde era arranjado para ficar os dias da Assembleia. Foram dias maravilhosos. Chegavam irmãos e pastores de várias partes do Estado e também os irmãos e pastores Werner e Walter Kaschel. Este foi o orador das reuniões. No domingo, pela manhã, depois da mensagem fez o apelo para alguém que sentisse a vocação para o ministério da Palavra que levantasse a mão. Foi o momento da minha manifestação pública da disposição de servir ao Senhor em sua Seara. Terminada a reunião procurei falar com o Secretário Geral do Campo Batista Catarinense, Missionário Adriano Blanckenship do meu desejo de estudar para o ministério. Ele lembrou que em Curitiba já estudavam o Alfon Kruklis e Arvido Auras e que, por certo teria uma bolsa de estudos para mim. Depois que chegamos em casa, passados alguns dias recebemos dois telegramas de que poderia ir para os estudos em Curitiba. Agora era hora de comprar e de preparar a mala com um enxoval. Num certo dia, eu de bicicleta e a Mamãe na garupa fomos com este objetivo para Orleans. Compramos a mala, terno e as outras coisas, inclusive a passagem para Florianópolis. Num determinado dia, de manhã às 7 horas encostava o ônibus da Rápido Sulino que começava o seu trajeto em Lauro Müller. Lá estava eu me despedindo da mamãe, o Aberto e mais alguém. Cheguei em Florianópolis já ao anoitecer, pois as estradas eram sem qualquer conservação. Em Florianópolis aproveitei a oportunidade para tirar a minha Carteira de Reservista de 3ª Categoria, pois houve um decreto presidencial de que os jovens dos municípios carboníferos eram isentos. Lembro-me de que na repartição tive que fazer o juramento à Bandeira com mais alguns. Todas as janelas foram fechadas e todos os funcionários paralisaram o seu trabalho e assim foi. Logo saí com o Certificado em mãos. No dia seguinte, tomei o ônibus da Rápido Sul Brasileiro com destino à Terra dos Pinheirais. Lembro-me que, numa parada, encontrei no ônibus da Catarinense o casal Leons Kruklis e sua noiva Naime que depois se casaram e formaram uma linda e abençoada família. – Ao chegar em Curitiba, eu apenas tinha o endereço da Escola. Mas Deus foi maravilhoso que ao descer do ônibus, na agência na Praça Tiradentes, em que vi passando, o Pr. Walter Kaschel. Logo o abordei dizendo que estava chegando para estudar. Ele prontamente se dispôs a me levar, de lotação, à casa do Diretor, o Missionário Dr. Lester Bell que morava na esquina das Ruas Iguaçu com Buenos Aires. O pior é que ele nada sabia dos telefonemas que havia recebido com a garantia da vaga em Curitiba. Entretanto, não fez nenhuma objeção. Assim é que daquele local me dirigi à Escola, à Rua Silva Jardim, que naquela época era nº 1887, hoje é 1859. Lá me encontrei com o jovem também estudante naquela escola o Alfon Kruklis e a mãe dele, irmã d. Natália que era a cozinheira e lavadeira de roupas dos alunos. À noite fomos com o Dr. Lester Bell ao Colégio Novo Ateneu, à Rua Emiliano Perneta para a minha matrícula no ginásio. Lá me encontrei com o nosso grande amigo o Pastor Paulo Gailit, conhecido dos tempos da minha infância em que ele era pastor em Laguna e que nos visitava em Rio Novo. Ele fez questão de me apresentar ao Diretor dizendo que era de família e que muito prometia (palavras que ele sempre gostava de referir-se às pessoas). O tempo do exame de admissão já tinha passado, porém, fiz as provas em tempo especial e fui aprovado (ou empurrado) com as notas mínimas. Assim logo comecei os meus estudos. Da roça para o ginásio, estudando latim, português, matemática, geografia, história etc.

       Na Escola Batista de Treinamento das 8 às 10 horas eram as aulas de Bíblia. Das 10 até às 12 horas era trabalhar na horta nos fundos ou serrar e rachar lenha, pois naquele tempo não havia fogões à gás.

       Já tinha me encontrado com o Valfredo que já frequentava a Igreja do Cajuru onde o Pr. Gailit era pastor. Fui logo apresentado para a igreja e com a sua forte voz, com as palavras: “quem aspira o ministério, excelente obra deseja”, dizeres do apóstolo Paulo. Assim aos domingos era o Cajuru, onde fiz boas amizades que até hoje ainda alguns se lembram. Havia a escala para os almoços para os outros estudantes, nas casas das famílias que preparavam com muito esmero e fartura. No Cajuru cantei no coro, fiz parte da então União de Mocidade e fiz muitas visitas de evangelismo. Por tudo, louvado seja o nosso maravilhoso Deus que esteve à frente de tudo abrindo as portas e dirigindo os meus passos.

       Logo que cheguei em Curitiba escrevi carta para o Tio Reynaldo comunicando este fato.

       Passados alguns meses chegava em Curitiba também o Arvido que com alguma dificuldade conseguiu emprego de ferreiro na grande oficina da Transparaná concessionária da Willys Overland que fabricava os JEEPs. Depois passou a mecânico e depois de passar por todas as seções passou a chefe da oficina.

       Numa das férias o Tio Reynaldo veio nos visitar e ficou encantado com a cidade. O Valfredo, em contato com o irmão Misael Cardona de Aguiar, descobriu uma propriedade à Rua Jacob Bertinato, 154, e o tio se interessou a comprou e mais tarde os demais lotes que foi o centro de nossa família com a chegada dos Purims, papai, mamãe, Carlos Ademar, Leni e Lili. Foi momento muito emocionante, quando o caminhão da mudança chegou. Isto aconteceu em 14 de setembro de l960, noite memorável. Nisto eu já tinha terminado o ginásio e estava concluindo o Clássico. Estava como responsável da loja/depósito de livros da Casa Publicadora Batista na galeria do Edifício Asa com a Carlos de Carvalho.

       Mas como estava terminando o Clássico, era tempo de ir no ano seguinte para o Seminário do Sul no Rio de Janeiro. Foram meses muito gostosos com os pais e as crianças, Carlinhos, Leni e Lili e os demais que ficamos com saudades mútuas ao partir para o Seminário.

MINHAS FÉRIAS – Teria muito para escrever sobre as minhas férias em casa com os pais ainda em Rio Novo. O nascimento da Lili em 1956 quando tive que buscar, de madrugada, escura e chuvosa, a parteira d. Hilda Zeeberg. Tive muitas oportunidades de fazer trabalhos de férias nas igrejas de Criciúma, Mãe Luzia, Tubarão. Também passei umas férias no Norte do Paraná. Trabalhei com as crianças fazendo EBFs, mensagens e visitas. Comecei em Marialva me hospedando na casa do sítio dos Marques. Hoje ainda são lembrados aqueles dias pelo irmão Jarbas, na Igreja do Bacacheri. Depois trabalhei na Igreja de Mandaguari, a seguir passei por Arapongas onde o Arvido era o chefe da oficina da Transparaná, ele e Edith recém casados. Depois, indo a Londrina, o Pastor Elizeu Ximenes me encaminhou para a Congregação em Guaravera. Quando voltei para Curitiba encontrei o Tio Reynaldo hospedado na pensão da irmã Maria Túlio onde moraram meus irmãos, André Zacharov e outros jovens estudantes.

       Também ficam de fora as minhas férias do Seminário, aqui em Curitiba, na 1ª de Paranaguá, 1ª de Londrina, onde passei umas férias inteiras substituindo o Pastor Dr. Antunes de Oliveira. Outras férias passei no Estado do Espírito Santo onde fiz trabalhos em várias igrejas no interior.

Estes são apenas alguns “recuerdos” que precisam ser acrescentados e melhorados para deixar para a posteridade que está surgindo. .

TIA LÚCIA

Algumas recordações de João Reinaldo

e Viganth Arvido Purim

A tia Lúcia deixou marcas profundas na minha vida e também na de meus irmãos. Era casada com o Eduardo Karp que também passou a ser tio. Moravam em uma verdadeira fazenda, às margens do Rio Carlota e da estrada que ia para a localidade chamada Invernada e mais adiante o então distrito de Grão Pará. Ficava a uns quase 6 quilômetros da nossa casa.

Era no terreno dele que ficava em frente situava-se casa que tinha sido da família Match, transformada em escola onde meus irmãos Valfredo e Arvido que tiveram as primeiras aulas.

Para se chegar lá, às margens, tínhamos que passar por muitas propriedades agora habitadas por italianos, que tinham sido de famílias letas como Leepkaln, Stekert, Karklin, Sahlit e outras que tinham se mudado para outras localidades. No nosso tempo ainda morava a família Balod. Sr. Guilherme, d. Matilde e a filha Lídia. Fazia divisa com o nosso terreno no final do nosso morro, onde a estrada que vinha de Orleans se dividia. A parte da esquerda ia para Brusque do Sul e a direita para o Rio Carlota.

O tio Eduardo tinha de tudo, muitas vacas dando leite, carneiros que davam lã, galinhas e patos. Ainda falando de vacas e leite, entre outras modernidades a tia Lúcia tinha uma desnatadeira marca De Laval. Era alimentada com 20 ou 30 litros de leite cru e, acionada por uma manivela, e ai por uma torneira saía a nata ou creme de leite e por outra o soro sem gordura nenhuma. Depois de usada era necessário desmontar todo o maquinismo. Eram centenas de peças para ficarem limpas e prontas para uso no dia seguinte. Depois de estabilizar, a nata era colocada em outra máquina para fazer a manteiga também a manivela que fazia um ruído parecido de uma betoneira. Também do leite a tia Lúcia fazia queijos que eram vendidos e enriqueciam os cafés da manhã.

O pasto era realmente lindo, pois as terras eram planas. Chegava às margens do Rio Carlota onde gostávamos de pescar. Atrás da cozinha havia um poço de onde se tirava água e mais para trás uma enorme horta onde eram cultivadas hortaliças de toda espécie. Antes de chegar à casa deles tínhamos que atravessar uma ponte de madeira sobre o Rio Carlota que dava o nome à região. Neste rio, podia-se pescar carás, traíras e outros peixes. Infelizmente, com a abertura das minas de carvão em suas cabeceiras, as águas foram contaminadas, matando toda espécie de vegetação em suas margens e peixes. Pois bem, depois de se atravessar a ponte, deixava-se a estrada e subia-se para a propriedade da tia Lúcia.

Eles não eram ativos na Igreja, mas sempre que possível colaboravam, inclusive com o pinheirinho usado para enfeitar o programa de Natal que era trazido pelo pessoal da Igreja da propriedade deles.

Eles tinham muita coisa: um lindo automóvel, limousine, marca Oldsmobile ano 1936 que vivia mais na garagem por falta de motorista; andava-se muito de charrete. Outro item que indicava a situação econômica era uma máquina de escrever Remington. Também eles eram os únicos que tinham um rádio movido a bateria. Este rádio ainda está de posse do nosso irmão Arvido como relíquia histórica. Para lá íamos, quase todos os domingos à tarde para ouvir o rádio e especialmente o “Repórter Esso”. A ida à casa da tia Lúcia era um passeio. Íamos e voltávamos a pé.

A tia Lúcia era perita na cozinha e sendo do que eu mais apreciava era a Torta de Requeijão chamada “ Karasch” entre outras tantas coisas gostosas.

As crianças adoravam as bolachas e outras iguarias que ela gostava de fazer.

O tio Eduardo possuía uma venda (uma loja do interior) que tinha de tudo, especialmente tecidos para os trabalhadores da roça, secos e molhados, ferramentas. Era o tipo de venda do interior que só não vendia cachaça. Um detalhe é que ela permanecia fechada. O freguês tinha que bater palmas e o tio dizia: “espera um pouco…” e, se estava tomando café, acabava, às vezes, esquecendo do cliente…

Outra atividade do Tio Eduardo era ser o fotógrafo da comunidade. Possuía uma máquina de fole, cuja imagem aparecia de cabeça para baixo, era centralizada e focalizada pelo fotógrafo que cobria com um pano preto sua cabeça, costas e a própria máquina para poder ver a imagem. Assim a grande parte das fotos históricas que temos foram tiradas por ele.

Ele era de uma cultura acima da média, pois além do leto ele falava o inglês e (alemão?) a história dele também daria mais um capítulo.

A tia Lúcia também atendia os doentes com remédios homeopáticos. Ela mesma preparava as dosagens que eram vendidas em vidros de água, prontos para serem tomadas, às colheradas, conforme orientação dos livros. E com isso muitos “milagres” devem ter acontecido.

Passados alguns anos eles compraram um caminhão Chevrolet Gigante ano 42. Algo que ficou gravado em nossa memória foi quando ao descer o morro dos Purim, bem acima da entrada de nossa casa, quebrou o cubo de uma roda traseira. E por precaução o tio Eduardo pediu para que alguém de nós ficasse cuidando do mesmo, dia e noite, para que ninguém mexesse nele. Estes “poucos dias” chegaram a uns três meses! À noite levávamos cobertores para dormir na cabine. Quando terminava o turno de um o outro assumia.

Eles tiveram dois filhos O primeiro chamava-se Alberto que se casou com a jovem Elfrida, filha de Guilherme e Otília Leepkaln. Todos já falecidos. Quando o Alberto era adolescente nasceu a menina que se chamou Alina. Esta mora atualmente com seus familiares em Cocal do Sul, Santa Catarina.

A tia Lúcia, depois do falecimento do tio Eduardo, veio morar em Curitiba junto dos familiares, inclusive do tio Reynaldo. Assim os três irmãos viveram juntos por vários anos.

Ela gostava muito de ler e de contar suas histórias e experiências da vida.

Vale lembrar que no tempo que morou com a família em Curitiba fazia crochê. Era exímia nisto. Temos certeza de que muitas peças lindas de colchas, rendas em toalhas de mesa e panos de prato ainda estão com a família. Nesse tempo também passou alguns períodos no Rio de Janeiro. Lá, toda vez que acabava o fio, ela pedia, “preciso de linha, quero trabalhar… Não gosto de ficar parada.”

Lá no Rio, certa ocasião em que ela estava sozinha em nossa casa, um parente ligou para falar com alguém. Ela atendeu dizendo: “Não tem ninguém em casa” e bateu o telefone. Rs. Passado algum tempo voltou para Curitiba e finalmente foi morar com a filha Alina em Cocal do Sul em Sta. Catarina onde faleceu com idade bastante avançada.

História da Igreja Batista de Rio Novo – Por Jahnis Inkis e Juris Frischembruder

Colônia Leta do Rio Novo

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História

Da Igreja Batista Leta de Rio Novo

Autor: Jahnis Inkis Senior/Juris Frischembruders
Publicada na Revista “Kristigs Draugs”(O Amigo Cristão) Números 09,10 e 11 nos meses setembro, outubro e novembro de 1.940.
Traduzido para o Português por V.A. Purim.

Prefácio

Li no Jornal Batista, publicação periódica da Convenção, que a Igreja Batista de Rio Novo, a mais velha das irmãs entre as Igrejas Batistas Letas estava se aprontando para comemorar os seus 50 anos, isto é, o seu jubileu de Ouro, e naquele momento me veio a mente que durante muitos anos tenho em mãos material referente a história desta igreja. Este material, desde há sete anos atrás, foi coligido e cuidado com carinho pelo irmão Juris Frischenbruders.

O irmão Juris mandou este material esperando que publicasse nas páginas da Revista “Kristiga Draugs” para que todos tivessem pleno conhecimento destes fatos.

De boa vontade teria feito mas, lendo este…

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Uma nota sobre a grafia

Colônia Leta do Rio Novo


Em sua forma não flexionada, no modo nominativo, os substantivos em leto terminam com a letra “s”. Assim, Robert Klavin irá normalmente assinar “Roberts”; Artur Purim poderá assinar “Arturs”, e assim por diante.

Para complicar, aqueles eram tempos de transição, e não havia muita consistência em como as pessoas escreviam nomes e sobrenomes. Reynaldo Purim, o destinatário das cartas arquivadas neste sáite, é chamado alternadamente de Reini, Reinis, Reinaldo, Reinold, Reinolds, Reynold, Reynolds, Reynaldo, Reynold, Reynoldo ou variações ainda mais improváveis dessas mesmas raízes. Artur às vezes se diz Arthur ou Arthurs, Ludvig pode aparecer como Ludwig ou Ludovico, Lisete como Lizete, Lisette ou Lisetta, e assim por diante.

A mesma falta de consistência afeta a grafia de sobrenomes. Leiman pode aparecer como Leimann, Leimanis, Leimans, Leimanns; Feldberg pode ser Felberg, Feldsberg, Feldbergs, Feldsbergs; Klavin pode vir como Klavim, Klawin ou Klavins; Purim como Purin, Purens ou Purins; Rose, como…

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